Vermelho não, rosa é a cor do natal

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Maldita hora em que fui pensar em colocar a estrela na ponta da árvore de Natal. A decoração com bolas coloridas e as luzes do pisca-pisca transformavam o pinheiro numa atração magnífica. O caule rodeado de presentes preenchia a sala com um clima natalino deslumbrante. E por conta de deixar tudo isso ainda mais atrativo e de dar minha contribuição, decidi colocar a estrela no topo daquela obra de arte. Era a cereja que faltava em cima do bolo. Juro que minha intenção se limitava a ajudar e poupar um pouco os esforços da minha mãe, que desde a manhã corria feito louca a fim de deixar tudo pronto para a ceia natalina logo à noite. Contudo, por uma infelicidade da vida e fazendo valer minha falta de habilidade em calcular distâncias, errei minha passada e acabei escorregando. Desequilibrei-me e fui ao chão, por sorte, minha queda foi amortecida por um dos embrulhos, o mais bonito deles por sinal.

O som de vidro quebrando foi nítido e fez soar dentro de mim um sinal de alerta. Minha mãe veio correndo da cozinha. Quando vi sua cara de desespero, olhando em minha direção procurei tranquilizá-la.

"Não se preocupe, estou bem." Mesmo após o meu anúncio certificando de que nada de mais grave havia acontecido, ela avançou. Estiquei o braço para receber seu apoio e me levantar, porém, meu braço ficou perdido no ar enquanto ela passava por mim e se agachava para pegar o embrulho danificado.

"Jéssica, não acredito que você estragou o presente da Mariane!"

Oooiiieee, acabei de dizer que estou bem, obrigada.

"O que foi que SUA filha aprontou dessa vez?" Indagou meu pai com nítidos traços de mau humor em sua voz.

"SUA filha," era assim que a coisa funcionava em casa quando meu pai ou minha mãe se referiam a mim um para o outro. Eu me via sempre rotulada como uma filha bastarda e o detalhe significativo ficava por conta da enorme ênfase dada a palavra 'SUA'. "Acabou de estragar o presente da nossa Mariane."

Acho que não preciso nem dizer que Mariane é minha irmã e pela designação do 'nossa' dava para perceber que ela ocupava o posto de queridinha da casa. Nenhum dos dois sequer se 'lembrava' de ao menos conferir se eu estava bem.

Meu pai fez uma careta ao sentir o aroma em excesso de uma fragrância terrivelmente adocicada.

"Minha nossa, que cheiro é esse?"

"Não acabei de dizer que SUA filha quebrou o presente da nossa Mariane propositalmente?"

Propositalmente? Minha cara de incredulidade não podia representar melhor o que eu senti ao ouvir as palavras surreais da minha mãe, mas é claro que nenhum dos dois reparou nisso. Eu não fiz de propósito, só estava querendo ajudar, deixando a árvore de natal mais bonita. Evidente que essas palavras ficaram apenas nos meus pensamentos. Quem iria acreditar em mim?

Meu nome é Jéssica, tenho uma irmã dois anos mais velha, Mariane. E não sei se é o fato dela estar cursando faculdade fora, ter sempre tirado as melhores notas e passado com louvores em todos os cursos e concursos que fez na vida, enquanto eu ainda estou fazendo cursinho (pela terceira vez diga-se de passagem) e na maioria das vezes preciso de um puxão de orelha dos meus pais para ir bem nas coisas que faço, que ela é vista como a 'bênção ou salvação da casa', enquanto eu, fico com o título de a 'ovelha negra da família'. Ou será que simplesmente o fato de ter nascido primeiro fez ela ganhar todos as atenções e simpatias da família que não sobrou nada para mim além de críticas e reprovações?

Desde que eu me conheço por gente as coisas funcionam dessa maneira e não tinha cara de que poderia mudar um dia. Mesmo com minha irmã desfrutando do péssimo hábito de ser ciumenta ao extremo com suas coisas. Mexer ou usar seus pertences sem permissão, significava começar uma guerra que com certeza você perderia. Mesmo esse defeito era visto por meus pais como uma qualidade admirável, pois significava que ela lutava pelo que lhe pertencia. Eu e minha irmã nunca nos demos bem, brigávamos demais e confesso que fiquei muito feliz quando ela foi estudar em outra cidade, isso significava um pouco de paz em minha vida, mas seu namoro sempre fazia com que ela retornasse nos finais de semana, o que significava um pequeno período de inferno astral em minha vida.

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