.t.r.ê.s.

122 24 0
                                    

— Midorya, você... Tem alguma notícia do Bakugou? Ele não veio ontem e... Nem hoje — Kirishima tentava parecer indiferente ao perguntar sobre o loiro.

— Infelizmente não... Desculpe — Midorya sabia o quão o amigo estava preocupado e se sentia mal por não poder ajudar — o Kacchan tem estado muito estranho nesses dias, mas ele costuma faltar as aulas, não? Deve estar cansado das aulas do Aizawa.

    Kirishima também riu, mas embora soubesse da indisposição de Bakugou em assistir às aulas, não tinha tanta convicção de que sua falta era somente por isso, já que suas mensagens não eram respondidas nem as ligações atendidas.

    Durante a única aula do dia, Kirishima alternava sua atenção entre a porta, esperando Bakugou entrar; o celular, aguardando uma mensagem sua; e o professor, Yamada Hizashi, que ministrava aula de Oratória.

— Vocês têm que aprender que "falar" é uma arte e em um tribunal, o modo como isso acontece pode ser decisivo. Iida, você sabe quando a oratória surgiu?

— No século V a.C na Sicília, outros afirmam ser no Egito Antigo — Iida respondeu orgulhoso. — A Sicília é considerada o berço do primeiro manual sobre retórica, escrito para orientar os advogados que tinham como objetivo defender as causas das pessoas que desejavam reaver suas propriedades e bens tomados pelos tiranos da época.

— Que resposta completa senhor Iida...

— Mas a Oratória só passou a ser estudada como ciência a partir do filósofo Aristóteles, discípulo de Platão, que escreveu as bases da retórica em seu famoso tratado “A Arte da Retórica", que utilizamos até hoje — Yaoyorozu ressaltou.

— Muito bem, muito bem! Vemos que os dois estudaram antes de vir para a aula! — Yamada anunciou agitado andando pela sala — agora me diga, Mineta, quais são os princípios da Oratória?

    Assustado, Mineta colocou celular dentro do estojo e olhou para o professor, sem ao menos saber do que ele estava falando.

— C-Como?

— Quais os princípios da Oratória! — Denki sussurou para o amigo, tentando ajudá-lo.

— Também quer responder, senhor Denki?

— Não, não! Estou muito feliz em apenas ouvir! — o rapaz respondeu sem graça. 

    Para a maioria da turma aquilo foi motivo de riso, mas não para Kirishima. Durante o resto da aula mal prestou atenção no que o professor dizia, mesmo contra sua vontade.

— Então, como a senhorita Yaoyorozu falou, nós usamos "A Arte da Retórica" até hoje como referência no curso de Direito. Para o final de semana vocês devem lê-lo e fazer um resumo de, no mínimo, quinze laudas, apresentando seus fundamentos e as implicações da Oratória no século XXI.

— O quê?! Um resumo de quinze laudas?! Quer que a gente escreva um livro?! — Sero falou indignado.

— Ótima ideia! Além disso, para a próxima semana, quero que escrevam um texto argumentativo, baseado nos princípios da Oratória, sobre um assunto elegido por vocês. Individual. Manuscrito. Entre quinze e vinte laudas — pronunciou animado — E nem pensem em usar letras maiores para me enganar, eu conheço a grafia de cada um.

— Você só tinha que ficar de boca calada, Sero — Tokoyami falou sério no canto escuro da sala, lugar que já era marcado como seu.

— Passem na biblioteca para pegar um exemplar do livro, acho que tem para todos, porque pedi que os reservassem somente para os formandos — falava como de pra si mesmo — Acho que isso, até semana que vem.

    Sob alguns protestos a turma foi deixando aos poucos a sala de aula e se dirigindo para a biblioteca.

— Tsuyu Chan, vamos lá pra casa, a gente pode começar a fazer o resumo!

— Hã... Tudo bem, Uraraka, mas vamos passar na padaria antes!

