Capítulo 34

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Sábado.

- "Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Cheryl declamou olhando para o celular, onde lia o tal texto.

- Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.

Ergueu o braço livre e dramatizou recebendo alguns revirar de olhos de Josie, muitos bocejos de Betty e um nada de Veronica que tinha os olhos fechados.

- Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão."

Cheryl terminou a declamação abaixando os dois braços e sorrindo orgulhosa de si mesma. Particularmente eu achei aquela cena linda. Por mim ela poderia ficar procurando textos sobre viagens, partidas e despedidas na internet e declamar todos eles enquanto ninguém está interessado em ouvi-los. Ninguém além de mim... Mas isso não conta muito, não é? Tudo o que ela faz é gracioso, pra mim, e ao mesmo tempo tão idiota que se torna lindo porque ela é idiota, uma idiota linda e os adjetivos bons e ruins se misturam fazendo com que eu nunca entenda ao certo o que, de fato acho, dela. Digo, acho muita coisa, mas... Cheryl consegue tornar as coisas um pouco confusas e eu ser apaixonada por ela só piora a compreensão! Por isso acho que na verdade não sei nada...

- Gostaram? - Cheryl levantou a cabeça fitando nós quatro com curiosidade.

- Aham. - Betty fez pouco caso enquanto mexia no celular sentada sobre as malas.

- Claro! - Josie revirou os olhos.

- Com essa interpretação então... - Veronica riu sonolenta.

- Tee-Tee? - Claro que ela queria minha resposta e eu estava esperando por isso.

- Muito... - Lindo! Você é linda! - Cabível para esse nosso momento. - Sorri sem mostrar os dentes, mas não por não ser sincero, mas por preguiça de abrir os lábios. Ela sorriu de volta e retornou a atenção para o celular.

Sábado. Ainda 307 dias, mas o relógio já marcava 08h:56. Não tivemos atraso com o voo, nem nada deu errado. Estávamos em frente ao aeroporto desde o momento em que havíamos pousado, pegado nossas malas e sofrido por arrastá-las até um carrinho e depois até aqui. Não eu, claro. Mas Veronica precisou de ajuda com aquele ataque mortal de Hello Kitty e Cheryl também teve dificuldade com as tantas malas. Betty carregou tudo sozinha e Josie pediu ajuda a um funcionário do aeroporto. Após isso ligamos para nossos pais e avisamos tudo o que tínhamos para avisar.

- Por que será que nem os nossos pais e nem a gente pensou em como levaríamos isso tudo daqui pro apartamento?! - Veronica perguntou com a voz arrastada.

- Deixamos passar um detalhe importante. - Josephine, que estava muito mal-humorada, explicou. - Deve ter sido a emoção.

- Zangada, seu dever é lembrar do que ninguém se importa em lembrar, sabia? - Betty reclamou sem tirar os olhos do celular.

- Como eu ia pensar nisso se mandei tudo através do correio em caixas?! - Bati o pé me sentindo injustiçada.

- Não importa. Você tinha que pensar no bem coletivo, sua egoísta. - Betty acusou-me.

Revirei os olhos para ela e cruzei os braços. Eu não deveria ligar para as provocações da Cooper, mas até eu mesma me esquecia disso e acabava me irritando até lembrar que não precisava me irritar.

- Moço! - Josephine gritou para um taxista. - Liga de novo, por favor!

Quando passamos pelas portas automáticas, procuramos por um táxi, mas nenhum cabia nós cinco e nem falemos sobre as malas! Mas um motorista disse que a empresa em que ele trabalhava tinha uma van onde tudo caberia apertado, mas caberia. Sendo assim, ele prontificou-se a contatar a central e chamar a tal van. Isso foi há uns 25 minutos atrás, agora some isso com o tempo que gastamos com as malas... Quase uma vida perdida!

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Onde histórias criam vida. Descubra agora