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Para Margot aquele tipo de situação era normal por que acontecia o tempo todo. E assim como ela fazia com os fantasmas, ficava calada como se nada estivesse acontecendo. Sabia que uma hora ou outra ele se cansaria e aquilo iria acabar.

— Ei bruxinha, olha para mim. Vai ficar aí calada? — Continua o garoto dessa vez a cutucando. — Sabe o que eu descobri? Minha mãe disse que a sua era igual a você, é verdade? Ela fazia parte de uma seita?

— Cala a sua boca. — As coisas sempre ficavam um pouco mais complicadas quando falavam de sua mãe. A menina finalmente resolveu o mandar parar dessa vez, mas ainda permanecia olhando para baixo.

— Então você fala? Uau. — Gargalhou. — Mas me diz, foi você que matou a sua mãe, né? Tipo o filho do demônio? Ah! já sei. Você é tipo aquele cara de sobrenatural.

— Me deixa em paz. — Murmurou Margot.

— O que você disse? — Ralph aproximou o rosto para escutar o que Margot falava.

— Eu disse para me deixar em paz! — A voz da garota saiu um pouco mais alto e estridente dessa vez. No mesmo momento em que ela terminou a frase. A cadeira de Ralph vira para trás, fazendo o garoto cair e bater a cabeça forte contra o chão. O que seria impossível se ele não estivesse se apoiando na cadeira apenas nos dois “pés” de trás, talvez se desequilibrando. E como Margot mesmo sabia, ele não estava.

O menino ficou ali caído no chão por alguns segundos, levando as duas mãos até a cabeça e gemendo de dor. O tempo em que a professora correu até o seu encontro o ajudando a levantar.

— Eu já disse a vocês para não ficarem fazendo a carteira como cadeira de balanço. Olhem só o que acontece. – Reclama a Srta. Rosemery enquanto olha se Ralph não tinha se ferido. — Está doendo em algum lugar? — Pergunta preocupada.
O garoto faz que não com a cabeça e olha para Margot assustado.
— De qualquer forma é melhor você ir até a enfermaria ver se não machucou mesmo. — Continua a professora.

Depois que o sinal tocou, Margot ficou no corredor perto do seu armário, arrumando seus livros para a próxima aula. Na esperança que Ralph ficasse tempo o suficiente na enfermaria para não passar por ali.
Foi quando ela sentiu o ar ao seu redor ficar gélido e uma voz sussurrou  bem ao seu ouvido.

— Foi você. — Disse o fantasma número um, como Margot o apelidou. Eram tantos que ela nem se daria ao trabalho de perguntar e decorar todos os nomes. Esse era um bom fantasma, aparentava ser bem jovem. Alguns anos mais novo que Margot. Era um menino. O que deixava Margot levemente tocada por ter morrido tão jovem. — Você sabe não é? Pode não ter tocado nele mas foi você sim.  — Continuou o espírito. — Eu vi com esses próprios olhos que te olham agora.

Obviamente Margot o ignorou. Pegou os livros do armário, colocou em sua bolsa, fechou, colocou a bolsa nas costas e se virou se dirigindo até a sala de aula de língua inglesa. Apesar de estar muito assustada, Margot tentava fingir que nada do que tinha acontecido era mesmo real. Afinal, como uma pessoa conseguiria derrubar a outra de uma cadeira com tanta força sem nem mesmo chegar a tocá-la?

— Eu sei, eu sei. Você não responde quando está em público. Mas eu preciso de ajuda, eu juro que essa é a última vez que estou te pedindo. Eu só quero ir embora. E você sabe, eu não posso ir até terminar meus assuntos na terra. — Continuou falando o fantasma flutuando atrás da garota.

Os fantasmas que ela via, apesar de manterem o mesmo corpo de quando vivos, tinham uma aparência um pouco deteriorada. Eram como espectros, mas com machucados e grandes olheiras. Assustador, mas não para Margot. Ela já havia se acostumado.

Margot continuou andando até finalmente chegar na sala de aula e se sentou logo atrás na última fileira.
Está vendo aquela garota ali? — Apontou o fantasma um, que agora estava de joelhos bem ao seu lado. Margot então olhou para a garota que ele dizia.

Era Sarah Bishop, uma das alunas mais populares e considerada mais bonita da escola. Cabelo loiro tingido, um bronzeado de dar inveja e saia justa, talvez dois ou três números menores do que ela realmente usava. Ela parecia ser do tipo que nunca se importaria de carregar livros, não era tão inteligente e já tinha a vida ganha por ter pais com uma boa qualidade de vida.

Sarah logo percebeu que a estranha Margot a olhava e a encarou com raiva. A garota atrás dela lhe deu um tapinha nas costas. E riu.

— Sabe quem é aquela garota? — Resmungou Sarah baixinho.

— Você não sabe? É a garota estranha filha do viúvo Wate Sims. Da loja de livros. Parece que a mãe dela era tipo uma bruxa mas morreu no parto. Assustador né? — Respondeu.

Lourenzo Wate Sims era como aquele que nunca deveria ser mencionado, aparentemente. Era um homem que cuidava de uma loja de livros antigos no centro da cidade, porém era raramente visto fora dela. Existiam rumores sobre sua aparência, a quem diga que mesmo passados dezessete anos desde a morte de sua esposa, Lourenzo se manteve igual. Não envelhecendo nem se quer um dia. Era como se ele tivesse parado no tempo. Morava em uma casa velha em ruínas com sua única filha. E era viúvo de uma sacerdotisa, que naquela cidade era como se fosse uma bruxa ou algo pior, já que ninguém nunca tinha ouvido falar em coisa parecida.

“O que tem ela?” — Escreveu Margot no caderno e circulou para que o fantasma um visse.

— Sabe aquela história que os fantasmas ficam vagando pelo plano terrestre quando tem algo que os impedem de fazer a passagem? Ela é esse algo para mim. Eu estudei na mesma turma que ela quando criança. E eu a amava. — Contou. — Eu me declararia para ela. Mas meus pais se mudaram para outra cidade e eu fui junto. E bom, teve um acidente de carro. E eu morri. – Concluiu triste.

" E o que você quer que eu faça? " — Escreveu Margot novamente.

— Eu queria que você contasse a ela que eu a amava. E caso ela não saiba, que eu morri e onde eu estou enterrado. É isso que eu quero.

O ladrão de sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora