Ato 05.

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As duas mulheres não tiveram dificuldades em chegar até o estacionamento mesmo com o crescente número de mortos ressuscitados pelo vírus que caminhavam pelas ruas. No entanto, Alice mais uma vez confirmara que aquele seria o dia mais complicado e difícil de sua vida. O gigantesco portão de metal que guardava a entrada era trancado por cartão magnético e mesmo com tiros seria impossível arrombá-lo, para não citar o fato de que os tiros atrairiam mais e mais criaturas para perto delas. Felizmente Jill, a mulher com quem a loira encontrara-se era membro dos S.T.A.R.S., a força-tarefa policial de Raccoon, como a S.W.A.T. das grandes metrópoles e encontrara uma solução para o problema, não a mais fácil, mas ao menos a mais rápida e talvez mais prática. A Delegacia de Polícia de Raccoon ficava bem ao lado do estacionamento e lá havia uma sala que pertencia aos membros dos S.T.A.R.S., onde haviam cartões de acesso e cópias das chaves de todos os veículos oficiais e apreendidos na cidade.

Correndo como o diabo correria da cruz as duas entraram na delegacia pela porta da frente, que como esperado já havia sido arrombada. Mas não antes que Alice pudesse ver os problemas que se seguiam. Um grupo de soldados vestidos com trajes negros e distintos corriam na mesma direção que elas e a julgar pelo barulho de tiros de vários calibres que ouvia, estavam se dirigindo para aquele prédio à procura de abrigo e o pior, não estavam fugindo dos mortos-vivos que haviam tomado as ruas. Ainda tentando manter seu disfarce, se é que tinha um, Alice decidiu não avisar para a outra que logo teriam companhia, ao contrário disso, assim que passaram pelas portas duplas da entrada que avançou pela próxima na direção de onde havia a sala que Jill havia mencionado. Se ouvisse o som de tiros próximos ou qualquer indício de que haviam mais pessoas por perto, bastaria escapar por uma das portas laterais ou qualquer janela. Em algum lugar no fundo de sua mente a mulher se perguntava se não teria sido melhor se tivesse continuado a dormir sob o efeito da anestesia na maca do hospital.

Alice e Jill haviam acabado de subir um lance de escadas e estavam poucos metros da sala dos S.T.A.R.S. quando os problemas voltaram e dessa vez maiores do que antes. Um objeto do tamanho de uma bola de beisebol atingira o vidro da janela do corredor que estilhaçara-se em milhares de pequeninos fragmentos como pequenos cristais de gelo pelo ar. Contudo, ao atingir o chão o som de metal característico fez com que as mulheres saltassem cada qual para a cobertura mais próxima. Alice entrara por uma porta em menos de um segundo e apenas ouvira o gigantesco estrondo causado pela explosão. “Jill está morta” – pensou ela. Imediatamente usando o protocolo para o qual havia sido treinada escondera-se debaixo de uma escrivaninha próxima à porta, em um ângulo onde facilmente poderia imobilizar um oponente que passasse por ela. Menos de um segundo depois o som da porta se abrindo com força pode ser ouvido em meio aos ruídos da destruição causada pela granada.

—Tudo limpo – disse uma voz metálica, dessas quando a pessoa que fala está usando uma máscara – Tudo aqui continua do mesmo jeito de antes, vamos no mover antes que aqueles malditos Echo Six nos localizem, com sorte os surpreenderemos em breve.

—Por acaso agora é você o novo líder da equipe? – disse uma outra voz, dessa vez uma voz feminina – Vamos em frente e tente não destruir tudo pelo caminho, Hector.

Silêncio. Alice não se moveu, parecia que nem mesmo respirava. O silêncio rompeu o tempo por quase dez minutos. Nenhum novo sussurro, nada. Enfim a mulher saiu debaixo da mesa e observou o que havia sobrado do corredor com cautela. Apenas destroços, mas felizmente nenhum vestígio de companhia, nem soldados nem as criaturas. A sala dos S.T.A.R.S. ficava logo à frente. Nenhum vestígio de Jill também, teria ela escapado?

