Capítulo 24

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Segunda-feira.

Segunda-feira. 189 dias desde que Cheryl falou comigo pela primeira vez. E agora fazem 7 dias desde que ela falou comigo pela última vez. Esse é o maior tempo em que ficamos sem trocar alguma palavra desde que começamos a trocar palavras. E eu, sinceramente, estava questionando o sentido das palavras quando estas não eram pronunciadas por Cheryl.

Minha cota de faltas na escola durante esse ano já havia sido excedida e por causa disso eu - mesmo que não quisesse - tinha a obrigação de ir ao colégio. Agradeci por ter Veronica contando sobre o encontro durante todo o caminho e me fazendo pensar em alguma coisa que não fosse a pessoa com a letra C.

- Vocês estão namorando agora? - Perguntei após ela repetir seis vezes o quanto os dois combinavam.

- Não. Estamos apenas nos conhecendo.

- Ah.

- Mas bem que podíamos namorar... - Disse sonhadora.

- Quem sabe.

Chegamos ao colégio e avistamos um aglomerado de pessoas em frente ao corredor principal de salas. Veronica segurou em meu braço, puxando-me para a multidão. O burburinho emitido por aquelas pessoas parecia ser de empolgação. Me estiquei na ponta dos pés para conseguir enxergar o alvo das atenções e lá estava uma faixa pendurada no teto: Baile de Formatura, I Want To Know What Love Is.

- O que é isso? - Toquei no ombro de Veronica.

- O baile!

- E esse é o tema do baile? - Ela assentiu e me ignorou, indo falar com algumas pessoas que eram da sala dela.

Mas quem foi o retardado que colocou esse tema para uma baile? Existe tanta coisa legal por aí e eles querem saber o que o amor é. Ainda bem que não quero saber o que o amor é. Ainda bem que não preciso me preocupar com bailes. Não preciso me preocupar com vestidos, nem com sapatos, nem com cabelo ou unhas ou maquiagem e muito menos com um par. Ainda bem que não vou ao baile.

- Amiga! Vamos chamar as garotas para o shopping hoje e vamos comprar nossos vestidos logo! - Veronica chamou a minha atenção.

- Não vou ao baile. - Falei quanto desviava das pessoas e saía daquele amontoado de gente sem graça.

- Vai sim. Eu arranjo um par pra você. Quer quem? A Cheryl? Eu vejo se ela aceita ser seu par por uma noite. - Riu. Engraçada você, né? Ria mesmo das dores alheias.

Revirei os olhos para ela e procurei um banco para sentar e esperar aquela agonia de gente se dispersar. Não demorou muito para que um ser humano loiro passasse correndo entre as pessoas e parasse em nossa frente.

- Já viram aquilo? - Betty perguntou eufórica. - Cara! Vai ser incrível! Quando vamos ver os vestidos?

- Vamos ainda nessa semana! - Veronica respondeu.

"Vamos". Onde é que ficou esquecido aquela parte dos diálogos em que as pessoas perguntam "Você quer ir comigo?"? Agora é só "Vamos". Sorte a delas que eu não estou inclusa nisso porque eu não aceitaria um "Vamos", é quase uma ordem!

Demorei um pouco para notar que Betty estava sozinha ali. A idiota não estava por perto e rapidamente aproveitei para sair correndo até a sala antes que ela aparecesse.

Levantei devagar e arrastei alguns passos, tentando sem discreta.

- Zangada! - Betty gritou.

- Estou atrasada. - Avisei tentando passar por algumas pessoas.

- Te vejo no intervalo! Se não aparecer eu vou atrás! - Ameaçou berrando. Não respondi e segui caminhando.

Eu não vou passar o intervalo inteiro escutando coisas sobre o baile e ainda por cima ter o desprazer de encontrar Cheryl. A propósito, você reparou no tema para o baile? "Eu quero saber o que é o amor". Olha, particularmente, eu não quero saber o que é o amor, não quero ter que prestar atenção nesses sinais do universo - que quer que eu saiba o que é o amor - e muito menos ter que ver um bando de gente achando que faz alguma ideia sobre o que é o amor só porque vão convidar ou serem convidados para ir a um baile. Puff! Vamos acordar para a vida! Ninguém sabe o que o amor é, nem eu mesma sei e ainda assim estou sentindo ele!

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Onde histórias criam vida. Descubra agora