Conte uma história.
— O quê?
A voz de Julian me assusta. Fazia horas que ele estava sentado em silêncio.
Estou andando de um lado para o outro de novo, pensando em Graúna e Prego.
Será que eles conseguiram fugir da manifestação? Será que vão achar que eu me
machuquei ou morri? Será que vão me procurar?
— Pedi para você me contar uma história. — Ele está sentado em seu colchão,
as pernas cruzadas. Reparei que ele fica sentado assim durante horas, os olhos
entreabertos, como se estivesse meditando. Essa calma está começando a me irritar.
— Vai fazer o tempo passar mais rápido — acrescenta ele.
Mais um dia, mais horas arrastadas. A luz está acesa de novo, e entregaram o
café da manhã (mais pão, mais carne-seca, mais água) também hoje cedo. Dessa vez
colei o corpo no chão e vislumbrei uma calça escura e botas pesadas. Uma ríspida
voz masculina me mandou devolver a outra bandeja pela portinhola, e eu obedeci.
— Não conheço história nenhuma — digo.
Julian agora já se sente confortável em olhar para mim. Confortável demais, na
verdade. Sinto seus olhos em mim enquanto ando, como um toque leve em meu
ombro.
— Então me conte sobre sua vida — insiste ele. — Não precisa ser uma
história boa.
Suspiro, repassando mentalmente a vida que Graúna me ajudou a construir para
Lena Morgan Jones.
— Nasci no Queens. Estudei na Unity até o quinto ano, depois fui para a Our
Lady of the Doctrine. Ano passado vim para o Brooklyn e entrei no colégio Quincy
Edwards, para fazer o último ano. — Julian ainda está me olhando, como se
esperasse mais. Faço um gesto rápido e impaciente com a mão e acrescento: — Fui
curada em novembro. Mas vou fazer minha avaliação mais para a frente, neste
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Pandemônio
AléatoireEm Pandemônio, o segundo livro da série, Lena Haloway está dividida entre o "antes"- que mostra seu sofrimento por ter perdido Alex ao mesmo tempo que precisa se transformar em alguém forte o suficiente para sobreviver na Selva - e o "agora", seu co...