a bela e a fera ;; kth

02

Havia uma escrivaninha muito linda com computador colocado perto da parede, e algumas poltronas bem femininas posicionadas perto da lareira. Perto das três janelas enormes havia um banco forrado, coberto com almofadas bordadas em ponto cruz, o que o tornava ainda mais convidativo. A esquerda ficava o closet, tão grande que jamais conseguiria enchê-lo. Mas bem que gostaria de tentar, pensou SunHee, observando o banheiro moderno, com a maior banheira que já vira. Deixando a bolsa e a valise sobre a cama, atravessou o corredor e entrou no quarto de Minseok.

Sem palavras, parou na porta. Pelo jeito, dinheiro não era problema para o Sr. Kim. O quarto parecia um sonho, em tons de azul e verde, com uma foto grande do homem aranha na parede, muitos brinquedos e uma cama colocada num dos cantos. O dossel tinha cortinas de cetim, que desciam enfeitando a cabeceira trabalhada. E achou mais fofo ainda o quarto quando viu que o garotinho teria de usar um banco pequeno para subir na cama. Ele pensara em tudo, reconheceu SunHee, vendo os armários e gavetas cheios de roupas de tamanhos diferentes. Ele não sabia mesmo nada sobre o filho, ela percebeu, voltando para o quarto, abrindo a valise e pegando o arquivo que Jeon Jungkook, dono do JK Incorporated, lhe entregara dois dias atrás.

O rosto do garotinho de cabelos escuros aparecia na foto, revelando o sorriso doce e os olhos muito claros. Atirando a foto de lado com um suspiro, foi até o banco junto à janela, afastando as cortinas ao sentar-se. Dali podia ver a cidade toda. O vento de outubro varria a cidade, balançando os galhos dos enormes árvores que cercavam ela. Os carros passando perto um do outro. O céu estava carregado, escuro, quase encoberto pela neblina densa. Um dia perfeito para encolher-se no sofá, ler um livro e sonhar. Com o que sonharia um garotinho? Especialmente um que perdeu a mãe e estivesse chegando a (praticamente) uma ilha isolada para encontrar o pai, que nem sequer conhecia.

Ele sonharia com um super herói para mantê-lo seguro, pensou SunHee. Não com um 'vilão' que soltava fogo na direção de qualquer um que tentasse se aproximar de si.

Taehyung apoiou as costas na porta e fechou os olhos, a imagem de SunHee presa em sua mente, recusando-se a deixá-lo em paz. Era a criatura mais linda que já vira. O tipo de mulher que fazia as cabeças se virarem, os homens tropeçarem e as mulheres morrerem de inveja. E só de fitar os lindos olhos, cada cicatriz sua parecia doer como se fosse recente. Era como colocar um doce apetitoso na frente de um homem que morria de fome. Oferecer-lhe a iguaria, da qual nunca poderia sentir o gosto.

Mal podia tolerar a presença dela ali, em seu lar, seu santuário. Só saber que estava ali era o suficiente para deixá-lo louco, e queria estrangular Jeon Jungkook por ter lhe mandado uma mulher tão linda. Será que Jungkook não percebia que não estivera perto de uma mulher desde o acidente? E até aquela manhã não tivera sequer uma referência, além da palavra de Jungkook, garantindo que encontrara alguém muito qualificado. Não tivera tempo de pesquisar o passado dela, e embora tivesse encontrado apenas parte dele, não havia fotos, embora tivesse imaginado como era, já que vencera tantos concursos de beleza. Ainda assim, era como se não desejasse mostrar o lindo rosto. Ele tinha uma boa razão para não mostrar o rosto. Mas qual seria a dela? Aos trinta anos, continuava linda.

Que droga! Ele fora muito claro ao pedir uma governanta para cuidar de Minseok. Pedira uma mulher mais velha, forte e saudável o suficiente para cuidar de um garoto de quatro anos, e que compreendesse que a responsabilidade de Minseok seria dela. Não podia deixar que Minseok o visse. Nunca. A criança fugiria dele e Taehyung sabia que não poderia suportar isso. Não outra vez. As pessoas fugiam dele por causa das cicatrizes que o desfiguravam. Não pretendia assustar uma criança.

Minseok. Richard cerrou os punhos. Uma criança cuja existência ele nem sabia até algumas semanas atrás, quando a ex-mulher morrera. Parecia que ele era a única pessoa no mundo que podia cuidar do menino.