~Cap revisado~
No céu azulado o sol irradiava intensamente, o calor incomum castigava os condenados em terra. Protetor solar era essencial para um dia ensolarado como esse, e assim como o sol da manhã aquecia o solo, também queimava os neurônios de Kim Taehyung.
Dono de uma beleza incomparável, Taehyung brilhava sem muito esforço por onde visitava. Não era uma celebridade, mas poderia ser confundida como uma. A vaidade daquele homem obrigava-o a vestir-se bem até para caminhar na pracinha perto de casa. Só que quem chamava sempre a atenção — depois de passarem uns bons minutos admirando Taehyung — era Raji, um gato gordo e rajado de amarelo no branco preso na coleira. Quando seu dono não dormia fora, ele levava-o para passear no dia seguinte. Viver preso no apartamento o deixava entediado, e era lazer como aquele que Raji sentia-se livre para sair marcando território e causar estresse em alguns cachorros.
Guiado pelo felino de rabo levantado e barriga quase arrastando-se no chão, Taehyung estava preso na própria mente. Mentiria se dissesse que sua noite havia sido tranquila depois de destruir a arte de Hope. A imagem desgastada de Hoseok e as palavras sem sentidos e de desesperança que havia escutado dele, trouxe-lhe uma incomum preocupação. Ele amava tudo que Hope pintava, e pensar que jamais veria algo inédito dele era o que deixava-o também agoniado e triste. Era como se Hope tivesse morrido; de repente, deixado de existir, e tudo dele não passariam de meras memórias.
Seus devaneios o seguiram por todo o percurso, e quando já estava em casa massageando as patinhas de Raji com um creme hidratante, uma nova preocupação acendeu: Estaria tudo bem com Hoseok? Certamente que não. O abalo emocional e a multa que levaria, não teria como ninguém estar bem. Taehyung lamentou não ter sido mais esperto e não ter voltado para o assessor para pedir o número do pintor, ou pegar o endereço. Essa sua característica invasiva sempre surgia quando algo lhe perturbava, e Hope havia conseguido essa proeza sem ter conhecimento dela.
As chances de reencontrar o pintor eram quase nulas, e Taehyung torceu para que logo se apagasse da própria cabeça tais preocupações sobre alguém que não nunca mais veria.
Sentindo-se solitário, vendo Taehyung repousando no sofá, inerte em pensamentos, Raji esfregou o corpo peludo no braço de seu dono e miou manhoso para chamá-lo a atenção. Desceu para o colo de Taehyung, e apoiou as patinhas dianteiras no peito dele. Bateu a pata no queixo de Taehyung e tocou o nariz gelado na bochecha, só assim resgatando o homem parado no tempo.
— Ah! Você está com fome? Não acha que está gordo demais?
Acariciou o corpo esticado do gato, sentindo nos dedos a maciez do pêlo e a barriga enorme. Raji miou em reprovação, mordendo moderadamente o queixo de Taehyung.
Ele riu, mas não afastou o felino que insistia em morder.
— Tá bom! Tá bom! Aí! Raji!!
Taehyung fez bico com a patada que levou na bochecha. Seu gato parecia entender muito bem quando ele dizia algo ofensivo, e Taehyung nunca aprendeu a ficar calado. E entre unhadas e mordidas, existia o amor. Mesmo que Taehyung se irrite quando Raji nas madrugadas invente de pular em cima de si enquanto está dormindo, ou de morder suas pernas quando está simplesmente passando por perto. Por esses e outros comportamentos sem explicações do felino que Taehyung implicava às vezes. Como ainda não haviam se matado? Bom, Taehyung era um bobo apaixonado e Raji prezava a mordomia que tinha.
Enfim, o único relacionamento abusivo que Kim Taehyung permitiria em sua vida.
Levantou do sofá e foi para a cozinha. O cômodo da sala era dividido apenas por uma bancada americana. O apartamento era pequeno, mas elegante. Perfeito para um homem solteiro como Taehyung.

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Tela Sem Cor
RomanceEm meio ao preto e branco do meu mundo insalubre, você me ensinou que não preciso de outras cores para poder amar.