Guerra, uma guerra terrível I

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Pov Peeta


Escuro, muito escuro. Tudo o que vejo é o breu, me localizo pelo som dos passos e tento não me concentrar no cheiro de putrefação misturado com amônia. Cerca de 15 soldados estão nesse túnel, objetivo: entrar na mansão do Snow. Estive lá muitas vezes, e numa das primeiras delas conheci Dill. Esse é meu real objetivo, resgatá-la.
Talvez não tenha o perfil de príncipe encantado como Jace ou Finnick, mas não desisto fácil e por quem vale a pena, não desisto por nada.
— Falta muito? - ouço a voz de Fally perguntar - Minhas pernas já estão doendo.
— Mellark estamos andando há horas nesse esgoto - alguém diz.
— Pararemos em breve - digo - Mas não agora, é perigoso ficar aqui.
— Se é perigoso por que nos mandou pra cá? - outra voz surge.
— Não há caminho seguro para a mansão - digo.
— O que faz você pensar que o esgoto pode ser perigoso?
— Sabem quem foi Finnick Odair? - pergunto.
— O garoto?
— Não idiota, o pai dele, o vitorioso - Jeguer diz, ele é mais velho que todos nós, possivelmente lutou na primeira rebelião - Ele morreu nos esgotos para proteger...
— Minha mãe - digo.
— Para proteger Panem - Jeguer diz - E consequentemente protegendo Katniss, protegeria Panem.
— E o garoto? - alguém pergunta.
— Ele não passava de um simples feto quando o pai morreu - Jeguer diz.
— Outros morreram nos túneis - digo.
— Mas Finnick foi a ferida mais difícil da guerra cicatrizar - Jeguer diz - Até hoje as vezes ela sangra.
— Ele é um exemplo - digo - Não dos perigos do túnel, mas que a vida, mesmo que difícil pode ser gratificante.
— Mas ele morreu.
— Ele morreu por aquilo que acreditava - Jeguer diz.
— Temos de prosseguir - digo e ninguém reclama em continuar.
Caminhamos mais uns 5 quilômetros em completo silêncio. Vejo a escotilha e sinto o sorriso em meu rosto. Subo a escada e quando abro a escotilha ela está lá.
— Demoraram - Tigris diz.
— Acabaram parando - digo - Mas aqui estamos.
Lentamente soldados saem do esgoto.
— Você consegue me por lá dentro? - sussurro pra Tigris.
— Até os gramados - ela diz - Mais que isso não consigo.
— Será o suficiente - digo.
— Lembre-se Peeta, apenas 3 poderão ir com você - ela diz.
— Eu sei - digo - Mas por hora, pode nos arrumar um lugar pra ficarmos?
Ela sorri de um jeito diferente, para não falar estranho.
Seguimos ela até seu ateliê, vamos por becos, e entramos pela porta dos fundos. O lugar não é grande, os soldados tentam se ajeitar, Tigris nos dá comida enlatada.
Quando pegam no sono puxo Jeguer, Fally e Hawthorne. Meus 3 melhores soldados.
— Preciso que apenas vocês 3 invadam a mansão comigo, os outros montarão guarda - digo.
— Senhor acho melhor eu montar guarda - Hawthorne diz.
— Por que? - pergunto.
— Não sei se me cabe o cargo - ele diz.
— Soldado não temos tempo - digo - E com a sua ajuda podemos nos infiltrar no prédio.
— Eu não posso - ele diz.
— Você esteve no grupo principal da primeira rebelião - digo - lutou ao lado dos meus pais, o que o tornaria incapaz?
— Não posso lutar ao lado do filho de Katniss - ele diz - Acho que já ajudei demais sua família.
— O que quer dizer com isso? - pergunto.
— Primeiro sua irmã...
— Minha irmã? Viu a Mira enquanto estava no 12?
— Sim, e não foi uma boa recepção.
— Como ela está? - pergunto.
— A criança nasceu - ele diz - Ela estava bem, seus pais também.
— Minha sobrinha nasceu - digo e por alguns segundos imagino como ela é.
