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Duas dúzias de malas. Era o que, entre presentes e pertences, levariam a Lima. Kilian não parecia se importar com aquela quantidade exagerada de bagagem, que só trazia à memória da princesa o tempo em que seria obrigada a passar sob o mesmo teto do que Sales de Ravin.
Enquanto Moises, o valete do rei, e Ingrid acomodavam as bagagens em um dos automóveis que os levaria ao aeroporto, Karen despedia-se do duque Dumas, seu primo, que permaneceria no Castelo Marisco na ausência da família real.
Percebendo a angústia da prima, ele deu a ela recomendações para manter a calma e não se deixar abater pelas provocações de Sales. Tentou dar-lhe também, alguns conselhos amorosos, mas Karen decidiu que os ignoraria.
Ela não era tão ingênua e tampouco estava tão desesperada para receber conselhos de alguém cujo empenho incessante era conquistar sua melhor amiga, a qual, assumidamente, caía de amores pelo rei.
Ao entrar no automóvel, lançou um olhar para o jardim do castelo. O lugar onde passou maravilhosos momentos da sua infância, entre aquelas tulipas de cores várias, tão bem cuidadas pelo senhor Arão. O velho jardineiro acenou para ela em despedida, enquanto regava suas plantas, e a princesa respondeu o gesto com um tchauzinho pesaroso.
Nunca antes fora tão difícil para a princesa partir de sua casa. Nunca houvera, também, um risco tão grande de que ela não voltasse.
Eles passaram pelos portões, pegando uma estrada longa, que serpenteava entre a vegetação da intocada mata. Ao seu lado direito, podia ouvir o marulho do Atlântico, que se agitava com braveza, e ela queria acreditar que o motivo de todo estardalhaço era que ele (o mar) não suportava vê-la partir. Não para um destino tão incerto.
Kilian fechou os olhos e não demorou muito mais do que alguns minutos para pegar no sono, deixando claro para Karen que ela estaria solitária durante o todo o percurso até o aeroporto. Ingrid e Moises eram os criados que os acompanhariam, mas viajavam ambos em um segundo automóvel, o mesmo que levava a bagagem da família.
Além dos dois, seguiria com eles também Portos, o oficial responsável pela guarda pessoal de Kilian. Este era jovem, polido, mas algo em seu olhar causava calafrios em Karen. Ele estava sentado no banco da frente, junto ao condutor do veículo e, ao espiá-la pelo espelho retrovisor, lançou-lhe um sorriso macabro.
Não eram raros os momentos em que a princesa tinha a impressão de que aquele homem tivesse algo contra ela − talvez a odiasse − e, mesmo se aquilo fosse coisa da sua cabeça, nunca ficaria confortável o bastante para se dar ao benefício da dúvida. Pressionando um botão no painel ao seu lado, ela sussurrou um pedido de licença e fez com que uma tela subisse entre as cabines, separando os compartimentos em que estavam.
Aqueles olhos sombrios, entretanto, ficaram em sua memória durante mais algum tempo. Ela se perguntou como alguém daquele tipo teria conquistado a confiança do irmão. De repente lhe ocorreu o pensamento de que existia muitas coisas sobre Kilian que ignorava. Coisas das quais jamais tinha se dado conta. Até agora.
Sobre o colo, Karen folheava um livro na intenção de ocupar a mente. Era uma história antiga, escrita na idade contemporânea, que ela mesma já havia lido algumas vezes. Com um mocinho que tinha problemas na fala e a irmã de seu melhor amigo, o livro falava sobre como o amor verdadeiro era capaz de vencer todas as diferenças.
De repente, alguma coisa fez seu estômago embrulhar, e a princesa se deu conta de que todos os sonhos ocultos que já tivera, imaginando que um dia iria se apaixonar por um homem que a tratasse da mesma forma como Simon tratava Daphne, estavam muito próximos de desvanecerem para sempre.
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O Filho do Imperador
Teen FictionAs antigas Américas, que já não existem, agora são um continente formado por diversos reinos e o Império de Lima que, situado ao sul da Linha do Equador, tornara-se a maior potência mundial daqueles tempos. De sorriso fácil e personalid...