12-Antes

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Durante três dias o tempo se mantém bom. A floresta é uma sinfonia de estalos e

estrépitos, o gelo das árvores e do rio derretendo lentamente. Grossos pingos

d’água da cor de pedras preciosas caem em nossa cabeça à medida que nos

deslocamos pela mata à procura de frutas, esconderijos de animais e bons locais

para caçar. O clima é de libertação e celebração, quase como se a primavera tivesse

chegado mesmo, embora saibamos que seja apenas um alívio temporário. Graúna é

a única que parece não estar nem um pouco mais feliz.

Agora precisamos procurar comida constantemente. Na terceira manhã Graúna

me encarrega de verificar as armadilhas com ela. Cada vez que encontramos uma

vazia, ela fala um palavrão baixinho. A maioria dos animais deve estar entocada

debaixo da terra.

Ouvimos o animal preso antes de chegarmos à última armadilha, e ela acelera o

passo. Há um som frenético de correria nas folhas que cobrem o chão da floresta e

ruídos de pânico. Um coelho grande está com a perna traseira presa nos dentes de

metal da armadilha. Seu pelo tem manchas escuras de sangue. Desesperado, o bicho

tenta disparar para a frente, mas acaba desistindo e cai para o lado, ofegante.

Graúna se agacha e tira da bolsa uma faca de cabo longo. A lâmina é afiada,

mas tem manchas de ferrugem e, imagino, sangue velho. Se deixarmos o coelho

ali, sei que ele vai se contorcer até morrer de tanto sangrar pela perna; ou, o que é

mais provável, vai desistir e morrer lentamente de fome. Graúna vai lhe fazer um

favor ao matá-lo logo. Mesmo assim, não consigo assistir. Nunca cuidei das

armadilhas. Não tenho estômago para isso.

Graúna hesita. Em seguida, coloca a faca na minha mão de repente.

— Tome — diz ela. — Faça você.

Sei que não é por frescura; ela caça o tempo todo. É mais um de seus testes.

A faca é surpreendentemente pesada. Olho para o coelho, lutando e se

PandemônioWhere stories live. Discover now