4. strange

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O vento gelado naquela parte mais afastada do centro de Seoul era puro e profundo, mas o cheiro forte de álcool e perfume caro mesclados no ar eram a única coisa que Hoseok conseguia sentir ao respirar. Os resquícios do vento atravessando os pequenos vãos abertos dos vidros escuros do carro de seu pai o faziam se sentir cada vez mais embreagado; a cada pequeno ou longo exaspirar.

Hoseok observou a pequena janela emoldurar a imagem da imensa faculdade borrada pelo insulfilm escuro. Viu as flores que ainda não se foram sendo empurradas pelo vento gelado que as carregava, a luz fraca do sol de fim de tarde pingando laranja nas paredes como tinta e os reflexos dos corpos apressados que atravessavam os portões de entrada da faculdade.

— Chegamos – anunciou o homem, Jung Hawon, ao volante, com voz rouca e o hálito de bebida forte que fizeram a mente de Hoseok girar mais uma vez.

— Obrigada, pai – Jiwoo sorriu, os lábios bonitos e pintados de vermelho brilhando conforme as palavras saiam.

— Se divirtam, certo? – Disse Joyrin, afastando o os óculos escuros de seu rosto longo e sorrindo com as covinhas aparentes. Às vezes, Hoseok se assustava com as grandes semelhanças entre sua mãe e ele.

— Valeu.

— E preste a atenção, Hoseok – continuou Hawon, antes mesmo que fosse possível abrir as portas do carro – Essas palestras são importantes para você finalmente entender o que quer da sua vida.

Hoseok riu, baixo e sem humor, tombando a cabeça para o lado – Eu já sei o que eu quero da minha vida, você sabe muito bem disso.

— Não, não sei – decretou, com a voz ainda mais rouca do que a primeira vez – Aquelas coisas que você faz no papel não vão te levar a nada. Já conversamos sobre isso, Hoseok.

— Se meus desenhos não vão me levar a nada, então não vou a lugar nenhum. Já conversamos sobre isso, Hawon.

O homem bufou, apertando as próprias mãos sobre o volante de couro – Me surpreende como você é tão inconsequente, Hoseok. Sua irmã nunca-

— Pai – alertou Jiwoo, lhe olhando com os olhos maquiados, mas suaves - Não é hora para isso, vamos acabar nos atrasando.

— Certo, filha. Tem razão – Hoseok revirou os olhos, finalmente soltando-se do sinto de segurança – E de qualquer jeito, Hoseok, espero que pelo menos o exemplo de sua irmã lhe sirva de algo. Não desperdice o tempo dela.

— Até mais, filhos – atravessou Joyrin, com a voz levemente tensa, mesmo soando alegre. Hoseok sabia que não estava – Venho os buscar mais tarde.

— Tchau, mãe – Jiwoo sorriu, também se soltando do sinto – Tchau, pai.

Hoseok apenas suspirou alto e então, abriu a porta do carro junto de sua irmã – Tchau, mãe.

A porta foi fechada num baque suave de ambos os lados, e em poucos segundos, o carro grande já partia rapidamente para longe. Hoseok finalmente pode respirar o ar puro e gélido de domingo, sem os resquícios de bebida que anteriormente o corromperam.

— Ei, tá' tudo bem? – Jiwoo perguntou, cuidadosa e calma, tocando suavemente seus ombros com a ponta dos dedos pequenos.

— Sim – deu de ombros, começando a caminhar em direção às grandes portas de madeira junto da garota – Já estou acostumado, de qualquer jeito.

— Sinto muito – ela suspirou.

— Por?

— Por tudo, sei lá – franziu os lábios vermelhos – Não queria que ele fosse assim com você, Hobi.

tear of love, yoonseok.Onde histórias criam vida. Descubra agora