Alice entrou na sala passo a passo. Embora já estivesse escuro e as luzes estivessem apagadas ainda era possível ter uma visão clara de tudo na pequena sala graças às luzes que adentravam pelas frestas nas janelas quebradas.

De repente e mulher ouviu o click, aquele som simples que faz muitos gelarem a espinha, o click de uma arma sendo engatilhada. Ao contrário de muitos, Alice reagiu, era preciso treinos e aperfeiçoamentos constantes para reagir diante de uma arma de fogo, quanto mais sem ver de que ângulo esta arma estava a lhe mirar. Pelo som a loira sabia que a arma estava a precisos cinco centímetros de sua nuca e presumia que seu atirador estivesse em pé empunhando-a com o braço direito esticado em linha reta. Ao mesmo tempo em que girara o corpo Alice também sacou de uma pistola no coldre de sua coxa e mirando na direção de seu alvo atirou três vezes. A outra pessoa, no entanto, esquivara-se correndo ao mesmo tempo em que também atirava. Cerca de sete disparos de cada lado, as armas tornaram-se silenciosas, mas isso não fez as duas mulheres que as empunhavam diminuírem suas fúrias. A pessoa que apontara a arma em direção à cabeça de Alice era uma mulher asiática de cabelos curtos, olhos claros e finos lábios rosados. Trajava-se com um vestido vermelho e não carregava armas de grande porte, tampouco equipamentos para uma missão de longo prazo. As duas se atacaram com socos e chutes até que pararam se estudando, se observando de alguns metros.

—O que o brinquedinho da Umbrella está fazendo solto por aqui? – perguntou a mulher de vestido vermelho em tom de escárnio – Imaginava que a essas horas já estivesse longe.

—Ada Wong – berrou Alice – Sei quem você é, espiã profissional, ladra, assassina, diversas vezes contratada pela Umbrella para realizar seus trabalhos mesquinhos, o que faz aqui? Pelas roupas me parece que foi pega no meio da folga? Ou eles pretendem lhe deixar para ir para o esgoto juntamente com as sobras da cidade?

—Então parece que nos conhecemos, Projeto Alice – responde a espiã, sorrindo – Eu diria que dessa vez tenho minhas razões para estar por aqui, mas nada que lhe diga respeito. De qualquer forma, não entendo o que faz solta pela cidade assim. Revelou-se contra a companhia? Fugiu? Ou eles encontraram outro rato de laboratório e você deixou de ser útil?

—Não sei do que você está falando, o que quer dizer com “Projeto”? – indagou Alice.

—Dê uma olhada você mesma – disse Ada, abrindo uma gaveta e apanhando uma pasta de capa amarela com a marca “Confidencial” – Sua companhia tem gente em todo lugar, até mesmo entre os respeitados S.T.A.R.S. e você foi a responsável por tudo o que está acontecendo e aparentemente também a responsável pela mudança de planos. Mas se está livre pela cidade ou não é mais útil ou algo aconteceu. Sinceramente não me importo.

Antes que Alice pudesse perguntar qualquer coisa o som estridente de metal e o ruído ensurdecedor da metralhadora giratória se fez ouvir por toda parte. As paredes começaram a tremer e logo uma tempestade de balas de grosso calibre começara a adentrar a sala. Alice sequer tivera tempo para pensar, deitara-se no chão rezando para continuar viva nos próximos minutos. Por sorte suas preces foram ouvidas. O ruído parara e a mulher abrira os olhos, viva.

Pelo enorme buraco aberto pelas balas na parede Alice podia ver bem no meio da rua outra daquelas criaturas gigantescas de uniforme negro que estavam destacadas para caçá-la. Sua única opção era fugir, outra vez. Ada havia desaparecido, nenhum sinal da espiã, sequer um traço de sangue que indicasse que havia se ferido. Os papeis ainda estavam sobre a mesa. Antes de sair correndo novamente Alice agarrou a pasta e levou consigo.

Ela precisava de respostas e ao que lhe constava, as respostas estavam ali.

Resident Evil: Wonderland ProjectOnde histórias criam vida. Descubra agora