O fim de semana passou sem mais surpresas e, novamente, a segunda-feira chegava trazendo o friozinho da manhã acompanhada por raios de sol que, furtivamente, entravam através das fendas na cortina de Eijiro.
Acordado pelo rádio-relógio antigo que insistia em manter como seu despertador, preguiçosamente se mexeu na cama, afastando, relutantemente, o edredom e coçando os olhos entreabertos.
Tateou o pequeno móvel ao lado cama para fazer parar o alarme, mas ainda continuando a ouvir a ilustre voz do radialista que todas as manhãs trazia notícias do tráfego e do clima. Deu-se o luxo de ficar na cama por mais alguns minutos olhando para o teto: era uma espécie de meditação que gostava de fazer para poder controlar a respiração e deixar o cérebro 'acordar'.
Pôs as pernas para fora da cama, em seguida o restante do corpo e, alongando-se, ouviu estalos sairem do braços e pescoço; ainda só de samba-canção caminhou sonolento até o banheiro, satisfazendo as necessidades básicas, escovando os dentes e já abrindo o chuveiro, sorrindo ao sentir a água quentinha, sua preferida, sob a pele. Não se demorou muito e já saiu, enrolado na toalha e caminhando até o "armário formal", denominado assim por ele, pois era onde colocava os ternos e roupas sociais que usava para ir ao estágio ou a ocasiões especiais dentro e fora da Universidade.
Abriu a porta de madeira e encarou os cabides à frente, minunciosamente separados: um terno para cada dia da semana, no caso do estágio. Desta vez, o terno da segunda-feira era um cinza básico, com camisa social branca. Antes de vestí-lo abriu a gaveta de cuecas e escolheu uma boxer, não porque gostava, mas porque sua mãe o havia alertado de que as samba-canção não eram ideais para vestir com termos pois deixava "tudo muito exposto", segundo ela.
Vestido, escolheu uma gravata amarela, não muito chamativa, e, em frente ao espelho, atou o nó, penteou os cabelos para trás e percebeu que precisaria retocar a cor em pouco tempo, já que começava a desbotar. Tendo enchido o quarto com o cheiro do desodorante e perfume, abriu as janelas, que davam para um linda vista do bairro, localizado na parte alta de uma colina, rodeado por um bosque na parte baixa.
Saiu do quarto assim que se lembrou de pegar a pasta de couro, quase vazia mas que sempre levava pois era o presente de seus pais por ter conseguido o estágio, e a bolsa de lado, que levava para a facultade. A porta do seu quarto dava de frente para o quarto de visitas, separados por um grande corredor, o que permitia que saísse em fazer barulho.
Como era sempre o primeiro a sair de casa, era ele quem geralmente preparava o *Asagohan; pegou o arroz branco na dispensa e alguns legumes em conserva, deixou o arroz ser preparado na panela elétrica com os legumes, separados por um compartimento, enquanto colocava algumas tiras de salmão para grelhar. Adorava o aroma do peixe quando colocava especiarias e aquilo o fazia acordar ainda mais.
Aproveitou os minutos que faltavam para o arroz ficar pronto para ver algumas mensagens no celular e ler mais um capítulo da HQ favorita. Ao ouvir o apito da panela, tirou um pouco do arroz pastoso colocando na tigela, com os legumes e duas tiras de peixe por cima, cobertos por um pouco de molho e acompanhados por um suco de limão, couve e gengibre do dia anterior.
— Caramba 'tô atrasado! — ao ver as horas no relógio da cozinha quase engoliu a refeição pelo nariz, lavando rapidamente a tigela e o hashi e se apressando para o banheiro a fim de escovar os dentes. Na pressa, acabou derrubando o cesto de roupas e batendo a cabeça na porta entreaberta do espelho do banheiro, fazendo sua mãe acordar com o barulho.
— Desculpa — falou assim que viu sua mãe apontar na porta do quarto com um roupão e pantufas.
— Vem cá — disse chamando o filho pra perto e ajeitando o nó de sua gravata —, isso está horrível — riu.
— Foi o melhor que já fiz — respondeu com um sorriso após ter um beijo depositado na bochecha por ela.— Hoje eu vou chegar tarde, está bem? Marquei de estudar com o pessoal.
— Tudo bem, se cuida — falava vendo o filho pegar a bolsa e a pasta e correr para a porta apressado — Ei! — chamou.
— O quê? — olhou assustado para a mãe.
— Vai assim? — ela apontou para os pés de Kirishima com uma sobrancelha levantada.
— Nossa, não! — respondeu vendo que usava crocs e meias. Sempre deixava os sapatos sociais na saída para não esquecer, mas sempre acabava esquendo. — Obrigado! — Agradeceu lançando um sorriso para a mãe e se despedindo.
— Vai com cuidado! — ela gritou de dentro da casa pois conhecia o filho e sabia que podia acabar tropeçando e caindo enquanto corria até o ponto de ônibus.
*Asagohan é o café e manhã tradicional japonês. Geralmente é composto por alimentos saudáveis e de fácil digestão como arroz branco, missoshiru, legumes em conservas e peixe grelhado.
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Midnight City
FanfictionBakugou sempre se achou independente, por isso nunca se importou em estabelecer relações mais sérias. Mas com uma mudança brusca em sua vida ele é obrigado a reconhecer a presença de pessoas importantes, especialmente de Kirishima, o avermelhado qu...