Mais uma manhã

431 61 147
                                    

1° Capítulo

02:50 am 15/03

O uivo dos lobos me acordou, tentei voltar a dormir mas de nada adiantou. Sentei na beirada da cama, e observei minha cômoda; por meio de frestas na janela, a luz da lua a lampejava.

Levantei dirigindo-me a porta, quando sufoquei um grito. A alguns minutos havia montado uma estrela da morte com meu irmãozinho. Depois, porém, esqueci de tirar as peças dali; as ajeitei e as coloquei de lado para não pisar nelas novamente. Continuei meu caminho e segui para a porta em direção a cozinha, comer ou tomar alguma coisa. Abri a porta e a escuridão me abraçou, logo fui tateando a parede do corredor afim de ligar a luz da sala. O interruptor ficava a poucos passos do meu quarto, como também a sala; era abrir a porta ,4 ou 5 passos e já estava na sala; achei o interruptor "CLIC" a luz se fez presente iluminando a sala e boa parte da cozinha. Velhos livros jogados na mesa de centro, um de economia, outro de poesia e um de romance, meu pai realmente não sabia o que queria ler, os arrumei em ordem de tamanho, e os voltei a prateleira logo ao lado da mesa de centro.

Me levantei e segui para a cozinha. Abri a geladeira, peguei o galão de leite e o coloquei sobre a bancada, abri o armário que ficava logo acima da pia e peguei uma xícara; servi o leite e o depositei na bancada. Voltei o leite para a geladeira, me virei e acendi o fogão para esquentar o chá de camomila, que minha mãe havia deixado para mim. Escorei na pia e observei o céu limpo e estrelado, pela janela que ficava pouco acima da pia, observava as estrelas visíveis, as constelações se formavam em minha mente quando o apito da chaleira me trouxe a terra, misturei o chá no leite com uma colher, a joguei na pia. Virei, dirigindo-me a porta que me levaria ao jardim, para assim apreciar as estrelas e sua diversidade.

Observando a imensidão do céu, as estrelas, constelações e a Lua sempre me lembro quão pequeno e ínfimo eu sou. Enquanto observava o céu e Selene no jardim, me senti cercado pelo farfalhar inquieto das árvores que se moviam à mercê de uma brisa que parecia mais uma advertência do que um alívio noturno. Já estava no meio da madrugada e a escuridão estava densa e quase palpável o silêncio da mata era como o vácuo, somente as folhas se faziam presente. Foi nesse silêncio, pesado como chumbo, que os uivos voltaram. Eles surgiram à distância, primeiro tímidos, como se sondassem a escuridão antes de se revelar por completo. Logo, contudo, suas vozes encheram o ar, cortando-o com uma estranha melodia que fazia eu prender meu fôlego e fazia minha pele arrepiar.

Cada uivo era único, carregando em si algo de misterioso, quase perturbador. Alguns eram agudos e cortantes, como lâminas afiadas passando pelo vento, cheios de uma força que desafiava a noite. Outros, porém, surgiam roucos e quebradiços, como se pertencessem a criaturas antigas, desgastadas pelo tempo. Mas havia algo mais... uma sensação de que essas vozes, apesar de suas diferenças, contavam uma história que eu não conseguia compreender — ou talvez, que não queria compreender.

Mesmo assim, nenhum som se sobrepunha ao outro. Era uma harmonia desconcertante, como se a própria escuridão estivesse conspirando para organizar aquela cacofonia em uma sinfonia perturbadora. Eu podia sentir o peso daquelas vozes, reverberando não apenas no ar, mas dentro de mim, como se estivessem se aproximando cada vez mais, rodeando o jardim. No fundo da minha mente, uma inquietação começou a crescer. Sozinho no jardim, cercado pela noite e por aqueles uivos cada vez mais próximos, a sensação de que algo espreitava nas sombras tornou impossível qualquer noção de paz.

Corri pra porta da cozinha e a fechei com pressa, tranquei e me escorei no balcão de frente pra porta, de repente, algo brilhou entre as plantas. Dois pontos luminosos, baixos, quase ao nível do chão. Olhos. Paralisado, tentei distinguir a criatura oculta, mas tudo o que via eram aqueles olhos, fixos em mim. Minha boca secou e meus músculos travaram, como se meu corpo inteiro tivesse entendido antes de minha mente que eu estava sendo observado... caçado.

