No caminho para Orchard Slope, Anne encontrou Diana dirigindo-se para Green Gables, justo onde a antiga ponte de troncos coberta de musgo cruzava o riacho mais abaixo da Floresta Assombrada. Elas se sentaram à margem da Bolha da Dríade, onde minúsculas folhas de samambaia se desenrolavam como fadinhas com cachinhos verdes despertando de uma soneca.
— Estava indo na sua casa para convidá-la para a minha festa de aniversário no sábado – disse Anne.
— Seu aniversário? Mas seu aniversário foi em março!
— Ora, não foi minha culpa! – respondeu Anne, rindo. — Se meus pais tivessem me consultado, eu nunca teria nascido nessa época. Eu teria escolhido nascer na primavera, é claro. Deve ser delicioso vir ao mundo com as flores de maio e as violetas, e eu sentiria sempre que era a irmã adotiva delas! Mas, como não nasci, a segunda melhor coisa é celebrar meu aniversário na primavera. Priscilla está chegando no sábado, e Jane estará em casa. Nós quatro iremos ao bosque e passaremos um dia dourado conhecendo a primavera! Nenhuma de nós a conhece de verdade ainda, mas lá a encontraremos como até hoje não conseguimos, melhor do que em qualquer outro lugar. De qualquer maneira, quero explorar todos aqueles campos e locais solitários. Tenho a convicção de que há ali uma variedade de belíssimos recantos que jamais foram realmente vistos até agora, apesar de terem sido visualizados. Faremos amizade com o vento, o céu e o sol, e voltaremos para casa trazendo a primavera em nossos corações.
— Parece tremendamente magnífico – comentou Diana, com certa desconfiança secreta sobre as palavras mágicas de Anne. — Mas não vai estar muito úmido em alguns lugares ainda?
— Oh, nós calçaremos galochas! – foi a concessão feita por Anne para as praticidades. — E eu gostaria que você viesse cedo no sábado pela manhã, para me ajudar a preparar o almoço. Vou fazer as iguarias mais deliciosas – pratos que combinem com a primavera, você sabe –, tortinhas cobertas com geleia, biscoitos champagne, biscoitos com gotas de chocolate cobertos de glacê rosa e amarelo, e bolo cremoso recheado com as ameixas mais doces! E temos que fazer sanduíches também, apesar de não serem muito poéticos.
O sábado provou ser o dia perfeito para um piquenique: um dia ensolarado de céu azul, com cálida brisa e um vento travesso que soprava pela campina e o pomar. Sobre cada planalto e campo iluminado pelo sol, estendia-se o verde salpicado de flores tão delicadas quanto as estrelas.
Mr. Harrison, que estava capinando na parte de trás de sua fazenda, e sentindo mesmo em seu sóbrio e maduro espírito um pouco da magia da primavera, viu quatro meninas carregando cestas e saltitando no limite de suas terras, um caminho guarnecido por um frondoso bosque de bétulas e pinheiros. O eco de suas risadas e vozes alegres chegou até ele.
— É tão fácil ser feliz num dia como este, não é mesmo? – dizia Anne, com a verdadeira filosofia "Anneística". — Vamos tentar fazer de hoje um verdadeiro dia de ouro, meninas, um dia do qual sempre nos lembraremos com deleite! Viemos em busca de beleza, e nos recusamos a ver outra coisa! "Vá-se embora, preocupação enfadonha!" Jane, você está pensando em algo que deu errado na escola ontem.
— Como você sabe? – perguntou Jane, impressionada.
— Oh, conheço esta expressão! Já a senti diversas vezes no meu próprio rosto. Mas tire isso da cabeça, querida. Poderá resolver o assunto na segunda-feira; ou, se já estiver resolvido, tanto melhor. Oh, meninas, meninas! Vejam aquele tapete de violetas! Aquilo é algo para a galeria dos quadros da memória! Quando eu tiver oitenta anos, se estiver viva até lá, vou fechar os olhos e enxergar essas violetas exatamente como as vejo agora... este é o primeiro presente maravilhoso que este dia nos deu.
— Se um beijo pudesse ser visto, creio que seria parecido com uma violeta – disse Priscilla.
Os olhos de Anne se acenderam.
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Anne de Avonlea | Série Anne de Green Gables II (1909)
Teen FictionObra da canadense L. M. Montgomery.