Moro em uma cidadezinha do interior, onde andando pela rua fica difícil encontrar um rosto desconhecido. Parece que todo mundo conhece todo mundo. Normalmente para se entrar na casa de um vizinho não é preciso bater, basta gritar: "Oh de casa" e ir literalmente 'invadindo' o lugar. A cidade tem uma usina de cana de açúcar que ocupa mais de 70% da mão de obra local. Faço parte desta porcentagem e trabalho no setor de contabilidade da usina.
Meu maior divertimento no serviço era montar as rodinhas de fofocas e ficar tagarelando dos últimos 'acontecimentos' cotidianos. Os maiores 'bafos' (Situações vergonhosas, ou confusões ou escândalos que ocorrem com as pessoas) aconteciam normalmente nos finais de semana. Acho que isso se dava porque nestes períodos todos tinham mais tempo livre. Ah, como eu gostava de falar mal dos outros. Nunca perdia a oportunidade de criticar alguém, como se eu fosse a perfeição e os outros os imperfeitos. Se o assunto em questão envolvia alguma amiga, eu até aliviava um pouco, mas sempre arrumava um jeito de dar umas 'cutucadas'.
No entanto, o momento de maior diversão em minha semana acontecia aos sábados quando me aventurava no salão de beleza. Eu chegava por volta das 13 horas e só saia lá pelas 16. Mas, muitas vezes estendi meu tempo para perto das 17 horas, só para saber de todas as fofocas detalhadamente, afinal 3 horas não eram suficientes. Todo final de semana essa deliciosa rotina se repetia. Isso mesmo, se repetia, pois a última 'bomba' que surgiu foi o envolvimento do Lucas, encarregado da produção da usina, com a Cibele, do almoxarifado. O que havia de tão grave nisso? Nada, para os outros, para mim só o fato de que o Lucas ERA meu noivo.
Estávamos com casamento marcado, convites enviados, buffet pago e outros tantos detalhes acertados. Até meus padrinhos e madrinhas já estavam com suas roupas compradas, pois eu queria que todos fossem vestidos iguais.
Que vergonha! Eu não tinha mais ânimo para ver ou falar com alguém. Meu desejo era ser uma avestruz para enfiar a cabeça embaixo da terra e não sair dali por pelo menos uns 10 anos. Meu comportamento mudou, eu já não juntava mais as rodinhas de fofoca, quando elas se formavam sem meu consentimento, simplesmente eu me mantinha a uma distância segura. De quanto? Do tanto necessário para que eu não ouvisse uma palavra sequer. O salão de beleza eu tentava evitar, mas quando a abstinência se tornava insuportável, eu ia depois das 18 horas, justamente para não ter que encontrar muita gente. Sentava-me na cadeira e pedia: Você pode ser rápida com tudo que estou com pressa? Quantas vezes não voltei com as mãos ou os pés feitos pela metade.
Arrasada e com vergonha de tudo e de todos, pedi férias do trabalho e não saia mais de casa. Se, por um acaso, surgisse a necessidade de ir a algum lugar, como o mercado ou a farmácia, eu praticamente me 'transformava' em outra pessoa, fazendo uso de chapéus, óculos escuros e diversos outros apetrechos. Se isso funcionava? Na prática, acredito que não, pois em vez de evitar, atraía mais olhares. Mas de certa forma essas ações acalmavam minha mente. A cada olhar que recebia, parecia que vinha carregado com o seguinte lembrete.
Aí vem uma corna (pessoa traída pelo parceiro ou parceira).
Era ruim, porém, creio que o pior se dava no momento em que um grupinho falava ou ria alegremente e quando notavam minha presença os sons emudeciam, eu logo pensava:
Meu nome está na roda.
Depois que tudo veio à tona, fucei no celular do meu ex-noivo sem ele saber e descobri que o sem vergonha adorava falar sobre nós no grupo do WhatsApp (aplicativo de mensagens instantâneas para celulares) de seus amigos. Principalmente, quando o assunto se referia a nossas transas, suas descrições eram muito minuciosas. Falava das coisas que eu não gostava e das que não mudavam.
Minha mulher é muito careta e tradicional, para sair do papai e mãe só se o mundo acabar.
Ou
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Rapidinhas Eróticas
RandomOlá! Eu sou Chirswryter Meus livros: Disponiveis na Amazon,e também aqui no wattpad (alguns como "degustação") -- Hi deu ruim (contos curtos) -- Rapidinhas Eróticas (contos curtos) -- 4 contos de tirar o fôlego (contos longos) -- Elos Intensos (con...