Ato 04.

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Escapar da prefeitura foi outro desafio dos complicados para Alice, mais complicado que ela esperava. Logo após desligar o rádio onde falara com o policial o som que vinha do lado de fora da sala onde estava tornou-se intenso e agudo, o som desconexo e incompreensível das feras canibais que haviam se tornado as pessoas infectadas pelo vírus experimental. Não havia como voltar, não apenas pelo fato de que ela não seria capaz de abatê-los todos, mas também pelo fato de que não dispunha de munição nem armamento suficientes para tal feito. Sem mais opções a mulher abriu a única janela do lugar e olhou para baixo, três andares de altura.

Os jardins que circundavam a prefeitura estavam infestados dos monstros. A loira suspirou fundo e pensou consigo mesma se conseguiria sair viva dali. Como as coisas tinham ficado daquele jeito? Ela sabia que as várias pesquisas com cobaias humanas da Corporação Umbrella resultavam em mortes, mas jamais imaginara que a empresa tivesse potencial para reanimar qualquer ser vivo. Agora ela via que eles estavam muito mais avançados do que poderia supor. Por ironia ela e um amigo tinham a intenção de expor a companhia para as autoridades, revelar para todos os testes em humanos e derrubar a fachada que a Umbrella usava se passando por desenvolvedora de software e medicamentos. Nada havia saído como eles planejaram e ela só se lembrava de haverem sido capturados enquanto fugiam do laboratório infestado daquelas mesmas criaturas que agora assombravam a cidade toda.

“Matt” – pensara ela lembrando do amigo que não mais vira desde a invasão ao laboratório subterrâneo. Não havia tempo para ficar ponderando, talvez ele tivesse escapado como ela, talvez não, talvez estivesse morto, mas ficar ali remoendo fantasmas não a levaria a lugar algum.

Saltando da janela para os galhos de uma árvore próxima, a mulher desceu na calçada da rua ao lado do prédio. Haviam mais criaturas pelas ruas do que ela pensara, mas não tinha escolha, cada minuto perdido ali era uma chance a mais de morrer junto com a cidade.

De acordo com o que o policial Leon lhe dissera haviam diversas patrulhas estacionadas no pátio da delegacia, não muitas quadras longe de onde ela se encontrava. O pátio talvez estivesse já com seus portões arrombados, mas mesmo que não o estivessem, com as armas que possuía não seria difícil invadir. Com sorte um dos veículos teria combustível e então bastava uma ligação direta para escapar daquele inferno antes que a corporação decidisse erradicar provas e pistas sobres suas verdadeiras atividades na cidade.

Infelizmente, correr pelas ruas de Raccoon não era exatamente um passeio no parque dada a situação atual. “Zumbis”. A mulher lutava contra suas próprias crenças ao correr e desviar-se dos mortos que caminhavam por toda parte. Como poderia aquilo ser real, uma praga de zumbis? Parecia coisa de cinema, como aqueles filmes horríveis adaptados de jogos que um diretor chamado Paul fazia. Felizmente ela não via pessoas com poderes mutantes correndo pelas ruas como nos filmes de que se lembrava. Mesmo assim o caos imperava de forma que ela nunca antes havia visto ou sequer imaginado, haviam árvores e postes caídos, carros batidos por toda parte, os gritos ao longe indicando sobreviventes, mas nenhum que ela pudesse ver e para piorar tudo o sol estava se pondo, logo a escuridão iria reinar.

Alice se assustou por um breve momento quando uma mulher surgiu saltando de sobre um carro batido contra uma parede e caiu ao lado dela. Era uma mulher de estatura média, tinha cabelos castanhos na altura dos ombros, olhos azuis bem claros e lábios rosados. Vestia uma mini saia preta e blusinha azul tomara-que-caia, botas de cano alto e uma blusa de moletom branca amarrada na cintura. Tinha um coldre de peito com duas bolsas para armas, mas estava com as duas pistolas na mão. No mesmo instante em que caíra no chão de cima do carro apontara a arma na direção de Alice e atirara, três disparos. A loira ouviu os tiros passarem zunindo do lado de sua cabeça e ao se virar rapidamente viu os zumbis que caíam ao chão. Aquela não era uma mulher comum, era alguém com treinamento militar avançado, Alice sabia reconhecer isso quando via, se ela quisesse, a loira de olhos azuis teria morrido ali naquele mesmo instante.

—Rápido, corra, precisamos sair daqui, ele está vindo! – gritou ela.

