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Hanbok era uma cidade pequena, possuía vinte mil habitantes e sua economia girava em torno da exploração de madeira e por isso, era comum ver caminhões carregados de grandes troncos de árvore por todo o lugar. Além das vastas florestas.

Em sua pesquisa, a única coisa que Margot havia descoberto era o nome da mulher e a cidade em que vivia mas isso ainda não era o suficiente. Ela não poderia sair perguntando entre os vinte mil habitantes de Hanbok se eles conheciam alguém chamado Jenn Vaguse. Então lembrou de algo que poderia ajuda-la.

Pediu para Anabell parar próxima à um telefone público que havia ali. Correu na direção da cabine e sorriu satisfeita ao encontrar o que estava procurando, um livro amarelo. A lista telefônica.

Folheando cautelosamente, procurou os sobrenomes com a letra V e seu sorriso aumentou ao encontrar o sobrenome Vaguse escrito.

Na lista estava escrito o número da Jenn e o endereço. Margot tentou ligar primeiro, achou melhor do que simplesmente chegar na casa dela mas ninguém atendeu. Sem outra alternativa, voltou para o carro e, colocando o endereço que descobriu no GPS, disse para Anabell seguir para lá.

A casa era feita de madeira, uma construção simples e pequena. O assoalho da varanda rangeu quando Margot andou sobre ele, indo na direção da porta. Não havia campainha então, ela apenas bateu. Ouviu uma voz baixa dizendo para esperar um instante e, alguns segundos depois, uma senhora pequena de cabelos brancos abriu a porta.

– Jenn Vaguse? – Margot perguntou, educadamente.

– Sim. – a senhora respondeu. – Em que posso ajudar?

Margot pigarreou, limpando a garganta antes de continuar, estava pensando na melhor maneira de abordar aquele assunto. Não queria parecer uma louca e obviamente não falaria que conseguia ver o fantasma da Kayle.

– Eu gostaria de saber se a senhora conhece alguém chamado Kayle Vaguse.

A senhora a encarou por longos segundos.

– Sim, eu a conheço. – respondeu. – Ela era da minha família.

Margot virou-se para olhar para Anabell que permanecia incrivelmente parada como uma estátua, apenas ouvindo a conversa. Kayle também prestava atenção em tudo.

– Vai parecer um pouco estranho mas meu avô me contava uma história sobre uma professora que havia salvo a vida do pai dele em um tiroteio na escola. – Margot mentiu. – Ele me contou o nome e eu fiquei muito interessada em saber onde tudo aconteceu, a senhora pode me contar?

– Não gosto de falar sobre esse assunto.

– Por favor, eu vim de longe para poder encontrar esse lugar. – Margot pediu. A senhorinha a analisou por mais alguns segundos.

– Aconteceu na escola primária. – disse por fim. – Fica à uns dois quilômetros naquela direção. – apontou para o lado oposto de onde Margot havia chegado.

– Muito obrigada. – Margot sorriu e se virou, afastando-se.

– A escola está fechada. – a senhora falou, atraindo de volta a atenção de Margot. – Depois do acontecido, permaneceu ativa por alguns anos mas cada vez mais perdiam alunos, ninguém queria estudar em um lugar como aquele então, foi fechada.

– Tudo bem, obrigada mais uma vez.

Voltaram para o carro e seguiram na direção que a Jenn havia indicado. Cada vez mais as casas iam ficando mais distantes umas das outras, até haver apenas campos vastos e abertos. Avistaram a escola não muito depois.

Como imaginado, estava bem destruída. Haviam madeiras bloqueando a entrada e pichações em suas paredes. O teto parecia ter desabado em algumas partes e a grama alta tomava conta de todo o terreno em volta da escola.

– É aqui. – Kayle murmurou. – Eu reconheço.

– Você está pronta? – Margot perguntou e Kayle acenou positivamente. – Vamos.

Anabell arrancou aquelas barras de madeiras da porta sem nenhum esforço e seguiu na frente, em alerta. Margot não entendia o porque mas achava que talvez fosse pelo fato de que poderia haver alguém ali dentro. Seguiu Anabell, caminhando cautelosamente junto com Kayle.

As paredes estavam escuras por conta do tempo. No telhado haviam buracos que permitiam a entrada de animais e da água da chuva.

Um arrepio percorreu pela espinha de Margot, eriçando os pelos de seu corpo. Aquele lugar passava uma sensação estranha. Era frio. Não como se o clima estivesse frio, fazia um sol forte lá fora, mas era como se a temperatura ali dentro estivesse vários graus a menos.

Kayle seguia silenciosa, seu olhar pesaroso percorrendo todos os cantos daquela escola. Margot queria poder conforta-la mas sabia que não conseguiria. Kayle estava voltando pela primeira vez, depois de cem anos, para o lugar onde havia morrido. O lugar em que fora assassinada. Margot entendia o que Kayle estava sentindo.

Anabell parou abruptamente, estendendo a mão direita na frente de Margot, a impedindo de prosseguir.

Margot estava prestes a perguntar o porque daquela reação mas não foi preciso. Foram ouvidos sons de passos firmes vindo na direção delas e Margot se espantou quando viu duas figuras encapuzadas. Margot percebeu Anabell ficando rígida ao encarar aquelas pessoas.

Mesmo com o capuz, Margot conseguia ver os rostos deles. Eram extremamente pálidos, morbidamente pálidos. Um deles tinha olhos completamente negros e o outro, brilhava um tom diferente, meio avermelhado.

Margot teve certeza que não eram humanos.

– O que fazem aqui? – Anabell perguntou, sua voz  grave ecoando pelas paredes vazias.

– Nós viemos buscar uma coisa. – apontou para o lugar onde Margot e Kayle estavam paradas.

Margot espantou-se, eles estavam ali para pegá-la? Teve medo do que aconteceria. Será que Anabell conseguiria vencer aquelas duas criaturas?

Anabell fez um gesto com suas mãos e magicamente, duas pequenas facas de lâminas curvada e cabo em tom de verde, apareceram. As mesmas que ela usou contra Ele anteriormente. Margot a olhou admirada.

– Vão ter que passar por mim primeiro. – Anabell deu alguns passos para frente.

Aquelas criaturas pareceram aceitar o desafio e juntas correram na direção de Anabell. Margot se afastou, colando suas costas em uma daquelas paredes frias.

Anabell era incrivelmente rápida. Ela fazia movimentos ágeis com a pequena foice e girava seu corpo graciosamente, desviando dos golpes daqueles homens. Eles também pareciam ser bons em luta pois, mesmo sendo acertados diversas vezes pela Anabell, permaneciam firmes. Margot teve a impressão que eles lutavam de forma parecida. Até mesmo o jeito de se mover em combate era muito semelhante.

Enquanto Anabell lutava intensamente contra um deles, o outro olhou na direção de Margot e Kayle e se aproximou rapidamente. 

“ Acabe com ele.” – Uma voz grave e aveludada falou no que parecia ser dentro da cabeça de Margot.  A voz ecoava por todo o seu corpo o fazendo arrepiar. A garota olhou para os lados confusa.

O ladrão de sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora