Durante o mês seguinte, Anne viveu em meio ao que, para Avonlea, significava um redemoinho de emoções. A preparação de seu modesto enxoval para Redmond passou para o segundo plano. Miss Lavendar estava se preparando para o casamento, e a casa de pedra tornou-se o cenário de infindáveis consultas, planos e discussões, com Charlotta IV pairando por todos os lados em agitado deleite e expectativa. Logo veio a costureira, e então começou o êxtase e a desventura de escolher modelos e tirar medidas. Anne e Diana passaram metade de seu tempo em Echo Lodge, e havia noites em que Anne não conseguia dormir, questionando-se se tinha feito o que era certo ao aconselhar Miss Lavendar a escolher marrom ao invés de azul naval para seu traje de viagem, e ter usado sua seda cinza para confeccionar um modelo no corte "princesa".
Todos os interessados na história de Miss Lavendar estavam muito felizes. Paul Irving correu até Green Gables para conversar com Anne sobre as novidades, assim que seu pai lhe contou.
— Sabia que podia confiar no papai para escolher uma segunda mãezinha para mim – ele disse, orgulhoso. — É uma coisa maravilhosa ter um pai em quem se pode confiar, professora. Eu simplesmente amo Miss Lavendar! Vovó está satisfeita também. Disse que está muito contente por papai não ter escolhido uma americana como segunda esposa, porque, apesar de ter dado certo da primeira vez, há poucas probabilidades de que algo assim se repita. Mrs. Lynde diz que aprova a união de todo coração, e acredita que talvez Miss Lavendar deixe de lado suas ideias esquisitas e seja como todas as outras pessoas, agora que vai ser casar. Mas eu espero que não aconteça isso, professora, porque gosto dela assim. E não quero que ela seja como as outras pessoas. Já existem muitas pessoas ao nosso redor que são assim. A senhorita entende, professora.
Charlotta IV era outra pessoa radiante.
— Oh, madame Miss Shirley, tudo deu tão certo! Quando Mr. Irving e Miss Lavendar voltarem da lua-de-mel, irei para Boston viver com eles... e eu tenho só quinze anos, e as minhas irmãs não foram até que completassem dezesseis! Mr. Irving não é esplêndido? Ele simplesmente venera o chão em que a minha senhora pisa, e às vezes me faz sentir tão estranha quando vejo o olhar dele enquanto a observa... não existem palavras para descrever, madame Miss Shirley! Estou muitíssimo agradecida por se amarem tanto! É o melhor destino, quando tudo está dito e feito; apesar de algumas pessoas conseguirem se dar bem sem isso. Tenho uma tia que se casou três vezes, e ela diz que se casou com o primeiro marido por amor e com os outros dois estritamente por negócios, e foi feliz com todos eles, exceto no momento dos funerais. Mas acho que ela correu um risco, madame Miss Shirley.
— Oh, é tudo tão romântico! – suspirou Anne para Marilla, naquela noite. — Se eu não tivesse tomado a estrada errada naquele dia em que fomos à casa de Mr. Kimball, nunca teria conhecido Miss Lavendar. E, se não a tivesse encontrado, nunca teria levado Paul comigo... e ele nunca teria escrito ao pai para contar sobre suas visitas à Miss Lavendar, justo quando Mr. Irving estava saindo de viagem para São Francisco. Mr. Irving disse que mudou de ideia quando recebeu essa carta, decidindo mandar o sócio a São Francisco e vir para cá ao invés de viajar a negócios. Fazia quinze anos que ele não sabia nada a respeito de Miss Lavendar. Alguém disse a ele, naquela época, que ela estava a ponto de se casar; e ele acreditou que ela estivesse casada e, por isso, nunca mais perguntou nada sobre ela. E agora tudo terminou bem! E eu contribuí para que isso acontecesse! Talvez, como diz Mrs. Lynde, tudo esteja predestinado, e acabe por acontecer de qualquer maneira. Mas, ainda assim, é bom pensar que alguém serviu como instrumento da predestinação. Sim, de fato, é muito romântico.
— Não consigo ver o que é tão terrivelmente romântico – disse Marilla, um pouco grosseira. Ela pensava que Anne estava empolgada demais com esse assunto e que tinha muito o que fazer ao se preparar para a universidade, sem precisar ficar "perambulando" em Echo Lodge dois dias a cada três para ajudar Miss Lavendar. — Em primeiro lugar, dois jovens tolos discutem e se separam, irritados. Então, Stephen Irving vai para os Estados Unidos; depois de um tempo, ele se casa e, até onde todos sabem, vive perfeitamente feliz. Então sua esposa morre, e, após um período decente, ele pensa em voltar para casa e ver se sua primeira namorada o receberia. Nesse meio tempo, ela continua solteira, provavelmente porque ninguém bom o bastante se interessou em conquistá-la; e os dois se reencontram e decidem se casar, afinal. Ora, onde está todo esse romantismo?
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Anne de Avonlea | Série Anne de Green Gables II (1909)
Novela JuvenilObra da canadense L. M. Montgomery.