—Ele quem? – perguntou Alice ao mesmo tempo que a resposta vinha através de ação. Um ônibus escolar viera literalmente arrastando-se pelo chão na direção das duas e por uma fração de segundos, se não se lançassem ao mesmo tempo para o lado, teriam sido esmagadas contra um muro onde o mesmo colidira. A loira já estava pronta para perguntar o que estava acontecendo quando viu a criatura novamente.

O monstro vinha correndo na direção das duas, aquela mesma criatura que havia atirado contra a loja de Robert com a metralhadora quando Alice estava lá. Ao ver novamente aquele ser gigantesco e assustador a mulher tremeu dos pés à cabeça e travou por alguns segundos no lugar onde estava. Nesse momento todos os anos de treinamento avançado em lutas, armas e técnicas de sobrevivência nos postos avançados da Umbrella pareciam não lhe significar nada. Alice sentiu que morreria ali, mas foi tirada do transe momentâneo ao ouvir a voz da outra mulher gritar. “Fuja, ele está atrás de mim!” – disse a outra. “Como assim?” – pensou a loira.

Nesse momento a mulher percebeu diferenças sutis na criatura, mesmo que breves, mas estavam lá. O traje negro de couro tinha marcas de costura diferentes e também as marcas de cicatrizes deixadas por cirurgias no rosto medonho e apavorante eram outras. O ser tinha os olhos brancos, era como se não enxergasse, como se fosse guiado por sua audição ou alguém o estivesse controlando de uma forma remota. Os dentes à mostra na boca sem lábios não permitiam que o monstro falasse, mas era possível ouvi-lo grunhir.

Então, de repente, ao mesmo tempo em que a mulher o encarava o monstro parou. As duas mulheres então ficaram também imóveis enquanto o monstro ficava ali, parado, como se as encarasse. Segundos depois, um som pode ser claramente ouvido grunhido pela criatura:

“ALICE!”.

—Como é que é?! – resmungou a loira enquanto a criatura voltava a correr em sua direção.

A morena então correu e parou ao lado da loira, sacando as duas armas e atirando sem parar. “Parece que ele quer você agora, atire se quiser viver!” – disse. Alice então sacou as duas pistolas que tinha em seu poder e começou a atirar, mas as balas penetravam o traje e a pele do monstro como se ele estivesse sendo picado por moscas. Foi então que a mesma viu o que poderia ser a salvação de ambas, um dos postes com a caixa de fusíveis funcionando e soltando faíscas. Sem pensar – afinal, não havia tempo para isso – a mulher deixou de atirar no monstro e começou a atirar nos fios. Ao passar pelo poste, assim como planejado, os fios de alta tensão que balançavam lançando faíscas por toda parte se enrolaram no mesmo e ele finalmente pareceu abalado por alguma coisa. Aproveitando-se do momento de paralisia do gigantesco ser Alice aproximou-se e sacando da escopeta deu vários disparos concentrados na cabeça da criatura. Vendo que a criatura caíra de joelhos a outra mulher aproximou-se a passou a atirar da mesma forma. Por fim a aberração tombou. Alice aproximou-se a apanhou o minúsculo fone que o monstro tinha perto de onde deveria haver um ouvido. Em meio aos ruídos ela pode ouvir poucas e reveladoras palavras:

“A mulher dos S.T.A.R.S. escapou. O alvo prioritário, Projeto Alice também. É inacreditável, mas elas derrubaram o protótipo Tyrant Tipo Nemesis 05. Informe a localização das mesmas aos outros protótipos próximos imediatamente”.

O som desapareceu em seguida. Nenhum ruído, o rádio havia sido desativado. Então aquela mulher era um membro dos S.T.A.R.S., a força-tarefa policial de Raccoon – pensou Alice. A julgar pelos trajes, a mesma havia sido pega no meio daquela confusão em sua folga.

—Creio que vamos ter mais chances de continuarmos vivas se ficarmos juntas. Essa coisa estava me seguindo fazia um tempo já. Sou Jill, Jill Valentine.

Alice pensou por um instante se a policial havia também escutado o que ela mesma ouvira do fone da criatura abatida ou mesmo se as palavras do monstro ao identificá-la como alvo haviam sido para a outra de alguma importância. Por fim, decidira não se revelar.

—Sou Jennifer, acho que sei como podemos sair desse inferno!

Resident Evil: Wonderland ProjectOnde histórias criam vida. Descubra agora