A criatura não se moveu por alguns segundos que pareceram uma eternidade. Então, com uma lentidão deliberada, ela deu um passo à frente, revelando sua silhueta entre as folhas. O brilho da lua delineava uma figura esguia e ágil, mas ainda assim, eu não conseguia ver claramente o que era. Outro passo. Meu corpo estava tenso, tinha a impressão de que a criatura ia atravessar a porta e arrancar as veias do meu pescoço. Me empurrei contra o balcão e a colher caiu dentro da pia fazendo um barulho alto, me virei assustado pro barulho e voltei rapidamente a olhar pra porta procurando os dois pontos de luz.

Eles ainda estavam lá, ainda estavam me observando, inesperadamente eles sumiram, como se não estivessem mais lá. Rapidamente lavei a colher e a xícara, desliguei as luzes com pressa e fui pro meu quarto. Abri a porta com cuidado , para não acordar meus pais e ainda assim com pressa de não ficar perto do que possa ser aquela coisa. Poderia ser um lobo, mas eles nunca são ousados assim de chegar tão perto da área urbana, fechei a mesma e fui para a minha cama. Oque poderia ser aquilo além de um lobo? Oque pode ter feito ele chegar tão perto da cidade? Estava com o corpo quente, ainda estava acelerado com todos os pensamentos, fiz menção de abrir a janela e logo desisti, oque impediria aquele ser de entrar no meu quarto?  Os uivos voltaram e instintivamente me encolhi na cama, era uma cacofonia de sons e pensamentos bagunçando a minha mente. Oque me fez encolher ainda mais em minha cama, foi perceber que um dos uivos estava mais perto de mim do que os outros. Logo em seguida outro, como se estivessem próximos. Não foi só um que me viu naquele momento? Puxei a coberta pra cima de mim e me forcei a dormir com uivos harmoniosos ecoando em minha mente.

============ 15/03

Acordei depois, do que pareceu, um leve descanso. Com o sol já iluminando meu quarto, olho então o céu pela janela e noto as nuvens, fazia muito sol mas tudo indicava que logo haveria uma chuva torrencial. Sentei-me a beira da cama e observei meu quarto bagunçado, lembrando-me de arruma-lo depois de aula, olhei para minha mão e lembrei de uma noite já passada, em que:

– Me deixa em casa Jay? – perguntou Sam, segurando meu braço, enquanto íamos em direção ao carro da minha mãe.

Acabávamos de sair de uma sessão de cinema no Cinemark Helena and XD, e Carl nosso amigo teve que ir embora mais cedo.

– Claro, porque não? – indaguei suavemente não esperando resposta

– Ah... Vai que hoje não dá?! Não posso ficar dependendo de você o tempo todo__ disse parando em frente ao carro

– Samantha, entra logo no carro, está frio! – Disse abrindo a porta do carro e rindo

Ela assim entrou no carro e logo se acomodou, começara a ventar mais forte realmente. Dei a volta, no carro, assim a porta do motorista foi aberto, pela Sam.

– Obrigado, querida! – olhando à ela de forma irônica, quando instintivamente me senti ¨observado¨ , por algo ou alguém. Eu tinha a impressão de que vinha de um arbusto atrás do estacionamento; estávamos seguros se fosse algum animal violento já que uma grade nos protegia, colocada pelo prefeito devido a casos de ataques por animais nas redondezas.

– Oque foi Jay? Entra logo, está frio.

{...}

Saí da minha cama, peguei a toalha e fui tomar banho, bem quente do jeito que eu gosto. Me sequei e fui arrumar a cozinha, aproveitei e arrumei a mesa do café. Sempre fui um dos últimos a acordar, mas algo me instigava, eu estava eufórico e não sabia o porquê. Terminei de arrumar a mesa e fui arrumar meus matérias na mochila. Meu horário, já amassado, mostrava as aulas do dia, hoje quinta feira teria aula de tarde. Estava concentrado arrumando meus materiais, coloquei o papel do horário em cima da cama e fui colocando os cadernos e apostilas na mochila. Fui arrumar a cama quando um vulto a beira da janela chamou minha atenção. Tive a impressão de ... parecia um animal rosnando, a janela estava embaçada e gotejada, me aproximei levemente e a criatura rosnou, mais do que já rosnava, pareceu uma ameaça, ou será, medo?

Mesmo assim me instigava a ir contra ela, pareceram 2 horas em 2 segundos, quando minha mãe bateu na porta. Virei rapidamente para ela, mas quando voltei a olhar para a janela, já não havia mais nada, como se nunca tivesse passado algo por ali.





Carta do autor.

Na descrição do meu perfil, tem um link pro grupo do whats sobre o livro.
Espero teorias, risadas e muitas amizades. Te espero lá.

TownwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora