Capítulo 28

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Terça-feira.

Terça-feira. 205 dias. Ducentésimo quinto dia. Isso é aproximadamente o tempo de gestação de um canguru. Para ser mais exata um canguru já teria 5 dias de vida, em compensação eu tenho mais de 6000 dias de vida à frente de um filhote e não faço ideia do que devo fazer com a minha vida. Enquanto os cangurus se acasalam, enquanto o zigoto é formado, cresce e gera o embrião, enquanto a mamãe canguru carrega o filhote e enfim dá a luz a uma nova vida. Enquanto cerca de 30 cangurus nascem, eu não consigo resolver uma paixonite colegial. Isso é humilhante! Acho que é mais fácil ser um canguru.

Ignorar. Fingir que não ver. Fazer-se de cega.

Esse tem sido o meu lema desde ontem, quando concluí que não sou um canguru e que não posso ficar saltando pela vida. Para mim, Cheryl não existia no momento e pelo que pude notar, eu também não existia pra ela.

— Estou tão feliz hoje! — McCoy colocou-se entre Veronica e Betty, enlaçando as duas em seus braços.

— Por quê? — Veronica perguntou passando um braço pelo pescoço da garota.

— Hoje nós todas vamos almoçar juntas! — Josephine comemorou com um pulinho.

Estávamos em um corredor do colégio, as três andavam na frente enquanto eu seguia logo atrás com Cheryl ao meu lado.

— Azar o meu. — Comentei, sem esperar respostas, olhando para o chão enquanto seguíamos para a sala.

Hoje a Josephine insistiu em querer deixar Cheryl e eu na sala. Segundo ela era preciso monitorar-nos e evitar qualquer desastre. Quem escutasse até pensaria que nós duas estávamos guerreando... Não estávamos!

— Se é ruim pra você, almoce sozinha. — A garota ao meu lado respondeu.

— Se eu não falar com você, não fale comigo. — Revidei sem tirar os olhos do chão.

Não. Isso não é guerrear...

— Não falem assim! — McCoy nos repreendeu.

— Foi ela! — Cheryl e eu dissemos ao mesmo tempo. Isso de nós duas sempre falarmos ao mesmo tempo já estava começando a me incomodar.

Olhei a garota pelo canto do olho e ela me encarava com um bico gigantesco. Revirei os olhos e ela me deu língua.

Infantil. Além de idiota, Cheryl consegue ser infantil.

— Aqui. Seus bebês estão entregues, Josie. — Betty disse assim que paramos em frente à minha classe. Minha. Seria nossa se eu estivesse de bem com Cheryl. — Nos vemos no intervalo e na hora da saída e no almoço e depois do almoço e depois das nossas atividades... As duas. — Apontou para os próprios olhos e depois para nós.

— Tenham uma boa aula e sem ofensas. — McCoy sorriu serenamente.

As três continuaram o caminho até a sala delas. Suspirei e resolvi entrar, mas pelo visto Cheryl teve a mesma ideia que eu. Quando fui passar pela moldura da porta, ela fez o mesmo ao mesmo tempo, nenhuma de nós conseguiu passar e então ficamos imprensadas ali.

— Licença, Toni. — Falou se esforçando pra passar enquanto nossos ombros se esmagavam.

— Passe depois de mim. — Fiz força, mas ela não cedeu.

— Eu já estava indo antes de você!

Dei de ombros e tentei passar, mas a garota continuou parada sem me dar espaço.

— Sai, Blossom. — Grunhi, dando um passo para trás, desistindo.

— Não. — Desistiu também e cruzou os braços. Ela estava tentando me intimidar.

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Onde histórias criam vida. Descubra agora