61- Conversas da madrugada.

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"Estou me afastando.
Afinal, quanto mais te conheço, mais te amo. "
Meu amor Impossível



Quando chegamos à casa de Lucien, os seguranças rapidamente ajudaram as meninas e as acomodaram no quarto de hóspedes. Reparei que, da última vez em que estive aqui, não havia funcionários na residência. Algo me dizia que Lucien não estava muito interessado nas coisas do cotidiano, algo que sempre me irritava, mas, ao mesmo tempo, me intrigava.

— Funcionários? — perguntei, com um sorriso sarcástico nos lábios.

— Quando cheguei em Londres, fiquei tão absorvido com a galeria que acabei esquecendo de contratar uma equipe. Mas já está tudo em ordem. Só deixei os seguranças, que precisam ficar 24 horas. A cozinheira e a pessoa que cuida da limpeza só chegam a partir das 7h. Na verdade, nunca fui muito atento à parte administrativa. Quando morava com minha mãe, era ela quem cuidava disso, e depois, quando fui morar em apartamentos menores, dava conta de tudo sozinho. — Lucien respondeu, com aquela arrogância tranquila que tanto me incomodava.

Dei de ombros diante de sua explicação, mas fui interrompida por um miado suave e um ronronar vindo das minhas pernas. Olhei para baixo e encontrei Ophelia, que se esfregava em mim, como se quisesse interromper o clima tenso entre nós.

— Ophelia, como você está? — perguntei, acariciando-a carinhosamente, tentando me distanciar um pouco da situação. — E o Pierre, cadê ele? — Sorri, ainda brincando com o gato, mas algo em minha voz saiu mais frio do que eu queria.

— Gravou até os nomes dos meus filhos? Tá querendo ser a mãe deles agora? — Lucien provocou, e não pude evitar o impulso de revirar os olhos.

— Cala a boca, Lucien! — resmunguei, tentando ignorar o tom provocador. Pelo menos ele não estava me tratando com frieza, como de costume. Mas essa proximidade... não sabia se estava mais irritada ou aliviada por ele não estar sendo tão distante.

— Pierre sempre fica no andar de cima. — Ele deu de ombros, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. — Enfim, quer comer alguma coisa? — perguntou, mudando de assunto de forma repentina, quase como se tentasse aliviar o clima desconfortante entre nós.

— Claro. — Concordei, tentando disfarçar o que senti com sua mudança de atitude.

Coloquei Ophelia no chão e me virei para sentar no sofá branco de Lucien, mas logo me lembrei da última vez em que estive ali, quando as coisas entre nós ainda estavam mais tensas.

— Lembrar de nunca sentar nesse sofá... — resmunguei baixinho, mais para mim mesma. Aquele sofá sempre me trouxe lembranças desconfortáveis, de discussões, de olhares desafiadores.

Lucien soltou uma gargalhada, e eu o encarei, frustrada, mas também não pude evitar um pequeno sorriso involuntário.

— Vamos para a cozinha. — Ele sorriu de forma descontraída e, como sempre, parecia confortável em sua própria casa. Algo que eu sempre quis ter, mas que, de algum jeito, me parecia tão distante.

Segui ele até a cozinha, sem dizer mais nada. Sentei-me em uma mesinha enquanto ele começava a preparar um lanche, sem pressa. O silêncio entre nós era carregado, mas de uma maneira estranha, também confortável. Como se a convivência forçada tivesse algo de inevitável.

Eu sabia que esse jogo entre nós dois estava longe de terminar. Cada palavra dita, cada provocação, tinha algo mais profundo por trás. Algo que talvez nem nós dois quiséssemos admitir.

Lucien preparou uma tosta de abacate com ovo pochê e molho picante, e me serviu com uma leve indiferença, como se isso fosse algo simples. Ele colocou o prato à minha frente, os ingredientes perfeitamente montados, e eu não pude evitar um leve sorriso.

REALIDADE PARALELAOnde histórias criam vida. Descubra agora