Abro os olhos, engolfada pela dor. Por um segundo, tudo são cores rodopiantes, e
tenho um momento de pânico total — Onde estou? O que aconteceu? —, mas
então formas e contornos se ajustam. Estou em um quarto de pedra, sem janelas,
deitada em um catre. Em minha confusão, penso que talvez eu tenha voltado para o
abrigo e que estou no quarto da convalescença.
Mas não. Este quarto é menor e mais sujo. Sem pia, só um balde no canto, e o
colchão no qual estou deitada é fino e manchado, sem lençol.
As lembranças voltam: a manifestação em Nova York; a entrada do metrô; a
horrível cena dos guarda-costas. Eu me lembro da voz rouca em meu ouvido:
Calminha aí.
Tento erguer o corpo, mas imediatamente preciso me deitar, tão forte que é a
explosão atrás dos olhos, como a pressão exercida por uma faca.
— Água ajuda.
Desta vez eu me ponho sentada, e me viro apesar da dor. Julian Fineman está
sentado em um catre estreito atrás de mim, a cabeça encostada na parede,
observando-me com os olhos pesados, entreabertos. Ele segura uma caneca de lata e
a estende em minha direção.
— Trouxeram mais cedo.
Um corte longo e fino vai de seu supercílio até o queixo, a extensão toda
coberta de sangue seco, e há um hematoma do lado esquerdo da testa, bem abaixo
da linha do cabelo. Há uma lâmpada pequena no quarto, bem alta no teto, e sob o
brilho branco o cabelo dele é da cor de palha.
Meus olhos vão imediatamente para a porta atrás dele, e ele balança a cabeça.
— Trancada por fora.
Então... prisioneiros.
— Quem são eles? — pergunto, apesar de já saber.
Devem ter sido os Saqueadores que nos trouxeram para cá. Penso naquela cena
infernal que vi nos túneis, um guarda pendurado e outro com uma faca nas costas…
YOU ARE READING
Pandemônio
RandomEm Pandemônio, o segundo livro da série, Lena Haloway está dividida entre o "antes"- que mostra seu sofrimento por ter perdido Alex ao mesmo tempo que precisa se transformar em alguém forte o suficiente para sobreviver na Selva - e o "agora", seu co...