Bife com batatas

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Anne P.O.V.

- Por que você trás esses brancos pra cá? - Meu pai questionou, me segurando pelo ombro e me colocando sentada.

Já estávamos dentro de minha casa, havíamos passado pela cozinha e ido pro escritório que fica em frente a escada.

- Por que você trás esses ndé aqui? - Olhei pra ele com raiva, devido a essa invasão repentina. - Por que todas essas pessoas aqui?

- Quem era aquele garoto? - Fez um sinal com a mão para que todos que entraram conosco saíssem da casa.

- Um colega da escola. É a minha dupla em química orgânica. - Disse sorrindo levemente lembrando das gargalhadas que dei na aula, com ele.

- Por que ele te trouxe aqui? - disse olhando nos meus olhos.

- Por que ele ofereceu uma carona e eu aceitei! - Afirmei levantando e pegando um copo para tomar uma dose de uísque com gelo. Era costume, depois que eu fiz 18 anos, eu e meu pai tomarmos uísque juntos.

- Ele é uma boa pessoa? - Ele disse ainda sentado. - Um pra mim também.

Servi os dois copos, ambos com gelo. Entreguei o dele, brindamos, e dei um gole naquele uísque quente e saboroso.
- Meu pai, ele só me fez bem! - Olhei pra ele séria. - E você ainda não me respondeu o porquê de tanta gente, tão próximos da cidade. Ainda por cima envolta da minha casa. - Era incomum tantas pessoas aqui tão perto. Nossa tribo tem costumes e regras bem fixos. E um deles é: Nunca se aglomerem num lugar só, a não ser em suas casas! Lembrei de meu pai, o chefe da tribo, falando isso durante uma das reuniões, devido a um grupo de nossas pessoas, que se juntaram para ir numa balada da cidade, assim chamando atenção indevida.

- Houve uma reunião com alguns políticos e grandes empresários! - Tirou um documento, de uma das gavetas da mesa que nos separava, e me entregou. É um projeto acerca da progressão da cidade pra cima da floresta, da nossa floresta. Vejo sua assinatura e olho pra ele demonstrando minha raiva.
- Por que você assinou? Nós vamos perder a floresta pra eles.

- Não se preocupe com isso. Não cedi nem um quarto do território. Teremos muita floresta pra nosso povo ainda. - Disse tentando me acalmar.

- Hoje não é nem um quarto, amanhã eles tem a floresta toda. Já basta a área que abrimos pra trilhas. - Disse colocando o documento encima da mesa.

- Eu prometo que faria o possível e impossível pra manter nossa floresta. Mudando de assunto, me fale do garoto. Quem é ele? - Disse, já com uma manta por cima dos ombros, escondendo seu corpo.

- Você já não viu a carteira dele? Oque mais quer saber? - Disse me lembrando daquele sorriso tímido, e de nós dois cantando no carro dele.

- Quero saber se ele é uma boa pessoa pra estar com você. Não posso deixar pessoas ruins se aproximarem de você. - Disse se levantando e escorando no batente da porta. Meu pai era um homem alto e forte. Com cabelos compridos e tatuagens que correm seu peito e braço direito.

- Paaai! Eu não me aproximo de pessoas que não me fazem bem! - Disse, me levantando passando por ele, pelo corredor me sentando na escada.

- Não quero ver ele aqui. Mesmo sendo um bom menino, talvez ele não esteja pronto e pros nossos costumes. - Disse virando, e me assustando com o pedido dele, porém ele estava certo. Nossos costumes as vezes podem trazer o mal de algumas pessoas. Teria que conversar com ele sobre.

- Vou tentar! Ele está sendo tão atencioso comigo. Vou tentar ensinar ele sobre nós. - Levantei da escada e segui pra porta do fundo, a abrindo, sentindo a brisa da floresta. - Pai eu vou correr na floresta! - Fechei a porta e segui para subir a escada quando senti uma mão firme em meu ombro.

- Não. Primeiro o conhecimento. Você será nossa líder um dia. Vá fazer suas tarefas. - Terminou de me falar entregando minha mochila.

- Mas pai... - Tentei convencê-lo fazendo minha cara pidona.

- Sem mas. Ou você prefere que eu deixe nossos ndé o dia todo na porta da sua casa? - Olhou pra mim me convencendo. Era normal ter pessoas e guerreiros na minha casa, em dias específicos.

Gosto de estar sozinha, e a casa foi um presente perfeito que meu pai deu. Não poderia pedir casa melhor. Dei tchau pro meu pai e subi pro meu quarto. Olho pela janela e vejo meu meu pai e seus guerreiros saindo dali, em suas motos e jipes. Mas antes do carro dele sair ele olho pra janela aonde eu estava e faz um sinal com os braços. Sinal esse que significava cuidado. Retribuo o movimento desejando o mesmo pra ele.

Me viro para o meu guarda roupa. Troco de roupa para uma mais leve e mais confortável. Fome! Paro sentindo falta de alimento em meu estômago. Saio do meu quarto, a direita está o banheiro e a na esquerda a escada.

Desço as escadas, passo pelo escritório aonde eu e meu pai estávamos, seguindo pelo corredor, indo para a cozinha. Uma cozinha essa que era aberta pra sala, como se os dois fossem um cômodo só. Abro a geladeira buscando algo para cozinhar.

Acho alguns bifes, cebola, batatas e alface. Pego os ingredientes e os separo encima do balcão logo ao lado da geladeira. Abro a porta de um dia armários logo acima de balcão, pego o pote de sal e 5 cabeças de alho. Os coloco junto dos ingredientes já separados. Lavo as batatas, pego uma faca e delicadamente vou tirando a casca, mas sem jogar fora, as usaria depois.

Corto as batata em quatro partes, repetindo o mesmo com as outras duas que havia pego. Separo os quatro bifes que haviam sobrado de hoje de manhã. Abro a gaveta, pego um esmagador de alho e o uso, espalhando o alho pela carne e pela batata. Abro o pote de sal e novamente espalho nos dois. Pego uma panela e uma frigideira junto com uma garrafa de óleo, no armário logo abaixo da pia.

Despejo o óleo na frigideira e coloco água na panela. Na panela eu coloco as batatas e a levo pro fogo, penso de novo e decido fazer os bifes na hora.
Saio da área da cozinha e ligo a televisão no canal local, canal 11, já estava dando o horário do TW News. Voltei à cozinha pra pegar um refrigerante quando certa notícia chamou minha atenção. Voltei pra poltrona da sala prestando mais atenção na notícia.

"- Está havendo casos mais frequentes de lobos em nossa região. Animais mortos sendo encontrados mais próximos das ruas da cidade. Porém recentemente, um casal estava fazendo uma trilha na mata quando avistaram oque pra eles parecia ser um animal morto. Os dois se aproximaram e viram do que realmente se tratava. Aqui segue o depoimento do casal."











Carta do autor:
Ndé, livremente, significa guerreiro

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