Capítulo XI - Realidade e Fantasia

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Lecionar é realmente um trabalho muito interessante – escreveu Anne a Stella Maynard, sua ex-colega da Queen's Academy. Jane costuma dizer que acha monótono, mas não tenho a mesma opinião. É certo que praticamente todos os dias algo divertido acontecerá, e as crianças falam as coisas mais engraçadas! Jane diz que repreende os alunos quando fazem discursos graciosos, e é bem provável que seja este o motivo pelo qual ela considera o trabalho monótono. Esta tarde, o pequeno Jimmy Andrews tentava soletrar a palavra 'salpicado', e não conseguia. 'Bem' – ele disse, finalmente – 'não consigo soletrar esta palavra, mas sei o que significa.'

'E o que é?' – eu perguntei.

'O rosto do St. Clair Donnell, senhorita.'

Por certo que St. Clair tem muitas sardas; porém, eu tento impedir que os outros comentem a respeito... pois eu era sardenta, e disso me lembro bem. Mas não acredito que St. Clair se importe. Ele esmurrou Jimmy no caminho para casa, mas foi por tê-lo chamado de 'St. Clair'. Eu soube da briga, mas não oficialmente; então, creio que não preciso tomar qualquer providência.

Ontem eu estava tentando ensinar adição a Lottie Wright. Perguntei-lhe: 'Se você tem três caramelos em uma mão e dois na outra, quantos terá ao todo?' 'Uma mão cheia', disse Lottie. E na aula de ciências naturais, quando pedi que me dessem uma boa razão pela qual não deveríamos matar sapos, Benjie Sloane respondeu-me seriamente: 'Porque iria chover no dia seguinte.'

É tão difícil não desatar a rir, Stella! Tenho que segurar o riso até chegar em casa, e Marilla disse que fica nervosa ao ouvir gargalhadas frenéticas de hilaridade vindas do quartinho do lado leste, sem nenhuma razão aparente. Contou-me que um homem em Grafton começou dessa maneira, e acabou ficando louco.

Sabia que Thomas Becket foi canonizado como uma 'cobra'? Foi o que me disse Rose Bell... e disse também que William Tyndale 'escreveu' o Novo Testamento. Claude White afirmou que 'glacial' é um homem que vende sorvetes!

Penso que o mais difícil na arte de lecionar, assim como o mais interessante, é fazer com que as crianças exponham suas verdadeiras impressões sobre as coisas. Em um dia de tempestade, na semana passada, eu reuni os alunos ao redor da mesa, na hora da merenda, e procurei fazer com que conversassem comigo como se eu fosse um deles. Pedi que me contassem sobre seus maiores desejos. Algumas respostas foram bem normais... bonecas, pôneis e patins. Outras foram decididamente originais. Hester Boulter queria 'usar seu vestido de domingo todos os dias, e fazer suas refeições na sala'. Hannah Bell queria 'ser boa sem ter que se esforçar tanto'. Marjory White, de dez anos, contou-me que queria 'ser uma viúva'. Quando perguntei o porquê, ela disse, com muita seriedade, que 'se você é solteira, as pessoas a chamam de solteirona, e se é casada, seu marido controla sua vida; mas, se for viúva, não corre risco nem de uma coisa, nem de outra'. No entanto, o desejo mais singular foi o de Sally Bell. Queria uma 'lua-de-mel'. Perguntei a ela se sabia o que significava, e respondeu-me que achava que era 'um tipo extraordinário de bicicleta, pois um primo de Montreal saiu de lua-de-mel quando se casou, e ele sempre tivera o último lançamento em bicicletas!'

Outro dia pedi que me contassem qual era a pior travessura que já haviam cometido. Não consegui convencer os mais velhos a revelar, mas a terceira série respondeu tranquilamente. Eliza Bell 'ateou fogo ao novelo de linha de sua tia'. Quando perguntei se ela realmente queria ter feito isso, respondeu-me 'não inteiramente'. Acendera só a pontinha para ver o que aconteceria e, num instante, todo o pacote se queimou. Emerson Gillis havia gasto dez centavos comprando balas, quando deveria ter doado a moeda como oferta missionária. O pior crime de Annetta Bell foi comer amoras que cresciam no cemitério'. Willie White tinha 'escorregado do telhado do estábulo um monte de vezes usando as calças de domingo, e foi punido por isso, tendo que usar calças remendadas na Escola Dominical durante todo o verão', e declarou que 'quando alguém é punido por ter feito algo, não tem que se arrepender por isso'.

Anne de Avonlea | Série Anne de Green Gables II (1909)Onde histórias criam vida. Descubra agora