tear of love, yoonseok.

prelude

O crepúsculo de domingo trazia consigo a luz suave dos raios de sol alaranjados, que ultrapassavam a linha reta do horizonte e deixavam que a escuridão lentamente tomasse a cidade toda para si. Ao longe, as luzes da cidade já começavam a serem ligadas, e as buzinas dos carros apressados a serem ouvidas num único eco solitário; apenas um conjunto de sons estridentes ecoando pelas ruas mal iluminadas.

A sombra das casas delineando o resto do dia junto com o sol se pondo ao longe formavam algo como um quadro recém-pintado, pinceladas leves dos flashes de luz do sol junto com o escuro que nascia ao começo da noite.

Hoseok observava as primeiras estrelas do céu aparecerem lentamente, se misturando com a grande nuvem de nicotina em volta de si; tragava com calma o cigarro entre seus dedos, acompanhando a partida da fumaça que saia de seus pulmões junto do vento gélido do fim de tarde.

Entretudo, não queria estar ali, e não escondia seu rosto entediado da irmã que, ao longe, sorria para os milhares de amigos e professores que a cumprimentavam. Sempre orgulhosos dela, sempre admirados de suas conquistas.

Se permitiu revirar os olhos escuros, tragando mais uma vez o cigarro entre seus dedos, e encostou as costas cobertas pela jaqueta de couro na parede fria da grande faculdade de Jung Jiwoo. Soltou a fumaça e olhou em volta, procurando algo fora de seu lugar usual, algo a mais do que apenas paredes brancas e longas grades de ferro cercando o local. Aliás, não era uma novidade estar ali; Jiwoo constantemente lhe arrastava para as palestras semanais que aconteciam em sua faculdade, mesmo que no fundo ainda soubesse que o irmão mal ouvia as palavras proferidas pelo palestrante no meio da imensa sala iluminada.

E apesar de tudo, não lhe dava a opção de fugir.

Hoseok tragou outra vez, ouvindo discretamente o som de passos suaves se aproximando de si e então, o ressoar de uma risada genuína ultrapassando o alto ruído de todas as conversas a sua volta.

— Não pode fumar aqui, sabia disso? – Hoseok quase riu, mas a voz levemente trêmula e tão bonita que soava em sua direção não lhe deixou sorrir, a princípio.

Olhou para o lado, observando pela primeira vez na noite algo que não fosse feito apenas de cores sem vida, apesar da pele pálida que parecia ter sido lindamente banhada pela lua. Os olhos castanhos pareciam brilhar no meio de todos os olhares frios e apagados das pessoas em volta de si, as roupas num tom pastel junto das bochechas levemente coradas quase o deixavam angelical, se não fosse pela boca vermelha estendida num sorriso suave.

O garoto era lindo, de um jeito que nunca havia visto antes. Como se a visão dele em sua frente mal pudesse soar real, verdadeira.

Então Hoseok sorriu, olhando no fundo dos olhos castanhos do garoto mais baixo, soltando novamente a fumaça por seus lábios abertos - E quem disse que não pode fumar aqui?

— Tem uma placa – apontou para o pequeno pedaço de plástico atrás de Hoseok, onde os desenhos em vermelhos se destacavam na parede.

Hoseok arqueou uma sobrancelha em sua direção, vendo as bochechas cheinhas ficarem num tom leve de rosa no mesmo momento. Riu discretamente ao jogar o resto do cigarro aceso contra o piso, lhe pisando com a ponta da bota preta em seguida.

— Satisfeito? – o garoto riu, de um jeito tão melodioso que quase fizera Hoseok se perder em meio ao som suave – Sabe, deveriam colocar uma placa maior aqui, não é apenas eu que estou fumando.

— Certamente – concordou, também encostando as costas na imensa parede branca – Pelo menos você jogou o cigarro fora, os outros não fariam isso.

— Você sai por aí ditando as regras para todas as pessoas nessa faculdade?

— O que? Claro que não – riu novamente, e dessa vez Hoseok se deixou sorrir junto do garoto por alguns segundos.

— Então o problema é comigo? – o Jung inclinou a cabeça para o lado, as pontas do cabelo preto deslizaram discretamente por seu rosto até cobrirem os olhos castanhos.

E Yoongi quase se esqueceu de como respirar, tentando gravar lentamente cada pequeno traço do garoto que conseguia enxergar em meio as luzes amareladas dos postes espalhados pela faculdade. Queria poder ver mais, mas a pequena escuridão os envolvendo guardava os mínimos detalhes de Hoseok para ela mesma. Também faria o mesmo se pudesse, afinal.

— Basicamente.

— É por isso que está todo corado? – a voz de Hoseok soou baixa entre seus lábios, mas apenas o suficiente para Yoongi ouvi-lo e corar mais forte em meio ao brilho das luzes – Você é tímido assim mesmo?

— É, um pouco – riu, colocando as mãos longas sobre as bochechas, tentando esconder o tom rosa que as tomava – Na verdade, é meio incontrolável.

— É adorável.

O mais baixo balançou a cabeça em negação, tentando afastar a queimação intensa em seu próprio rosto, seu cabelo num tom claro de cinza acompanhou o movimento suave, deslizando delicadamente sobre seus olhos, quase tocando as bochechas.

Hoseok tinha a teoria que mundo pararia facilmente apenas para observar o garoto corado a sua frente, e foi incontrolável para ele se aproximar e levar os fios para trás das orelhas com a ponta gelada de seus dedos. E para Yoongi, foi incontrolável deixar o coração bater descompassado dentro do próprio peito, sentiu suavemente o perfume amadeirado misturado ao cheiro de nicotina grudados na pele amorenada, deslizando entre seus corpos até embriagar o resto de sua sanidade que era levada pelo toque delicado em seus fios de cabelo.

Percorreu os olhos por toda a pele morena, notando os pequenos pontos onde ele aleatoriamente desejou tocar; os lábios bem desenhados e a pequena pintinha acima de um deles, o cabelo escuro bagunçado e as orelhas pequenas com brincos longos as decorando. Seu rosto todo continuava queimando incontrolavelmente, mas a sensação do toque gelado dos dedos ainda em sua pele o impedia de afastar o olhar.

Passaria horas assim, apenas olhando para o moreno e decorando os mínimos dos detalhes espalhados por ele.

Hoseok iria dizer algo, mas o grito abafado de alguém chamando seu nome ao longe lhe assustou o suficiente para que se afastasse, riu junto ao outro ao ver sua irmã balançado os braços num gesto desesperado perto da porta de entrada, tentando chamar sua atenção.

Voltou a olhar para o garoto, vendo, agora de perto, o pequeno broche brilhar perto da gola alta do casaco azul claro. O pequeno botão com o nome Min Yoongi se destacava pela escrita em letras cursivas pretas. Provavelmente o garoto era algum palestrante importante, ou até mesmo um organizador das reuniões.

Sorriu para o menor mais uma vez, piscando um dos olhos para ele antes de dizer, com a voz num tom mais baixo e rouco que o usual:

— Nos vemos por aí, Min Yoongi.

E foi embora, sem ao menos olhar para trás, o som de seus passos largos contra o piso claro anunciando com certeza sua ida. Já não haviam mais tantas pessoas espalhadas por ali quanto no início, e Yoongi se perguntou por quanto tempo havia se deixado levar pelas expressões bonitas e voz rouca do rapaz que ao menos sabia o nome.

Não se importou, afinal. Sorriu para o céu escuro, vendo por um momento, os vestígios do sorriso em forma de coração do rapaz entre as inúmeras estrelas que surgiram no céu junto da noite, junto da ida dele.