~Cap revisado~
— O que você vê na expressão dela?
Diante de um quadro exposto pendurado na parede branca, Taehyung admirava a pintura clássica de um autor desconhecido. Havia uma mulher de expressão exagerada nos traços detalhados, a boca bem aberta e os olhos esbugalhados, além da paisagem distorcida de uma guerra e céu nublado.
— Um pavor macabro. — Hoseok respondeu ao analisar bem a figura.
Taehyung colocou a mão no queixo, duvidoso. Opinou, focado:
— Pavor? Eu vejo rancor, talvez ira. Mas macabro?
— Digo "macabro" no sentido de que ele usou cores escuras, então a tonalidade para mim fica algo bem mais horripilante. — Tentou explicar, desistindo de fazer sentido no que dizia. — Mas há uma expressão de medo nela. Não ver as sobrancelhas levantadas, assim como as pestanas superiores?
Hoseok apontou, tendo toda a atenção de Taehyung, que maneou levemente a cabeça em concordância. Pequenas partes faziam a diferença se bem observadas, e sua visão realmente mudou ao perceber aquele detalhe com a ajuda de Hoseok.
A galeria que visitavam era a mesma que Taehyung foi na noite passada, sentindo a necessidade de levar Hoseok para ver consigo algumas das obras ainda expostas. Aquela, em especial, havia chamado a sua atenção. Pelo visto, Hoseok também sentiu interesse, sendo o primeiro a parar diante da pintura. Os óculos escuros sendo, como sempre, um incômodo. Taehyung não sabia decifrar o que Hoseok pensava, afinal, um olhar dizia tudo que um introvertido não queria expressar.
— Recebi uma proposta do homem que está quase me processando. — Hoseok comentou em um ar de graça, sentindo o outro lhe observar há um tempo.
— Boa ou ruim?
— Boa... Mas ruim também, não sei. — Retirou a mão do bolso da calça frouxa, passando a unha na sobrancelha, indeciso.
— E o que ele propôs?
Hoseok virou-se para um Taehyung curioso, suspirando cabisbaixo por recordar-se da frustração de ontem.
— Ele pediu que eu pintasse um quadro para ser leiloado, sem receber divulgação, assim eu poderia pagar minha dívida se chegasse a valer algo em torno do que o último chegou. — Contou.
Hoseok estalou a língua, ainda indignado, embora compreendesse a decisão de SeokJin. Tinha ciência de ser a medida mais solidária que ele chegou para que não fosse preciso processá-lo e arrancar-lhe tudo.
Taehyung não se surpreendeu com a notícia, achando justo a ideia. Recobrou-se de Min Yoongi, seu cliente.
— É fácil, conheço alguém que compraria pelo preço que precisa.
— Isso não vem ao caso, Taehyung. — Ajeitou os óculos, inquieto. — Eu poderia pintar qualquer coisa e acabar logo com minhas dívidas, não me importando com mais nada. — Bufou. Uma mão estava na cintura e a outra cutucava os lábios, e seus ombros curvados fizeram o loiro estreitar os olhos.
— E você conseguiu? — Perguntou receoso, observando-o parar repentinamente. Hoseok negou. — Bom, você ainda tem tempo, não é?
— Esse é o problema. — Encarou-o. O tom da voz diminuiu, Taehyung aproximou-se para que pudesse escutar melhor, tornando aquela conversa um segredo. — Ele me deu até sexta-feira, que é quando acontecerá o próximo evento. Ontem eu tentei pintar, só que... Toda vez que eu pensava em pegar no pincel, me sentia ansioso, angustiado...
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Tela Sem Cor
Storie d'amoreEm meio ao preto e branco do meu mundo insalubre, você me ensinou que não preciso de outras cores para poder amar.