— Por favor não me mande pra aquela mansão - ele diz.
— Por que não pode fazer parte do meu grupo? - pergunto.
— Não suportaria receber ordens de um Peeta Mellark - ele diz.
— O que aconteceu há 25 anos? - pergunto.
— Talvez há 29 - ele diz.
— O que quer dizer? - pergunto.
— Katniss me trocou pelo garoto do pão - ele diz.
— Não sei o que dizer, mas não quero discutir, principalmente se for menosprezar meu pai - digo.
— Por que vocês defendem tanto o padeiro? Você é um soldado, deveria querer um pai a altura - ele diz e suas palavras fazem cócegas aos meus ouvidos, eu merecia algo melhor?
— Você disse isso para Mira? - pergunto.
— Sua irmã se orgulha do cara sujo de farinha - ele diz.
Eu me orgulho do meu pai, mesmo que as vezes ele não tenha o trabalho mais prestigiado do mundo mas é o que o deixa feliz depois e tudo que passou.
— Suas palavras são mais venenosas que a floresta do massacre - digo.
— Stell acorde - digo - Você vai na missão. Hawthorne você monta guardas, sobre ordens do Weeler.
Cada um vai pro seu canto para descansar. Sento e encosto minha cabeça na parede, minhas duas mão passeiam freneticamente pelo meu cabelo e meus pensamentos não entram em ordem. Fally se senta ao meu lado.
— Você está bem? - ela pergunta.
— Só estou um pouco nervoso - digo - Pode dormir, sairemos antes do amanhecer.
— Estou bem - ela diz.
Ficamos em silêncio por um tempo.
— Por que eu? - ela pergunta.
— Como assim? - pergunto.
— Por que me escolheu? - ela pergunta - Sou mulher, uma das mais fracas, das menos ágeis.
— Mas a mais inteligente - digo - Você cresceu no 3, e adquiriu todo o conhecimento necessário para ser o próximo Beete. Acredito que você reconstruirá a tecnologia de Panem num futuro, por que não me ajudar a invadir a mansão?
— Acha tudo isso de mim? - ela pergunta.
— Acho - digo.
A mão dela ficam sobre a minha, e eu não tenho reação. Olho para ela, e mesmo no escuro consigo ver seus olhos azuis, fios de seu cabelo caem sobre seu rosto, nos escuro não consigo distinguir a cor, mas sei que são vermelhos.
— Soldado Fally... - digo.
— Me chame de May - ela diz.
— Eu realmente prefiro Soldado Fally - digo.
— Eu não te entendo - ela diz.
— Acha que estou apaixonado por você? - pergunto.
Ela dá um sorriso amarelo.
— Era de se esperar - digo - Mas a verdade é que você se parece muito com a mulher que eu amo, menos pelos cabelos.
— Como sou tonta - ela diz e tira sua a mão de perto de mim.
— Não queria que imaginasse isso - digo - É uma mulher incrível, mas eu já achei a minha mulher incrível. Mas acredite você ainda fará um cara feliz.
— Não precisa tentar consertar Peeta - ela diz - Eu que entendi errado.
— Estou falando sério - digo - May, você é linda e mais forte do que pensa, se não estivesse apaixonado por Dill, claramente seria fascinado por você.
— Dill? - ela diz - Dill Snow?
Agora foi minha vez de dar um sorriso amarelo.
— É brincadeira né? - ela diz - Um Mellark e uma Snow. É inacreditável.
— Um tanto - digo.
— A propaganda da Capital - ela diz - Ela realmente te ama. Você vai salvá-la?
— É o plano - digo.
— Pode contar comigo - ela diz.
— Obrigado May - digo.
Ela se levanta e solta o cabelo que desabam sobre seu ombro.
— Vou dormir um pouco - ela diz - Até daqui a pouco Mellark.
— Bom sono Fally - digo.
May deita num fino colchonete, continuo sentado.
Observo o tempo passar, e não faço nada a respeito. Antes dos outros acordarem passo a missão para Weeller e acordo meus companheiros que vão invadir a mansão. Em pouco tempo os três já estão a postos na entrada do ateliê.
