Quarenta e cinco

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O céu era pintado com o novo amanhecer que nascia, e Jimin observava aquilo através da janela do quarto de hospital.

Não havia dormido naquela noite. Não porque havia sentido dor, os remédios eram bons em aliviá-las e a fisioterapia estava indo bem, visto que ele já conseguia ir até o banheiro sozinho, com tanto que usasse as muletas para apoio.

E aquilo era tão frustrante...

O Park, entretanto, tinha a ponta do nariz acesa em vermelho. Seus olhos estavam cintilantes, o castanho nunca havia estado tão brilhante. Os caminhos como rios frios de inverno, que as lágrimas pintavam no travesseiro ainda era vívido e ele sabia que precisava logo cessar aquele choro ou alguém o veria.

Mas estava com tanta raiva ainda em si, tanta saudade, tanto cansaço que se misturava a outros tantos sentimentos que simplesmente não conseguia parar.

Talvez aquela fosse a quinta vez que chorava desde que pediu para Jungkook ir para casa ficar com o filho que agora tinham juntos, e também havia pedido para ficar um pouco sozinho.

Estava aproveitando o tempo só para liberar tudo aquilo. O ar faltava em seus pulmões em determinada hora e sempre precisava puxar uma grande parcela para supri-los ou acabaria desmaiando.

Seus soluços doíam, seu peito balançava e seu choro sempre retornava. Estava um caos.

Porém, com esforço e alguns minutos de concentração a nova neve que estava caindo, Jimin conseguiu cessar as lágrimas. Agora estava quieto, enrolado com dois cobertores aquecidos e respirando com suavidade enquanto via os pequenos flocos de água congelada cair do céu numa delicadeza sem igual.

Ver a neve sempre foi tranquilizante ao Park, ele adorava a calma com que ela descia e tocava qualquer superfície.

Lembrava-no da dança. Da suavidade de um movimento exato que, mesmo não aparente, necessitava de um esforço único para que não perdesse a delicadeza.

E Jimin adorava dançar como a neve.

Suspirou, lembrando-se do que se negava a lembrar.

Como seria dançar depois de tudo aquilo?

Será que um dia voltaria?

Ele já acreditava que não.

Já era exaustivo para o corpo e a mente ter de se erguer apenas para ir ao banheiro, quem diria voltar a dançar?

Tinha noção de que parte de sua vida acabaria quando ele entendesse que não iria mais voltar a dançar, por tanto se recusava a pensar em qualquer coisa que remetesse ao balé.

Suspirou pesadamente outra vez, tentando focar sua mente em qualquer outra coisa. Não conseguia com tanta frequência, por mais que sempre buscasse qualquer uma das cartinhas que Kwan ainda continuava a fazer e lhe entregar ou até mesmo assistir à TV. Tudo parecia cansativo ao seu ver.

Mas, como um rápido e certeiro raio caindo no chão, a porta do quarto se abriu e a atenção de Jimin foi toda levada para lá.

Talvez fossem cinco da manhã? Não era sequer comum receber visitas naquele horário.

Mas lá estava. Park Boram.

Os olhos de Jimin acenderam com seu corpo que sentiu coisas demais em um segundo apenas. Quis gritar, expulsá-la quando a viu dar um passo incerto para dentro, mas apenas ficou quieto, calado, olhando-a em sua mais desconfortável consciência.

A mulher estava mais magra, continuava bonita, mas seu rosto parecia cansado.

Seus olhos percorreram por Jimin, por suas muletas de apoio e pelas cartas que pintavam de arco-íris o quarto sem vida.

Sex Angel - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora