Capítulo 6

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Fiquei encarando a parede da cela por o que pareceu uma eternidade, ainda processando o que tinha acabado de acontecer, o que ele queria comigo que o fez me tirar da cadeia? Seria engraçado ver o desespero dele, devo ser seu último recurso, que situação.
 Olhei envolta da cela, e notei uma pequena pilha de roupas em cima da cama, eram as mesmas roupas de quando eu fui presa, ainda me lembro desse dia, a festa de Lady Dismtchz estava enfeitada, até demais, eu e os meus rapazes foram contratados como segurança, nada de mais, um trabalho pequeno, todos os convidados já tinham chegado, e digamos que eu estava ficando entediada de ficar parada em um só lugar, então fui dar uma volta, Lady Dismtchz tinha uma mansão luxuosa, com corredores e mais corredores com centenas de quartos, a grande maioria pertencia aos empregados, que eram muitos, a Lady sempre gostou de ostentar e de mostrar os luxos que seu dinheiro podia comprar, eu já estava longe do salão principal, andando por um desses corredores luxuosos e exageradamente altos, com portas grandes, a última coisa que esperava ver nesses corredores era o corpo da própria Lady, por isso demorei um pouco para ter uma reação.
 Eu me agachei perto do corpo para analisar a cena do crime, o sangue ainda estava fresco, e a arma, estava do lado do corpo, uma faca de cozinha.
 Peguei a arma examinando a mesma, esse foi meu erro, deveria ter deixado a arma ali, segundos depois de eu ter pego a mesma, ouvi um suspiro surpreso ali, eu me virei apenas para ver um casal, assustados com a cena, depois disso, os dias que se seguiram foram os do meu julgamento e do julgamento dos meus colegas, claro, fomos todos declarados culpados.
Essas memórias foram lentamente se dissipando, como névoa, eu olhei para as roupas, percebendo que eu só estava às encarando por um bom tempo, decidi me vestir logo.
O terno escuro estava um pouco largo, sinal de que eu com certeza emagreci nessa prisão, o que não me surpreende, não fiz questão de colocar a gravata, nem as luvas brancas, que estavam um pouco sujas com sangue.
 Assim que terminei de me vestir ouvi leves batidas na grade da cela, me virei para ver quem ou o que era, não era uma, mas sim duas pessoas, Lilian e Bettany, pelo jeito vieram se despedir, ou apenas estavam voltando do almoço e acabaram me encontrando ali.
Bettany, vendo que eu estava com uma roupa diferente, percebeu a situação e sorriu fracamente, Lilian cruzou os braços e forçou um meio sorriso.

- Então...já vai saindo? - Bethany disse se aproximando - Nós viemos mais cedo do almoço.

- Ainda bem...se não a gente não ia conseguir se despedir.

Lilian disse, apesar de ser a menos sensível de nós três, ela é a que mais demonstrava estar triste, passando a mão no rosto tentando conter as lágrimas, Bettany estava com os olhos marejados, contendo as lágrimas como podia.
A mesma me puxou para um abraço apertado, logo senti Lilian se juntando ao abraço, retribuí o gesto de carinho, apreciando os últimos momentos com minhas únicas amigas e companheiras de cela em todo esse lugar medonho.

- Vamos sentir sua falta…

- Também vou sentir falta de vocês Bett. 
                                                                                             -

A nossa despedida foi curta, não tenho ideia se um dia elas vão sair desse lugar terrível, nem se um dia vão sair, analisando os fatos, consigo ver que minha saída está sendo um pouco injusta com as duas.
 Olhei para cima, observando o teto pálido do corredor, dois guardas me acompanhavam, eles olhavam fixamente para frente.
“Disciplina e punição”, repeti mentalmente as palavras tema da prisão, as palavras estavam escritas em uma placa de bronze logo acima da porta de entrada da prisão, o prédio com certeza fazia jus à essa palavras, considerando o que eu vivi aqui.

 Pela primeira vez eu andava por esses corredores sem estar algemada, eu não sei se o que eu sentia era medo ou liberdade, quando saímos para a entrada da prisão percebi a limusine preta parada na frente do portão, as barras altas de metal brancas rangeram enquanto abriam, os guardas que me levavam pararam um pouco frente do portão, Arkire se aproximou pelo lado, pegando meu braço, os dois guardas ficaram em posição de sentido e se afastaram, meu olhar estava fixo na limusine, engoli em seco, a ansiedade crescendo em meu peito.

- Karma? Você não parece muito animada para alguém que está saindo da prisão…

A voz de Arkire me tirou de meus pensamentos, levantei o olhar para seu rosto, forçando um sorriso despreocupado.

- Eu estou animada sim, é só que...

Voltei a olhar o longo carro preto que me esperava, sua pintura brilhava na luz do Sol, eu iria entrar no veículo e nunca mais seria vista.

- Eu queria muito deixar esse lugar...só não queria que fosse por causa dele.

Ouvi Ark respirar fundo, senti seu dedão subir e descer em meu braço, uma forma de carinho discreta, embora seu rosto estivesse sério seus olhos diziam "vai ficar tudo bem", e eu acreditei nisso.
 Ele começou a me conduzir até o veículo que eu tanto temia, assim que chegamos perto, o motorista desceu e veio abrir a porta, Ark soltou meu braço, olhei para ele uma última vez, ele se permitiu um sorriso gentil e saiu para entrar de volta no prédio da prisão.
 Suspirei e entrei no veículo, sentando em um dos bancos de couro, a ansiedade crescia cada vez mais.
 Vários cenários passavam pela minha cabeça enquanto o motorista ligava a limusine, mas em todos, ele queria cobrar sua dívida comigo.

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⏰ Last updated: Oct 10, 2020 ⏰

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