Sweet Nothings

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Muita coisa mudou depois que ela entrou naquele trem. Mas comigo é a mesma merda velha de sempre.

—Ela...Quem? Jules? A garota que mencionou?
—É...
—Você poderia nos contar mais sobre ela?
—Não...Eu não quero.
—Rue, tudo bem, digo, chorar, não há porque se esconder.
—Não estou me escondendo, vocês me deram tanta merda que mal consigo sentir alguma coisa.
—São os seus antidepressivos, sabe que precisa deles né?

—Eu precisava de muitas coisas.

—-Você parece melhor, sabemos o quanto foi difícil nos primeiros dois dias.

Ele se referia de quando me colocaram aqui, eu ainda não havia sido medicada, meu organismo gritava por diisopropil, eu batia na porta até os meus braços ficarem roxos, eu gritava até a minha voz se cansar e sumir, eu me enfurucia só pelo fato de ainda estar aqui e me achar incapaz de lidar com as pessoas ao meu redor mais uma vez.

—Por que eu sempre dependo de algo pra ser uma pessoa normal?

—Você pode melhorar, Rue.

—Com drogas, todo mundo pode, isso não muda nada, eu ainda serei uma viciada.

  De volta a aquele quarto vazio e morto, cores mornas, apenas uma cama encostada no canto, janelas e porta com grade, eu sentava de perna aberta com a incapacidade de sentir qualquer coisa. A última vez que vi Gia e minha mãe foi quando eu lutava pra sair daquela merda. Na verdade, não sei teria coragem de experimentar o peso dos olhares. Da primeira vez eu...

É tão difícil chegar a algum lugar aqui, a minha garganta simplesmente embola, a saliva sumia, a boca seca e o esquecimento que eu necessitava de inspirar a suspirar a cada dois a três segundos. O soltar do ar que me trazia de volta reparando as mesmas merdas de sempre, tudo de novo.

Ás sete manhã havia o remédio, o café da manhã, um suco de maçã e um sanduíche. No almoço levavam num copo de plástico, provavelmente colocavam meio comprido do mesmo remédio que tomei de manhã. A tarde, o meu palpite seria as quatro e meia, eu ela levada a aquele grupo, aquele mesmo grupo de sempre, onde cada dia sem enfiar algo pelo seu nariz ou uma agulha no seu braço era uma vitória. A noite vinha uma oração, e enfim...Mais remédios, eu apagava em questão de segundos e quando acordava sabia que seria a mesma merda de sempre, sem direito a visitas, gelatinas ou televisão. Mas, no dia seguinte, algo mudou.

—Sem remédios?

—Ordernaram que cortassêmos.

—Essa é nova...

Euphoria : After JulesOnde histórias criam vida. Descubra agora