Escamas

33 6 0
                                    

A cela tem um cheiro podre de urina e podridão, o chão está úmido e liso, minha pele está em contato com o chão áspero e arde devido aos leves arranhões que sofri nesse chão imundo, meus punhos estão doloridos e minhas axilas doendo. Elyornas me observa, ele está pendurado pelos punhos do outro lado da cela também, ele olha para mim e dá um leve sorriso. Eu não consigo fazer isso, não por mim, Deus sabe que não, eu não me importo em morrer, eu estou feliz de estar aqui. Mas é ele, eu não consigo fazer isso.

― É engraçado não é? ― ele fala encarando o chão, provavelmente levantar o olhar para mim é uma tortura, percebo que suas mãos algemadas acima da cabeça estão totalmente brancas. Sem sangue. Sem vida. ― Geralmente eu seria o mandante de uma prisão desse tipo.

― Sinto muito por isso ― digo também olhando para o chão, não consigo olhar para cima também.

Ele dá uma leve risada, é um pouco absurdo, mas eu entendo completamente o que ele está sentindo. Êxtase e euforia.

― Na verdade eu só tenho a agradecer. Se não fosse você, eu nunca teria vivido. Eu conquistei muitas coisas, mas nunca vivi. E agora eu não tenho nada, porém estou mais vivo do que nunca. Nós dois sabemos que não poderíamos estar um lugar melhor. Eu prefiro estar em uma prisão com Yehoshuá Mashiáh do que na minha mansão sozinho.

Ele mudou. Eu nunca tinha reparado, mas ele mudou. Assim como eu. Eu até consigo me lembrar do dia em que nos conhecemos. Ele visitava minha casa de burlesco, ele tinha viajado por um bom tempo. Ele estava com dois outros soldados junto com ele, acho que eram de patentes altas também.

O ar da casa era de incenso e perfumes de flores raras. Tecidos se penduravam por vários lugares, como um mostruário de tecidos, um grande emaranhado de vermelho e preto, por trás de cada cortina uma orgia diferente. Era quase um santuário de Afrodite. O cheiro de sexo e suor era escondido pelo cheiro da mirra. Hans era um comandante de um exército de um país distante, ele vinha à procura de escravos para sua casa. Era um homem forte e com um olhar de alguém que já passou por muitas guerras, sejam bélicas ou pessoais. Seu olhar trazia aquele sentimento que todos os homens que frequentavam minha casa tinham: solidão.

― Bem-vindo À Casa das Rosas ― eu disse abrindo o melhor sorriso que podia ― quantas o senhor deseja?

― Apenas uma ― ele respondeu um pouco distante, devia estar cansado pela viagem. ― Apenas preciso de um quarto somente meu. Atenda meus homens, pela manhã arco com o que eles utilizaram.

Seus homens tentavam esconder um sorriso, mas eu já estou acostumada com homens assim, eles tentam esconder a excitação de estarem aqui, mas eu e minhas meninas conseguíamos ver além dessa máscara.

― Sim, senhor ― disse desviando o olhar dos olhos dele para seus pés ― tudo será feito como o ordenado.

― Obrigado.

Uma das coisas que aprendi nesse ramo é que a melhor maneira de manipular homens é lhes dar uma sensação de que eles estão manipulando. O desvio de olhar, a voz carregada de timidez e incerteza, os tiques nas mãos. Tudo tinha que ser perfeito. Raramente algum homem ali desejava uma atitude forte ou sequer a existência de personalidade. A falta de personalidade os fazia se sentir mais à vontade, porque não havia pessoas ali, apenas mulheres, não era necessário demonstrar honra ou moral, porque eram apenas mulheres. Quanto menos personalidade, maior a gorjeta, maior o pagamento final.

Ele ficou em um quarto e mandei minha mais nova garota, havia acabado de completar seus dezesseis anos. Perfeita para o serviço. Ela se adentrou por dentre os emaranhados de tecidos em direção ao quarto do general e não tive mais notícias sobre ele naquele primeiro período da noite. Seus homens entraram em uma das salas de fanfarra, tanto homens quanto mulheres se davam naquelas salas, entregando-se aos seus maiores desejos.

Historinhas de NinarOnde histórias criam vida. Descubra agora