✧ dezesseis

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Passei a terça-feira mais desanimada do que nunca. Se fosse qualquer outra época do ano, eu me forçaria a esquecer e me concentrar nas minhas obrigações. O problema estava no fato de que era carnaval. O Brasil estava parado, e eu não tinha nada de importante para fazer.

Nada que me impedisse de lembrar que os garotos que eu havia conhecido quatro dias antes e me conectado como nunca, um deles em especial, iriam embora do país.

Conversei com Corbyn de manhã, mas ele parecia distante. Disse que estavam ocupados arrumando tudo para a viagem, então eu lhe dei espaço. Depois de almoçar, tudo que eu queria era ficar deitada, mas de repente Bianca começou a reclamar de uma cólica tão forte que eu tive que comprar um remédio.

Ao voltar da farmácia, abri a porta do apartamento e quase desmaiei. Bem ali, na minha sala de estar, estava a pessoa que não saía dos meus pensamentos há longos dias. Ele havia ligado a televisão e o primeiro episódio de Élite estava pronto para ser reproduzido. Na mesinha de centro, dois copos enormes de açaí esperavam por nós. Ele sorriu ao me ver e eu fiz o mesmo, tentando reaprender a falar:

- O que você... Cadê a Bianca?

- Bom, ela me ajudou com isso. Você achou mesmo que eu iria embora sem me despedir?

- Por algumas horas, eu achei sim. - dei de ombros. - Mas que bom que eu estava errada.

Andei até Corbyn e o abracei bem apertado. Quando nos separamos, por mais clichê que possa soar, me perdi em seus olhos. Era como se estivéssemos conversando sem dizer uma palavra. Não sei se fui eu que me aproximei ou se foi ele, mas então nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância.

- Posso te beijar? - ele sussurrou olhando para a minha boca. Fiz que sim com a cabeça e fechei os olhos, sentindo seus lábios nos meus. Uma de minhas mãos foi até a nuca do loiro, que aprofundou o beijo. Ele puxou meu corpo suavemente para mais perto de si, segurando minha cintura.

Eu simplesmente senti. Dentro de mim, foi como se as peças de um quebra-cabeça estivessem se encaixando. O jeito que ele me segurou, que eu passei os dedos por seu cabelo, a sincronia em que nos movemos foi surreal. Quando Corbyn puxou lentamente meu lábio inferior entre seus dentes e me deu um selinho, quase derreti ali mesmo.

Meu coração estava disparado e minha respiração ofegante. Não ousei me mexer, nem mesmo abri os olhos. Então o garoto segurou minha mão e deu um beijo na mesma. Encostei a cabeça em seu peito e ouvi os batimentos fortes dele.

Eu não sabia que precisava do beijo de Corbyn Besson até que o beijei. E então percebi que ele tinha um controle absurdo sobre mim. Eu estava entregue a alguém que morava a dez mil quilômetros de distância, e não havia nada que eu poderia fazer.

- Você não podia beijar mal, né? - resmunguei e ele soltou uma risada, se afastando um pouco para me olhar confuso.

- O quê?

- É que se você beijasse mal, era mais fácil te deixar ir. Mas a gente encaixa, Corbyn. É o que dói mais. - o gringo ficou alguns segundos em silêncio, brincando com nossos dedos entrelaçados.

- Você acha que é possível amar alguém com tão pouco tempo de convivência? - sua pergunta fez meu coração acelerar pela milésima vez aquele dia.

- Não sei. E você?

- Eu acho que te amo, Cecília. - sussurrou.

- Eu acho que também te amo. - respondi e ele me beijou de novo.

Sem mais palavras, nós nos sentamos no sofá. Cada um pegou seu açaí e eu dei play na série. Conversamos o tempo todo sobre o que estava acontecendo na televisão, mas só no fim do primeiro episódio criei a coragem para perguntar:

- E então...

- O que vamos fazer? - o loiro foi mais rápido.

- Você acha que conseguimos continuar, mesmo de longe?

- Eu não sei. Não é que eu não queira, porque eu quero. Por você, eu estou disposto a tentar. Mas tenho medo de que isso nos machuque.

- Eu também tenho. Podemos tentar, e se não der certo... - deixei a frase no ar. Nem mesmo eu sabia como terminá-la.

- Ok. Eu concordo. - ele falou e beijou minha testa.

- Sabe... tem uma palavra em português que é um mistério. Ela existe em outras línguas, mas em nenhuma delas ela tem esse mesmo significado. Saudade. É quando você sente tanto a falta de alguém que dói.

- Já tenho saudade de você. - falou e eu ri com a forma que ele pronunciou.

- Eu também.

Besson e eu voltamos a assistir a série. Passamos literalmente a tarde inteira maratonando a primeira temporada de Élite, em meio a conversas sérias, risadas e beijos.

- Eu achava que meu amor de carnaval seria um cara suado que estuda administração e mora com a mãe mas a vida veio e me trouxe você, Corbyn Besson. - eu disse quando já tinha escurecido e comecei a sentir sono. O gringo riu.

- Bom, eu acredito... que existe uma coisa maior que o amor. Mais forte. Como um fio que conecta as pessoas e faz elas se encontrarem. Tempo e distância não importam. Se elas estão ligadas, elas se encontram.

- E você acha que nós estamos ligados?

- Eu tenho certeza. - meu coração se aqueceu com essa frase e abri um sorriso, mesmo triste. Sabia que ele teria que voltar para o hotel em uma ou duas horas.

- Posso te pedir um favor? - ele assentiu. - Fica comigo até eu dormir, e vai embora antes de eu acordar.

- Tudo bem. Boa noite, Cecília. Eu te amo. - as palavras que Corbyn sussurrou no meu ouvido foram tudo que eu ouvi antes de adormecer.

amor de carnaval ✧ bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora