"Já escondi um amor com medo de perdê-lo."
Clarice Lispector.
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Ele estava parado à minha frente, a poucos metros de distância, seus olhos azuis fixos em mim, como se aguardassem uma resposta, ansiosos por ouvir o que eu tinha a dizer depois de tantas palavras jogadas no ar, como um peso que caía sobre os dois.
Minha perna balançava repetidamente, um reflexo nervoso, e eu abria a boca várias vezes, tentando encontrar as palavras, mas nenhuma delas parecia vir. Eu não sabia o que pensar, o que sentir. O que eu deveria sentir? Eu estava emocionada? Feliz? Surpresa? Ou talvez estivesse apenas sobrecarregada por tudo que ele disse? Eu não conseguia mais distinguir os sentimentos que me invadiam, e, por mais que quisesse, não conseguia encontrar clareza.
Eu estava perdida entre uma maré de sentimentos conflitantes. A verdade é que ele me abalava de um jeito que eu não queria admitir, mas também sabia que estava me afundando em algo que poderia ser mais doloroso do que eu estava disposta a suportar. Havia prós, sim, mas os contras pareciam esmagadores. O que eu deveria fazer? Como escolher entre o desejo de reviver um amor que nunca morreu e a necessidade de me proteger de mais uma desilusão?
Enquanto ele permanecia ali, em silêncio, esperando, metade de mim gritava para que eu dissesse sim, para que eu me entregasse àquele sentimento e finalmente tivesse a chance de reviver algo que, de certa forma, ainda morava em mim. Mas a outra metade, a mais racional, me dizia que eu precisava seguir em frente, que a melhor escolha era me afastar antes que fosse tarde demais.
Ele quebrou o silêncio. — Não vai me responder? — Sua voz tinha algo de implorante, mas também de ansioso, como se ele já soubesse a resposta que eu deveria dar, mas precisava ouvir de qualquer jeito. Eu respirei fundo, sentindo o peso da indecisão sufocar meus pulmões.
Eu abri a boca novamente, mas nada saiu. Eu estava engasgada com tantas palavras, e nenhuma delas parecia suficiente.
— Nicholas, eu só preciso... — As palavras se arrastaram, difíceis de formar, como se o simples ato de falar exigisse todo o esforço do mundo. Eu sabia que aquilo não era justo, que ele merecia mais, mas eu precisava ser honesta comigo mesma. — Eu preciso de um tempo para pensar. Me desculpe! — Foi o que consegui dizer antes de girar nos calcanhares e sair rapidamente da sala.
Corri pelos corredores, sem olhar para trás, até encontrar o refúgio do banheiro. A porta se fechou atrás de mim com um som abafado, e eu me apoiei na pia de mármore, sentindo o frio da superfície contra a pele quente. Fechei os olhos, tentando organizar meus pensamentos, mas uma lágrima solitária traiu minha tentativa de manter a compostura. Ela escorreu lentamente pela minha face, sem que eu conseguisse impedir.
Eu passei o dorso da mão para limpar a lágrima, tentando afastar a sensação de fraqueza que me invadia. Olhei para o espelho e me vi ali, refletida, com os olhos vermelhos e a expressão perdida. Eu poderia ter dito sim. Eu deveria ter dito sim. Mas algo dentro de mim sabia que, mesmo que o quisesse, talvez não fosse o momento certo, talvez nunca fosse o momento certo.
Eu não conseguia entender o que havia acontecido comigo. Como eu poderia estar tão perdida em meus próprios sentimentos? Minha mente estava um turbilhão, e eu me sentia incapaz de encontrar clareza. Era como se uma tempestade estivesse tomando conta de mim, e eu não soubesse como acalmá-la.
Sai do banheiro, tentando dar a mim mesma um pouco de espaço para respirar, mas a confusão continuava me acompanhando como uma sombra. Passei pelos funcionários, tentando focar no caminho, mas, de repente, entre eles, avistei Amélia. Ela estava parada, recebendo papéis da sua secretária, e, assim que levantou os olhos, nossos olhares se cruzaram. Um frio percorreu minha espinha, e eu desviei o olhar imediatamente, sentindo uma mistura de desconforto e culpa. Não era justo, não era o que eu queria, mas tudo parecia tão fora de lugar.
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REALIDADE PARALELA
RomancePriscila Silva Santos é uma mulher marcada por uma profunda depressão e baixa autoestima, mas encontra no amor de sua vida, Nicholas, sua única razão para viver. Totalmente dependente dele, ela constrói sua felicidade em torno da relação. No entanto...