6-Antes

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A cada dia fica mais frio. De manhã, encontramos a grama coberta de geada. O ar

gelado faz meus pulmões arderem quando corro; as margens do rio têm uma

camada de gelo fino, que se quebra em volta de nossos tornozelos à medida que

avançamos na água carregando os baldes. O sol está preguiçoso, caindo atrás do

horizonte cada dia mais cedo, depois de uma passagem fraca e insípida pelo céu.

Estou ficando mais forte. Sou uma pedra sendo erodida pela passagem lenta de

um fluxo d’água; sou madeira sendo carbonizada pelo fogo. Meus músculos são

cordas, minhas pernas são blocos de madeira. As palmas das minhas mãos estão

cheias de calos — assim como as solas dos meus pés, grossas e ásperas como

pedra. Nunca deixo de correr. Todas as manhãs eu me ofereço para ir buscar água,

embora devêssemos nos revezar. Em pouco tempo carrego sozinha, sem parar

nenhuma vez, os dois baldes durante todo o caminho até o acampamento.

Alex passa por mim, surgindo e sumindo nas sombras, percorrendo o caminho

de árvores vermelhas e amarelas. No verão ele estava mais intenso: eu via seus

olhos, o cabelo, um lampejo do cotovelo. À medida que as folhas começam a cair e

mais e mais árvores ficam nuas, ele é uma sombra completamente negra,

tremulando em minha visão periférica.

Estou aprendendo também. Alistar me mostra como as mensagens nos são

enviadas, como os simpatizantes do outro lado nos alertam de carregamentos que

estão para chegar.

— Venha — chama ele certa manhã, depois do café.

Azul e eu estamos na cozinha, lavando pratos. Ela nunca se abriu para mim.

Responde às minhas perguntas apenas com movimentos de cabeça. Sua pequenez,

sua timidez, seus ossos tão finos: quando estou com ela, não consigo deixar de

pensar em Grace.

É por isso que a evito o máximo possível.

— Aonde? — pergunto a Alistar.

Ele sorri.

PandemônioWhere stories live. Discover now