Capítulo 6

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Sabe quando sua vida passa diante de você em apenas um segundo? Não? Você tem sorte. Estava trancada no meu mundo a quase três semanas e 22 duas horas. Não queria vê nem ouvir ninguém. Para mim eram todos culpados do abuso que sofri. Não aprendir a lidar com nada e principalmente com a morte daquele bandido. Ainda odeio Alessa pelo seu  vício, minha mãe,meu pai,Deus e todo mundo e principalmente a mim. É como um buraco que você caiu e não para de descer. Alimentação pra mim é algo quase inexistente. Mas as umas duas semanas atrás tive que ceder, pois minha mãe mandou arrebenta minha porta, depois de dois dias trancadas. Mas as portas da minha mente ela não pode mandar arrombar.
Aquele fatídico dia não me deixa em paz, as lembranças me tomam e a sensação é sempre a mesma como se tivesse acabado de acontecer. Ao menos a noite tenho  os remédios passado pela minha psiquiatra é de grande ajuda.  Hoje,a doutora Ellen, vem aqui. Depois de tudo que aconteceu as idas a delegacia e ao IML não conseguir mas sair de casa. Não quis ir ao hospital, não queria vê a cara dos amigos de trabalho de minha mãe.
- Marcela? A doutora chegou.
Desde a não existência de tranças na minha porta, ter sido arrebentada a minha privacidade ficou esquecida. Mamãe acha que não noto que ela está mais em casa que o normal. 
- Tudo bem! Disse.
Minha mãe saiu e foi chamar a doutora. Eu, ando cansada disso, dessa situação. Mas o que fazer?
Ellen, entra no meu quarto escuro e bagunçado e me oferece um sorriso.
- Bom dia Marcela, vamos vê como você está hoje? Podemos começa com você falando como estar se sentindo agora?
Não queria falar com ela, era sempre a mesma coisa aquela empolgação etupida. As vezes eu fico imaginando como ela se sente ao vê que eu não tenho melhorado. Na verdade a psicóloga do hospital se demitiu e só me restou de forma obrigatória, claro. A psiquiatra.
- Não sei o que você quer ouvir. E também não sei o que dizer.
Era tudo que conseguia falar no momento.
- Não vou falar pra você que entendo o que você passou, mas eu sei que você está se esforçando e tentando sair dessa. Você é forte! Sobreviveu ao abuso e matou o seu abusador. Não precisa se culpar ou odiar. Está tudo bem e vai ficar tudo bem.
Queria que fosse tão simples assim como ela fala, mas não é. Quando se é abusado sexualmente o nojo que a vítima sente do próprio corpo, o cheiro do corpo do agressor parece impregnado em tudo.  E acredite é como uma marca maligna que te toca até a alma. As cenas são muito vividas.
- Eu só não sei o que fazer.
E era verdade, não sabia mesmo.  Assim como sei que só uma vítima entende outra, minha mãe tentou me levar em grupos de apoio,mas ainda não consigo sair de casa.
- Então vamos começar com você agindo. Você deveria voltar a usar seu celular, falar com seus amigos ao menos abrir as janelas do seu quarto. Ele não venceu você.  Você é mais forte e sabe disso. Volte a brilhar, sinta a luz da manhã ou até voltar a falar com sua mãe. Ele sente muita falta da filha. Seja a Marcela ou melhor crie uma nova Marcela.
Aquelas palavras fazem sentido. Eu sei que preciso e vou fazer, não posso mas ficar assim. E não vou.
- Acho que posso voltar a lê.
Não gosto do fato de ela dizer o que eu devia fazer, por que eu sei o que tenho que fazer, mas pelo mais simples que seja não sei como fazer. Acho me confundir.  Deixa pra lá.
- Isso é muito bom. É um primeiro passo. Você vai conseguir acredite em você.
Agora suponho que ela esteja falando essas palavras para ela. Na verdade as doutora Ellen é a coisa mais divertida que tem me acontecido nesse tempo.
O que é bem trágico.
- A Maria me falou que você gosta muito de ir ao Celeiro e observar os esquilos e que ama fondues, sabe eu até entendo por que...
Parei de ouvir o que ele falava. Não sei como é estudar tanto pra si formar e ser uma profissional de qualidade duvidosa.
Mas uma coisa eu sei. Não dar mais pra mim continuar assim, tenho que dá um jeito na minha vida. Embora não saiba como, ainda!.

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⏰ Última atualização: Apr 05, 2020 ⏰

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