"Se o sentimento é legítimo, este dura para sempre; e qualquer reencontro, será como a primeira vez"
Eliseu de Oliveira.
Lembro-me da primeira vez que vi Nicholas como se fosse ontem. Era um dia comum, o trânsito parado por conta da sinaleira, e eu caminhava na calçada, tentando vender meus brigadeiros para qualquer um que passasse. A maioria das pessoas só olhava, algumas até sorriam com pena, mas raramente alguém comprava. Eu já estava acostumada à rotina.
Foi então que ele apareceu. Eu não sei o que aconteceu, mas parecia que o tempo desacelerou, e todo o resto ao meu redor desapareceu. Quando ele cruzou meu caminho, foi como se a realidade tivesse parado de girar por um momento, deixando apenas ele e sua presença imponente. Seus olhos... tão profundos, como se tivessem o poder de ver direto para o fundo da minha alma. O contorno perfeito de sua boca, os traços fortes de seu rosto, tudo nele parecia projetado para me hipnotizar. Meu coração disparou, como se estivesse prestes a sair pela boca.
E, como sempre acontece quando me sinto nervosa ou ansiosa, uma dor chata tomou conta da minha barriga. Não era nada romântico, não era o tipo de reação que eu imaginaria em um momento tão intenso. Mas ali estava eu, parada, olhando para ele, e o meu estômago, em uma resposta estranha e automática, começava a se contorcer de uma maneira que eu já conhecia bem. Era quase como se meu corpo quisesse se esconder daquele momento, apesar da minha mente estar completamente absorvida pela visão dele.
Nicholas não parecia notar o que eu estava sentindo. Ele apenas me olhou brevemente, como se algo sobre mim o tivesse atraído, antes de voltar sua atenção para o que estava à frente. Mas, naquele segundo, algo mudou dentro de mim. Algo que eu não conseguia explicar. Eu sentia que ele, de alguma forma, havia me tocado de um jeito que ninguém jamais conseguiria.
O sinal fechou e, com um último olhar para mim, ele seguiu seu caminho. Eu, por minha vez, terminei minhas vendas e voltei para a pensão onde morava. O aluguel, sempre apertado, dependia das vendas diárias dos brigadeiros. Às vezes, eu não conseguia pagar tudo, mas Marcela, que era como uma mãe para mim, insistia que eu não me preocupasse. Ela não queria que eu pagasse. Mas eu, teimosa como sempre, sentia que isso era algo que eu deveria fazer, que era minha responsabilidade, mesmo quando a grana estava curta.
Mas, aquele rosto... ele não saía da minha mente. Ficava me perguntando o que aconteceria se eu o visse novamente, se ele voltaria àquele mesmo lugar. Eu sabia que estava apenas sonhando acordada, alimentando uma fantasia que nunca se concretiza. Afinal, o que um homem como ele faria ao se deparar com uma vendedora ambulante como eu?
Acontece que, para minha surpresa, ele também tinha se interessado por mim. Ele voltou. Todos os dias. Como uma rotina que ele começava a criar, mesmo sem perceber. E, com o tempo, ele foi criando coragem para comprar um brigadeiro. Não gostava de doces, ele me disse depois, mas queria estar ali, na minha frente, mesmo que fosse só para me ver.
E foi assim que, aos poucos, ele começou a me contar sua versão da história. Disse que, naquele dia, estava desatento e acabou pegando o caminho errado. Quando se deu conta, já estava na rua onde eu estava, e foi ali, por acaso, que o destino o fez me encontrar. "Eu não conseguia tirar você da cabeça", ele disse, como se fosse a coisa mais simples do mundo. E então, todos os dias, ele passava por ali, mesmo sabendo que aquele caminho era mais longo. Ele queria me ver, mesmo que fosse só por um momento.
Nicholas estava prestes a conquistar a presidência da Campbell Emprise, e eu sabia que isso mudaria tudo. Mas a mãe dele, Alba, jogou um ultimato sobre a mesa: ou ele escolhia a empresa, ou me escolhia. Ela fez questão de colocar o nosso relacionamento contra a oportunidade de uma vida inteira. E, para minha surpresa, ele me escolheu.
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REALIDADE PARALELA
RomancePriscila Silva Santos é uma mulher marcada por uma profunda depressão e baixa autoestima, mas encontra no amor de sua vida, Nicholas, sua única razão para viver. Totalmente dependente dele, ela constrói sua felicidade em torno da relação. No entanto...