— Sim! — a garota respondeu, já pegando seu exemplar na prateleira.

— Hm... Kirishima, por que está levando dois? — Todoroki perguntou vendo o amigo com dois exemplares de "A Arte da Oratória" — Ai! — ele gritou após receber uma leve cotovelada de Midorya, que já sabia o que o amigo estava fazendo.

— Er, bem, eu vou levar um para o Bakugou.... Porque amanhã é sábado e...

    O jeito que Kirishima falava era como se fosse culpado de alguma coisa, pelo menos, ele achava que os amigos pensavam assim.

— Tudo bem! Você nem deve satisfações pra gente! — Midorya falou, lançando um olhar de censura a Todoroki — Acho que ele vai precisar mesmo, afinal, temos que entregar os dois trabalhos semana que vem.

— Pois é! E ainda tem o trabalho do Aizawa! Eu 'tô tão exausta! — Mina se intrometeu na conversa — a Jiro e eu nem começamos!

— O que tem a Jiro?! — Denki apareceu saindo do outro corredor.

— Não tem nada. É só que ainda não começamos o trabalho do Aizawa. Por que quer saber, hein?! Hein?! — a garota de cabelos rosas e cílios coloridos provocou, cutucando o amigo.

— N-Não é nada! Quer parar com isso? Ei, Mineta, me espera! —respondeu um pouco aturdido, logo saindo do meio dos colegas.

— Ele nem imagina que todo mundo sabe que ele é afim da Jiro — Mina riu.

    Depois de ficarem na fila para cadastrar os livros, cada um seguiu seu caminho: Todoroki foi para a casa de Midorya estudar, assim como Uraraka e Tsuyu Chan; Sero, Denki, Mineta e Ojiro foram para a república onde moravam; Jiro e Mina foram para o apartamento que  também dividiam com Tsuyu. Iida, Tokoyami e Yaoyorozu foram para suas respectivas casas, exceto Kirishima que, ao invés de virar à direita, desceu a colina que levava para o condomínio onde Bakugou morava.

    O avermelhado não sabia se era o certo a fazer naquele momento, pois conhecia Bakugou e sabia o quanto ele era discreto em relação à sua vida. Mas seu comportamento estava mais excêntrico que o comum, reforçando a ideia que de algo não estava certo.

    Não parava de pensar naquilo há dois dias, mas a vantagem de estagiar durante boa parte do dia e ter aulas no fim da tarde era que podia dissolver os pensamentos. Apertou com mais força a alça da bolsa lateral, e tomou coragem para entrar no grande condomínio.

— Seu nome? — o guarda perguntou.

— Kirishima Eijirou, sou amigo do Bakugou Katsuki... Eu acho — respondeu inseguro.

— Ah, o rapaz de cabelo vermelho! Pode entrar, mas acho que ele não chegou ainda, não.

— Ah, é? E o senhor sabe me dizer a que horas ele saiu?

— Olha, acho que não o vejo desde o meu turno de anteontem, se não me engano. Mas ele pode ter chegado durante meu horário de folga. Pode entrar.

— Ah, muito obrigada.

    Kirishima estava com o coração cada vez mais apertado e acelerado. Quanto mais andava em direção à casa de Bakugou, mais torcia para que ele estivesse lá. Porém, ao se aproximar, notou que todas as luzes estavam apagadas, inclusive as do jardim, que costumavam ficar acessas, aliás, percebeu que ele não era cuidado há algum tempo.

    Se aproximou da grande porta e tocou a campanhia.

Nada.

    Tentou novamente e nada.

    Olhou as horas no relógio de pulso, viu que faltavam vinte minutos para as sete horas e decidiu esperar ali, no batente da porta, mas antes mandou uma mensagem para a mãe avisando que chegaria tarde.

— Cadê você Katsuki...

Next

Midnight CityOnde histórias criam vida. Descubra agora