Usamos roupas típicas da Capital. Tigris vai na frente. Caminhamos lentamente, como se nada estivesse acontecendo. Quando vejo a mansão, mesmo a uma boa distância, meu corpo reage e começo a suar frio. May segura minha mão e mexe os lábios com a frase 'Vai ficar tudo bem'. Isso seria o que Mira faria, sinto uma falta imensa da minha irmã.
— São os novos modelos para o presidente - Tigris diz para os pacificadores no portão. Ela carrega uma pilha de casacos e nós carregamos sacolas, que estão cheias de armamentos e computadores. Não demora muito e entramos. Não permitem que Tigris entre na casa, e um Avox pega as roupas das mãos dela. É um homem, tem cabelos ruivos e sorri quando me vê, uma mulher aparece por de trás dele, também é ruiva e eles meio que conversam por olhar e então ela também sorri. Nunca vi Avox sorrindo, principalmente para mim. O homem pega um bloco de papel e escreve algo, e então me entrega.
"Não precisam ficar no jardim, posso esconder vocês"
— Obrigado - sussurro e ele sorri - Sou Peeta Mellark.
Ele volta a escrever.
"Ouvi falar muito de você Peeta, é um prazer conhecê-lo. Você me lembra muito sua mãe. A propósito sou Darius e ela é Lavínia"
— Conheceram minha mãe? - pergunto.
Ele volta a escrever, Lavínia começa a rir em silêncio.
"Conhecemos, mas deixemos as histórias para depois da guerra"
— Vamos - digo e meus soldados entram na mansão.
— Eu venho só até aqui - Tigris diz.
— Obrigada - digo.
— Depois passe em casa para tomarmos um chá - ela diz saindo - Amaria conhecer a garota.
Entro na mansão atrás dos meus companheiros. O lugar é imenso e até mesmo Jeguer parece surpreso com a beleza daqueles cômodos. Como já estive aqui dentro antes, não focalizo nisso. Sei que o quarto de Dill fica no 3º andar, deve haver guardas na porta.
Darius nos leva pra uma dispensa, ele me garante que não há câmeras ou coisa do tipo, já que Snow não acha um quarto de vassouras perigoso. Porém na sala ao lado há câmeras e na entrada também, então se mudarmos de roupa será como se tivéssemos sumido. Então devemos ficar nessa dispensa por um tempo, até que Lavínia distraia os operadores da câmera e que Darius faça parecer que apenas deixamos as roupas e fomos embora.
Os dois saem para fazer sua parte do plano. Nessa dispensa há vários armários, cada um tem um utensílio doméstico diferente. Jeguer entra num desse armários para trocar de roupa, Stell entra em outro e fico sozinho com May no corredor que dá para os armários.
— Essa dispensa é maior que minha casa - May diz e eu apenas dou risada.
Ela se senta no chão e começa a montar um super computador com as peças que estavam na sacola. Ela liga e começa a entrar no sistema da casa, assim mexe nas câmeras e tem controle sobre elas.
— Você é um gênio - digo.
— Eu sei - ela diz se levantando e tirando a peruca usada pelas mulheres da capital. O cabelo dela está preso num coque, ela o solta e então tira o vestido, na minha frente, por sorte ela usa uma regata e um short preto por baixo. Ela pega uma calça dentro de uma sacola e veste por cima do short. Depois se senta na frente do computador e me encara.
— Fecha a boca - ela diz e percebo que estou encarando ela desde o momento que ela soltou o cabelo - Vai ficar como Caesar Flickerman para sempre?
Tiro a peruca roxa que Tiger insistiu que eu colocasse, tiro o paletó e a camisa e percebo que não pus nada por baixo, olho de relance para May, ela encara o computador mas percebo um semisorriso, espero que não seja em relação a mim. Tiro os sapatos e fico só de meia e calça social.
— Pode me jogar uma calça? - peço. Ela me encara rindo e me joga uma calça. Abro um dos armários e as coisas caem tudo em cima de mim.
— Quer que nos descubram? - May diz.
