~Cap revisado~
Em junho começava o verão, com ele ventos mudavam de direção e breves chuvas surgiam para apavorar os cidadãos. Começando a temporada úmida por algumas regiões, Gangnam-gu era alvo principal das grossas gotas e ventanias. Hoseok gostava de como a chuva batia nas janelas e o piso sob os pés descalços ficavam frios. Era em tempos como aquele, que ele conseguia navegar na maré de ocasiões que sua vida havia tomado.
Após um banho quente, demorou-se na cozinha para esperar o chá de ginseng ficar pronto.
A celebração de ontem trouxe-lhe muitas surpresas, especialmente pela presença de Kim Taehyung. O homem era como um livro aberto de mistérios. Hoseok havia tomado bastante champanhe para conseguir aturar a personalidade enigmática de Taehyung; tendo momentos em que sua presença era excessivamente sufocante e outras que nem percebia-o por perto. Silencioso, sereno e paciente, porém era também barulhento e irritante. Tudo que Hoseok gostava e tudo que Hoseok odiava, juntos, em uma única pessoa.
Em algum momento da festa haviam trocado os números, mesmo que Hoseok tivesse feito a contragosto. Mas se estava aceitando a ajuda de Taehyung, deveria dar a chance do jeito certo. Problema é que, agora, não tinha somente a assessoria do museu ligando-o sem parar, mas também um grande fã da sua vida. Enquanto despejava o chá na caneca branca, Hoseok questionava-se se deveria secar a garrafa de whisky todas as vezes antes de ir ao encontro do seu mais novo, e indesejado, amigo.
Arrastou os pés até a sala e sentou-se no sofá. Apreciou o ruído satisfatório da chuva, aquecendo a boca com o chá recém feito. Sem eventos para ir e a, possível, aposentadoria na pintura, a rotina de Hoseok tornava-se monótona. O atelier era o cômodo que mais gastava seu tempo enfurnado, pintando ou limpando para poder sujar de novo. Fora daquele casulo, era arrastado por NamJoon para ir aos museus e assistir aos leilões. Suspirou por lembrar do homem de mullet, e tomou mais um gole do chá.
Além de ter sido seu assessor, Kim NamJoon fazia mais do que deveria. Hoseok, praticamente, teve uma babá. Desde muito cedo nunca soube cuidar de si próprio, antes por circunstâncias que não cabiam no seu bolso, especialmente para cuidar de seus problemas. Os óculos de grau que usava nesse momento, e os óculos escuros — que também tinham grau —, não eram fáceis de achar e muito menos possuíam um preço cabível para o orçamento de um acromático nascido em classe média. Foram diversas dificuldades para lidar, e sua família não empenhava-se para ajudá-lo, abandonando-o em algum momento da vida.
NamJoon era um homem bom, prestativo e sonhador. Apesar de ser 1 ano mais novo que Hoseok, cuidava dele como um irmão. Nem mesmo Park Jimin com os anos trabalhando para Hoseok, e até em época de namoro, esforçava-se para tirá-lo de dentro do atelier ou conferir assuntos pessoais que o pintor teria que resolver. Demitir NamJoon doeu, mas estava machucado demais para perdoá-lo, e quebrado em todos os sentidos para continuar com ele; seja no âmbito de trabalho ou na amizade.
Se Taehyung fosse paciente o suficiente para aturar Hoseok naquela fase turbulenta, seria uma vitória surpreendente, caso contrário, ele não seria o primeiro que Hoseok conseguiria afastar de sua vida.
A campainha soou pelo apartamento ensurdecendo a mente barulhenta. Hoseok deixou a caneca sobre a mesinha de centro e levantou-se despreocupado, indo para o quarto trocar os óculos antes de atender a porta. Pensou que teria um dia sossegado para respirar, contudo, a previsível visita de Kim SeokJin reforçou seus tormentos. E pela péssima carranca no rosto tão bonito que o diretor do museu havia sido agraciado pela vida, Hoseok rendeu-se.
Estava na hora de jogar a verdade sobre a mesa, e resolver o maior dos seus problemas, por agora.

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Tela Sem Cor
RomanceEm meio ao preto e branco do meu mundo insalubre, você me ensinou que não preciso de outras cores para poder amar.