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Alguns minutos mais tarde, ouviu uma batida na porta. Taehyung aproximou-se, espiando pelo visor. Ela era mesmo persistente.

— Deixe aí mesmo.

Ela mostrou a língua para a porta.

Ele era um tolo! O abandono da mulher não lhe ensinara nada, ou não teria tocado SunHee. Sentado na escrivaninha, o sol nascendo atrás dele, Taehyung bateu nas teclas, fazendo uma porção de erros, até desistir, empurrando o teclado. Recostando-se na cadeira de couro, fechou os olhos, e quase pôde sentir a maciez daquele corpo que tanto desejava tocar.

Que homem não desejaria fazê-lo pensou. O corpo de SunHee era curvilíneo, e ela tinha um jeito de andar que quase o enlouquecia. Ele sacudiu a cabeça. Seria mais difícil do que tinha pensado, e sabia que a lembrança de tocá-la seria tão torturante quanto a própria ação.

Era a babá, lembrou a si mesmo. Fora contratada para ajudá-lo. Levantando-se, foi até a janela. Que Deus me ajude, pensou. SunHee era o sonho de qualquer homem. E estaria ali por muito tempo, provocando-o.

Atrás dele, o e-mail soava, o fax gemia, e Taehyung ignorava tudo, os olhos presos à faixa de areia lá embaixo. Havia pegadas no solo úmido, e imediatamente soube que eram de SunHee. Será que levaria Minseok para longos passeios, à procura de conchas? Será que Minseok gostaria dali? E do quarto, dos brinquedos? Ou ficaria assustado, com medo? As perguntas surgiam-lhe na mente, e teve que admitir que não soubesse nada sobre o filho de quatro anos. Mas Minseok era tudo que tinha no mundo, e faria o possível para que nada lhe faltasse.

Exceto você mesmo, disse uma voz interior, e a culpa dominou-o. E se nada daquilo fosse suficiente, e traumatizasse o menino? Era tão pequeno, inocente. No momento, não tinha dúvidas de que SunHee cuidaria de tudo. Era encantadora, mesmo com aquela língua afiada, e suspeitava que Minseok acabasse se divertindo, depois de ter passado de um amigo para outro, após o acidente. Tanto ele quanto Yeeun não tinham família. Soubera da morte da mulher por um policial, e cinco dias depois por um advogado, executor do testamento de Yeeun, que o informara da existência do filho. Com a permissão dele, Jeon Jungkook tirara Minseok do abrigo do Serviço Social, e tomara providências para arranjar uma babá, e trazer o menino para a 'ilha'. Era tudo tão frio, formal. Yeeun escondera a criança até a tragédia acontecer. Mas ele tivera tempo suficiente para pensar na mulher que havia conhecido num baile de caridade, e com quem se casara, sete anos atrás.

Yeeun tinha sido linda, como uma boneca de porcelana, embora durante o casamento tivesse ficado cada vez mais egoísta e exigente, gostando muito mais do estilo de vida que tinham do que dele. Agora percebia que ela gostava das empregadas e cozinheiros, e que quanto mais lhe dava, mais queria. Até que ele desejara ter filhos, parar de viajar o tempo todo. Ela havia discutido e reclamado, até Taehyung ceder. Devia ter engravidado naquela noite selvagem, na praia, na véspera do acidente. Apesar disso, quando o acidente o privara da beleza que a atraíra, Yeeun o abandonara. Não a culpava por tê-lo feito. Era frágil, imatura, e ele por certo não fora mais o mesmo homem. Nem por fora, nem por dentro. Tentava imaginar o que Yeeun dissera a Minseok sobre ele, mas logo desistiu. Não fazia diferença. Suspirando, voltou a trabalhar no computador, até que uma voz suave soou no interfone:

— Muito trabalho sem comer, deixa o Sr. Kim de mau humor.

Taehyung sacudiu a cabeça, com um meio sorriso. Apertando o botão do interfone, perguntou:

— Preparou alguma coisa? — O estômago dele roncou diante da perspectiva de uma refeição.

— Sim. E Jin não vai conseguir comer tudo. — Houve uma pausa, mas logo ela continuou: — Nunca fui capaz de cozinhar para menos de seis pessoas. Ainda bem que gosto de sobras, não é?

a bela e a fera ;; kthOnde histórias criam vida. Descubra agora