17- Nada de garota de Ipanema, eu prefiro a de Londres.

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"Não deixe dominar-se pelo passado, você vive no presente, caminhando para o futuro."

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O céu estava escuro, e o vento suave balançava meus cabelos, trazendo um frescor agradável que contrastava com o calor da cidade. Do outro lado da rua, eu encarei o mar, fascinada por estar tão perto dele. Nunca havia estado assim, tão próxima da imensidão azul.

A rua estava animada, cheia de vida. Algumas pessoas estavam sentadas nos quiosques, saboreando comidas e bebidas enquanto riam e conversavam. O som das músicas se mesclava, criando uma trilha sonora própria da noite, pois em cada barraca tocava uma canção diferente, mas todas se harmonizavam no ar.

Caminhávamos pelo calçadão de Copacabana, nossas mãos entrelaçadas, e, por um momento, me senti como se estivesse em meu próprio mundo. O meu mundo com o meu esposo, um homem simples e encantador, que adorava criar pequenas bugigangas com as mãos. Eu estava em um lugar tão distante de minha rotina, mas ainda me sentia presa àqueles sentimentos confusos que habitavam minha mente.

Em silêncio, observávamos os casais de namorados que passeavam de mãos dadas, sorrindo e trocando olhares cheios de cumplicidade. Alguns outros brincavam com crianças, e eu me vi imaginando como seria ter um filho para cuidar e educar. Como seria bom ver um ser tão pequenino crescendo ao meu lado.

Nicholas, atento ao meu olhar fixo nas mães que brincavam com seus filhos, que eu deduzi ser suas crias, quebrou o silêncio.

— Você pensa em ser mãe um dia? — ele perguntou, a voz suave, mas carregada de curiosidade.

Essa era uma das perguntas mais difíceis de responder, porque ser mãe sempre foi um dos meus maiores sonhos. Eu sonhava com o momento em que um ser tão pequeno cresceria em meu ventre, recebendo todo o amor e carinho que eu poderia oferecer. Mas, infelizmente, a vida tem uma maneira de nos mostrar que nem todos os sonhos são possíveis de serem realizados.

— É complicado... — suspirei, a voz baixa, como se a resposta já fosse uma parte de mim que eu tentava esconder.

— Como assim "complicado"? Ter filhos é uma benção de Deus. — afirmou, com um brilho nos olhos. — Eu não sei o que seria de mim sem a minha pequena Kyra. Com certeza, nasci para ser pai.

As palavras dele caíram sobre mim como uma espada de dois gumes, atravessando meu peito e me deixando sem ar. Segurei as lágrimas com toda a força que pude, forçando um sorriso, mas era tão difícil. Sorrir quando se está prestes a chorar é como uma luta interna, onde a alegria e a dor se entrelaçam em um jogo cruel.

— É uma benção que quem não quer pode ter, mas quem quer... não consegue. — falei, a voz embargada, um nó apertado na garganta, enquanto ainda observava as crianças brincando.

Ele parecia processar minhas palavras por um momento antes de perguntar, com a suavidade que lhe era característica:

— Então você não pode ter filhos?

Aquelas palavras, simples e diretas, pareciam cortantes. Olhei para ele, tentando conter a dor que me invadia.

— Infelizmente, não. — A resposta saiu quase como um suspiro, e naquele instante, notei o olhar de Nicholas se suavizando. Ele piscou lentamente, como se tentasse absorver a tristeza que eu tentava esconder.

— Que triste... — Ele murmurou, o tom de pena no seu olhar era quase palpável. Eu não queria sua pena. O que eu desejava, de verdade, era o seu amor, a sua compreensão.

Senti meu peito apertar mais, e não consegui sustentar o peso daquele olhar. Então, quase sem pensar, pedi:

— Vamos mudar de assunto, por favor?

REALIDADE PARALELAOnde histórias criam vida. Descubra agora