9-Agora

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Abro os olhos, engolfada pela dor. Por um segundo, tudo são cores rodopiantes, e

tenho um momento de pânico total — Onde estou? O que aconteceu? —, mas

então formas e contornos se ajustam. Estou em um quarto de pedra, sem janelas,

deitada em um catre. Em minha confusão, penso que talvez eu tenha voltado para o

abrigo e que estou no quarto da convalescença.

Mas não. Este quarto é menor e mais sujo. Sem pia, só um balde no canto, e o

colchão no qual estou deitada é fino e manchado, sem lençol.

As lembranças voltam: a manifestação em Nova York; a entrada do metrô; a

horrível cena dos guarda-costas. Eu me lembro da voz rouca em meu ouvido:

Calminha aí.

Tento erguer o corpo, mas imediatamente preciso me deitar, tão forte que é a

explosão atrás dos olhos, como a pressão exercida por uma faca.

— Água ajuda.

Desta vez eu me ponho sentada, e me viro apesar da dor. Julian Fineman está

sentado em um catre estreito atrás de mim, a cabeça encostada na parede,

observando-me com os olhos pesados, entreabertos. Ele segura uma caneca de lata e

a estende em minha direção.

— Trouxeram mais cedo.

Um corte longo e fino vai de seu supercílio até o queixo, a extensão toda

coberta de sangue seco, e há um hematoma do lado esquerdo da testa, bem abaixo

da linha do cabelo. Há uma lâmpada pequena no quarto, bem alta no teto, e sob o

brilho branco o cabelo dele é da cor de palha.

Meus olhos vão imediatamente para a porta atrás dele, e ele balança a cabeça.

— Trancada por fora.

Então... prisioneiros.

— Quem são eles? — pergunto, apesar de já saber.

Devem ter sido os Saqueadores que nos trouxeram para cá. Penso naquela cena

infernal que vi nos túneis, um guarda pendurado e outro com uma faca nas costas…

PandemônioWhere stories live. Discover now