~Cap revisado~
O quadro exibia cores radiantes despencando do céu arroxeado, as delicadas gotas preenchiam com cor os cidadãos espalhados pela praça com um cenário matizado. Apesar de aparentar uma arte alegre e brilhante, em que a chuva revelava em cada bonequinho desenhado uma personalidade com inúmeros sentimentos, a verdade é que a obra tornava-se comovente com a presença centralizada de um garotinho sem cor.
Pele preta, cabelos brancos acompanhando o tom de suas vestimentas cinzas. O guarda-chuva aberto sobre a cabeça era uma tela pintada pelas gotas que caíam do céu explodindo de tons, e no chão gerava novas paletas ao misturar-se em uma poça sob os pés intangíveis.
Uma alegria repartida para todos, exceto pelo solitário garotinho de guarda-chuva. Impossível não percebê-lo, potencialmente ganhando toda a atenção, mesmo se quisesse esconder-se em um canto no quadro.
Os bonitos olhos pretos puxados e de cílios minimamente curvados para baixo, observaram radiante a pequena figura tristonha. Um sentimento de acolhimento não deixava de surgir no coração, relacionando, filosoficamente, vários fatores reais a uma pequena e grande obra de arte. Kim Taehyung era dono de cabelos loiros da raiz às pontas, pele beijada pelo sol, medindo não mais do que 1,79 de altura, trajando no corpo esbelto um chamativo conjunto amarelo de terno e calça. Como um verdadeiro entusiasta de artes melancólicas, Taehyung amou cada traço e pincelada daquele quadro. Não conseguia decifrar o real significado, mas prezou sentir a angústia que uma única figura na imagem o transferiu. Era de se esperar, afinal, o autor daquela obra era um dos seus preferidos; Hope, que estranhamente pintava a prostração em cores penetrantes e singulares. Decerto o pseudônimo seja realmente a esperança para que um dia haja apenas alegria naquilo que representa.
— O garotinho agora está neutro... O que isso deve significar?
O terno caro vestia um alto homem de topete despencando para o lado, e o rosto afilado de pele alva enrugou-se diante do quadro. Parado ao lado de Taehyung, observou cuidadosamente logo após questionar. Quieto, recordou-se que havia uma primeira versão daquele quadro, onde era a mesma paisagem, com as mesmas pessoas e o mesmo garotinho. Porém, este, estava de guarda-chuva fechado, e todo o seu corpo era colorido, enquanto o resto permanecia em um preto, branco e cinza; sem vida, sem cor. O quadro chamava-se "Minhas cores", como se todas elas fossem unicamente do garoto, um pequeno egoísta. Agora — na obra exposta — todos os tons haviam esvaído dele, sendo evaporado pelo calor, e distribuído pela chuva para todos, deixando-o sem nada. Enfim, atualmente denominada "Suas cores".
Taehyung suspirou, também recordando-se do quadro e por não ter conseguido comprar no leilão do mês passado, perdendo a arte exatamente para o homem parado ao seu lado.
Desfocando-se do quadro, Taehyung pronunciou:
— O que você sente olhando para ele?
— Pena, não sei. — Deu de ombros. As mãos nos bolsos da calça preta e o jeito despreocupado que exalava, de certa forma, causavam repulsa em Taehyung.
— Pena, Chanyeol? Não acredito que ele queira passar esse sentimento... — Comentou, ignorando-o quando este o fitou. — Mas para alguém que só compra quadros para exibir a fortuna, não esperava uma resposta surpreendente.
Chanyeol riu.
— Ainda está magoado porque não venceu, Kim Taehyung? Não se exalte, nenhum dos quadros que compra fica com você. — Disse, virando-se para ir embora. — Pessoas do seu tipo se acham mais do que nós, sendo que nem são donas do dinheiro que carregam. — Riu. — Boa sorte no leilão.
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Tela Sem Cor
RomantikEm meio ao preto e branco do meu mundo insalubre, você me ensinou que não preciso de outras cores para poder amar.