Abro outra porta e está abarrotado de coisas.
— Se importa? - pergunto me referindo a me trocar na frente dela.
— Somos soldados, estamos em missão - ela diz - E não seria a primeira vez que vejo um homem nu.
Desabotoo a calça e a tiro, olhando fixamente para May, ela presta atenção no computador sem se importar comigo. Pego a calça preta e coloco, então ponho uma regata branca e por fim uma jaqueta preta.
— Preferia você só de cueca - May diz - E acho que Dill também - ela aponta pro computador. Me aproximo dela e vejo o quarto de Dill, estive ali pouca vezes, mas o reconheço e vejo ela, ela anda de um lado para o outro, seus cabelos estão trançados e há olheiras em baixo de seus olhos.
— O que fizeram com ela? - digo.
— Ela tem um hematoma no braço, então diria que alguém a levou pra algum lugar puxando-a pelo braço, um tapa na cara, ainda está inchado e tiraram a maquiagem dela, o que pra mim foi a melhor parte - May diz eu a encaro e ela sorri - Ela está bem, não está acostumada com a dor e sofrimento como nós, quer dizer como eu, mas ela vai sobreviver, Snow é um desgraçado, mas ama a filha.
Me sento ao lado de May e observo Dill, ela não está mais perfeita como antes, mas ainda é bonita.
— Ela está diferente - digo.
— Achou que ela acordava com aquela pele? - May pergunta - Sem a maquiagem dá pra ver as cicatrizes das plásticas.
— Minha irmã disse algo sobre as pessoas da capital fazerem plásticas - digo.
— Você não tinha percebido? - May pergunta rindo - Qual é, ela parece ter 16 anos, e nunca envelhece, ta tipo na cara.
— Acho que estava apaixonado demais para perceber - digo.
— Você está - May diz, ela olha para mim com uma cara estranha - Seu cabelo tá horrível - ela fala - A peruca o amassou e sua sobrancelha ainda ta roxa.
May pega uma garrafa d'água e molha as mãos, ela agita meu cabelo e depois limpa meu rosto e tira toda a maquiagem, em seguida faz o mesmo com ela.
— Agora está mais...
— Real - digo.
— Real - ela repete.
Nós encaramos por um tempo, me perco nos olhos azuis de May, costumava fazer isso com Mira e sentia falta dessa sensação de conhecer a pessoa apenas pelo olhar, isso não acontecia com Dill.
— O jantar da princesa chegou - May diz.
— O que? - pergunto.
— Dill - ela diz e eu olho para a tela, uma Avox leva uma bandeja dourada para Dill e põe em cima da cama. Dill chega perto da cama e olha o conteúdo da bandeja e então começa a gritar com a Avox, ela começa a chorar e cai no chão.
— Não acredito que ela ta fazendo drama por um prato de comida - May diz.
— Não, Dill não é dessas - digo.
Logo Snow entra no quarto e vê a filha jogada no chão em prantos, ele grita com a Avox que permanece imóvel e joga a bandeja no chão. 5 minutos depois outra Avox volta com uma bandeja dourada e agora as comidas no prato são diferentes. Imagino se Dill fez tudo isso por causa da comida, e se Snow está zangado com ela por minha causa, por que fez o que ela queria?
— Aquele prato que ele jogou no chão dava para alimentar minha família toda - May diz.
— É eu sei - digo.
Jeguer que está sentado num canto se pronuncia.
— Quando poderemos sair daqui? - ele pergunta.
— Em breve - May diz - Mais algumas horas, preciso do Snow dormindo e dos pacificadores noturnos.
— Por que? - pergunto.
— Será mais fácil matar ele se ele estiver dormindo - ela diz - E em relação aos pacificadores, durante a noite o número deles dentro da casa é menor do que os de fora.
— Você é esperta - Stell diz pondo a mão no ombro de May.
— Obrigada - ela diz. Sei que se fosse comigo ela falaria 'Sei disso' e faria eu tirar a mão dela. Não sei porque penso isso, mas fico com isso na cabeça por um tempo.

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