22-Antes

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Cada um vai para um lado, todos apavorados e cegos. Não tivemos tempo para

carregar as armas, não temos força para lutar. Minha faca está na mochila, inútil

agora. Não há tempo para pegá-la. Os Saqueadores são rápidos e fortes: maiores do

que se espera de qualquer pessoa normal, eu acho; maiores do que qualquer pessoa

que mora na Selva deveria ser.

— Por aqui! Por aqui!

Graúna corre à minha frente, arrastando Sarah pela mão. Sarah está assustada

demais para chorar. Mal consegue acompanhar Graúna. Está tropeçando na neve.

O pavor é uma pulsação batendo no peito. Há três Saqueadores atrás de nós.

Um deles segura um machado. Chego a ouvir a lâmina assobiando no ar. Minha

garganta está queimando, e a cada passo meu pé afunda quinze centímetros, de

forma que tenho que puxar as pernas para seguir em frente. Minhas coxas estão

tremendo por causa do esforço.

Chegamos ao topo de uma colina e de repente surge um amontoado de pedras

enormes à nossa frente, que lembram pessoas juntas tentando se aquecer. As pedras

estão escorregadias por causa do gelo e formam uma série de cavernas interligadas,

bocas negras onde a neve não penetrou. Não há como contorná-las nem como subir.

Seremos capturadas aqui, encurraladas como animais.

Graúna fica paralisada por apenas um segundo, e o pavor é visível em todo o

seu corpo. Um Saqueador corre em sua direção; dou um grito. Ela desperta e arrasta

Sarah para a frente de novo, indo direto para a pedra, pois não há mais para onde

correr. Vejo-a mexendo no cinto em busca do facão. Seus dedos estão sem jeito,

congelados. Ela não consegue tirar o facão da bainha, e percebo, com desalento, que

pretende enfrentar o inimigo. É o único plano dela; vamos morrer aqui, e nosso

sangue vai manchar a neve.

Minha garganta está arranhando, doendo; galhos nus açoitam meu rosto, e

meus olhos se enchem de lágrimas. Há um Saqueador perto de mim agora, tão

perto que ouço sua respiração pesada e vejo sua sombra correndo em sintonia com a

minha: à nossa esquerda, figuras gêmeas projetadas na neve em tamanho esticado.

Neste momento, logo antes de ele me alcançar, penso em Hana. Duas sombras nas

ruas de Portland; o sol quente e alto; pernas correndo em sintonia.

E então não há mais para onde correr.

— Vá! — grita Graúna, empurrando Sarah para a frente, para um espaço escuro,

uma das cavernas formadas pelas rochas.

Sarah é pequena, deve caber ali. Com sorte, os Saqueadores não vão conseguir

pegá-la. Então sinto a mão de alguém em minhas costas e vou tropeçando até cair

de joelhos. Meus dentes trincam quando batem no gelo. Viro-me de costas, ainda

deitada, a quinze centímetros da parede de pedra.

Ele está acima de mim: um monstro gigante e malicioso. Ele levanta o

machado e a lâmina brilha ao sol. Estou assustada demais para me mexer, para

respirar, para chorar.

Ele tensiona os músculos, pronto para baixar o machado.

Fecho os olhos.

Um tiro de rifle explode no silêncio, e depois mais dois. Abro os olhos e vejo

o Saqueador acima de mim cair para o lado, como um marionete cujas cordas foram

cortadas de repente. O machado cai na neve com a lâmina para baixo. Dois outros

Saqueadores também caíram, atingidos por balas: o sangue deles se espalha na

brancura.

Então eu os vejo: Prego e Alistar vêm correndo em nossa direção, rifles nas

mãos, magros, pálidos, maltrapilhos e vivos.

PandemônioWhere stories live. Discover now