11-Agora

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Conte uma história.

— O quê?

A voz de Julian me assusta. Fazia horas que ele estava sentado em silêncio.

Estou andando de um lado para o outro de novo, pensando em Graúna e Prego.

Será que eles conseguiram fugir da manifestação? Será que vão achar que eu me

machuquei ou morri? Será que vão me procurar?

— Pedi para você me contar uma história. — Ele está sentado em seu colchão,

as pernas cruzadas. Reparei que ele fica sentado assim durante horas, os olhos

entreabertos, como se estivesse meditando. Essa calma está começando a me irritar.

— Vai fazer o tempo passar mais rápido — acrescenta ele.

Mais um dia, mais horas arrastadas. A luz está acesa de novo, e entregaram o

café da manhã (mais pão, mais carne-seca, mais água) também hoje cedo. Dessa vez

colei o corpo no chão e vislumbrei uma calça escura e botas pesadas. Uma ríspida

voz masculina me mandou devolver a outra bandeja pela portinhola, e eu obedeci.

— Não conheço história nenhuma — digo.

Julian agora já se sente confortável em olhar para mim. Confortável demais, na

verdade. Sinto seus olhos em mim enquanto ando, como um toque leve em meu

ombro.

— Então me conte sobre sua vida — insiste ele. — Não precisa ser uma

história boa.

Suspiro, repassando mentalmente a vida que Graúna me ajudou a construir para

Lena Morgan Jones.

— Nasci no Queens. Estudei na Unity até o quinto ano, depois fui para a Our

Lady of the Doctrine. Ano passado vim para o Brooklyn e entrei no colégio Quincy

Edwards, para fazer o último ano. — Julian ainda está me olhando, como se

esperasse mais. Faço um gesto rápido e impaciente com a mão e acrescento: — Fui

curada em novembro. Mas vou fazer minha avaliação mais para a frente, neste

PandemônioWhere stories live. Discover now