Cris

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Ano 1988. Aeroporto internacional de Guarulhos. Eu estava plantada no saguão principal, segurando uma plaquinha branca na mão, com o nome Cris escrito em azul. Parecia a cena de um filme. Minhas pernas tremiam, meu corpo era assolado por constantes calafrios e minha barriga roncava a todo instante devido ao nervosismo. Com meus 21 anos, confesso que naquele momento me sentia uma menina de 14 ou 15 anos nas primeiras fileiras de um show, aguardando seu ídolo aparecer no palco. Sabe aquelas que gritam, choram e se descabelam, tentando um autógrafo, uma foto ou mesmo um olhar de seu "Rock Star"? Essa era eu.

Caramba, que demora... Por que esse avião não chega logo? Olhei o painel na parede: Voo atrasado! Isso eu já sabia, só queria que eles fossem mais específicos, atrasado quanto? 15 minutos? 1 hora? 1 dia? Que vontade de dar um soco na cara da atendente que me respondeu sem um pingo de educação quando fui perguntar sobre o voo, e daí que era a quinta vez? Ela está ali para ser simpática e não me dizer: Quando ele chegar, a senhorita vai ficar sabendo. Se ela soubesse como meu coração estava 'apertado', tenho certeza que consultaria Deus e o mundo para ser mais precisa em sua informação. Aviões subiam, aviões desciam e nada do voo de Cris chegar.

Eu sentia no peito aquela saudade que dói e machuca ao mesmo tempo. Aquela que tira o apetite e rouba o sono. Que quando uma música romântica toca faz o rosto da pessoa aparecer na mente sem pedir permissão. Se Cris é um astro ou algo do tipo? Não, claro que não. Cris é uma pessoa 'comum' assim como eu, assim como você. O problema é que para mim Cris se tornou alguém imprescindível, assim como o ar é para os pulmões. Todas as noites quando coloco a cabeça no travesseiro, sua imagem vem passear nos meus sonhos. E chega a ser tão real que juro que sinto seu cheiro, toco seus cabelos ou desfruto o calor de seu corpo. Essas 'novelas noturnas' recorrentes acalmam e apaziguam minha alma, isso até eu acordar e ver que estou sozinha abraçada com a solidão. Os bons sentimentos são substituídos por um vazio estonteante. Sofrimento? Minha nossa, isso é uma tortura.

Em 1987 Cris decidiu que tinha que viajar pela Europa, fazendo um 'tour' por vários países, a fim de aprender novos idiomas, novos costumes e novas culturas. Recebi seu convite para seguir junto nessa aventura, mas o medo do desconhecido me fez recuar. Fiquei 1 ano sozinha, desemparada e solitária. O que mais sentia falta era a espontaneidade que Cris tinha. A sinceridade sempre se fazia presente em suas palavras, e o que lhe vinha na cabeça era executado, não importando o lugar ou mesmo quem estava por perto. Eu, por outro lado, já era mais comedida e na minha, quieta e tímida querendo que tudo acontecesse longe dos olhos alheios. Sabe aquela história dos opostos se atraem? Bem, isso se aplica em nosso caso. Fiquei muito abatida quando Cris partiu, o sentimento de ser trocada por uma viagem era tamanho que quando fomos nos despedir tive a oportunidade de dizer tudo o que sentia, mas a mágoa, essa mesma que me corrói a 1 ano, me fez abrir minha boca e só me permitiu dizer:

"Faça uma boa viagem."

Maldição, eu tinha ensaiado mil frases, frases essas que realmente condiziam com o que eu sentia.

"Meu coração está despedaçado. Não vá!"

"Sentirei saudades todos os dias. Fique comigo."

Não sei viver sem você, desista de tudo por mim."

"etc, etc..."

Aposto que qualquer uma delas se dita com sentimentos, seguido de um choro verdadeiro fariam Cris mudar de ideia. Eu podia ver a indecisão em seus olhos quando demos nosso 'último' abraço. Isso até eu dizer aquelas palavras glamorosas. Era como se eu não me importasse, como se sua falta não fosse ser sentida. Aquela frase selou nossos destinos e sua partida com a face entristecida foi a última coisa que guardei na memória. Eu sei que quis parecer durona, para demonstrar que não sofreria, mas estava redondamente enganada. Deixando de demonstrar meus sentimentos eu havia falhado com Cris. Depois, sofri todos os dias do ano, cada misero dia que eu riscava no calendário preso na porta da geladeira, meu coração doía. Sair com outra pessoa para esquecer? Sem chances, a influência que Cris exercia sobre mim não me permitia nem ao menos sonhar com outros braços.

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