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    Bakugou havia esquecido o quão distante sua casa era quando fazia o trajeto a pé - na verdade ainda estava se acostumando com aquilo tudo. Privações não faziam parte da sua vida, por isso, estava ficando cada vez mais difícil administrar a nova rotina.

    Em toda a raiva que o consumia ainda restava um certo alívio e uma obrigação de ser agradecido por poder continuar na casa, mesmo que não soubesse por quanto tempo. Assim, quando passou pelo guarda do condomínio sem problema algum, seu corpo respirou em alívio. Nunca antes havia percebido o tamanho daquelas casas e a distância entre si, só agora, que precisava percorrer sem o auxílio de seu carro ou de sua moto.

    Como de costume, atravessou o gramado já descuidado e tentou abrir a grande porta, lembrando depois que precisava do cartão de acesso, pois já não tinham mais empregados a seu serviço. Procurou o cartão até encontrá-lo no fundo da mochila que sempre carregava nos ombros.

    Mesmo depois de dois meses, ainda não se habituara a encontrar a casa daquele jeito: quase vazia. A grande sala de jantar ainda abrigava a enorme mesa de Marfim e o lustre; a sala de estar, ainda maior, era preenchida somente pela televisão de 75" e o sofá de dois lugares, fazendo com que o eco dos seus passos, ao caminhar até a cozinha, ressoassem.

    O que não fora apreendido pela justiça, fora vendido por ele para pagar algumas dívidas da família. Mas, logo, logo, ele sabia, ficariam sem saída caso não agisse rápido.

    Mal conseguiu tirar a mochila dos ombros, o toque tradicional de celular o assustou em meio ao silêncio.

— Droga...

"Oi."

"Bakugou, preciso que venha me encontrar. Traga frutas e água para sua mãe e não demore, nosso horário termina em uma hora."

    Ele nem se deu ao trabalho de responder, uma vez que não tinha opções. Ligou a luz da cozinha, que não era automática mais, abriu a geladeira e pegou algumas frutas, três garrafas grandes de água e um bolo industrializado que havia comprado no dia anterior, colando tudo em duas bolsas e depois dentro da mochila, não sem antes tirar o caderno e dois livros de dentro.

    Conferiu na carteira o quanto tinha: era suficiente. Correu até o quarto para trocar a camisa, já suada pelo dia, e um casaco; preferiu continuar com o coturno e calça jeans; como não tinha tempo para tomar um banho, só reforçou o desodorante e foi rapidamente ao banheiro.

— Acho que está tudo aqui. Se não estiver, foda-se — disse a si mesmo, pegando a mochila, trancando a casa e saindo apressadamente.

    Já não sabia o que era dormir e tinha certeza que não o faria tão cedo. Conseguiu chegar à plataforma e pegar o metrô que precisava.

    Não entendia como alguém podia se acostumar àquilo. Foi Kirishima que o ensinou a se localizar na estação, a não perder o ponto de descida, a se segurar para não agredir alguém que esbarrava nele quando o metrô estava lotado.

Kirishima.

    Se jogando no banco ao lado de um senhor que lia o jornal do dia anterior, lembrava do avermelhado. Sabia que ele estava preocupado, afinal nesses últimos meses estava mais afastado do que o comum, mas era melhor assim. Quanto menos pessoas se envolvessem, melhor.

Só que às vezes, se cansava de ter que carregar tudo sozinho.

    A voz da mulher anunciou que sua parada era a próxima, então se preparou para sair. A estação estava movimentada e entre empurrões conseguiu sair dali. Decidiu que chegaria até lá andando, seria melhor. Já estava escuro e, depois de um tempo, chegou a região desértica, avistou algumas luzes ao longe e um ponto de ônibus.

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