A pior forma de ser acordado quando você não está feliz é, digamos, ser acordado romanticamente.
Karen abriu os olhos, irritada com o melodioso canto vindo da janela.
O som alto e agudo que invadira seu quarto a fez despertar de um sonho que envolvia certo príncipe sendo abandonado no altar. Arrastando os pés, ela se forçou a ir até a janela para abri-la e descobrir do que aquilo se tratava.
Imaginou que qualquer que fosse o pássaro que a incomodava, bateria as asas e fugiria para longe assim que se aproximasse. Entretanto, para sua surpresa, uma ave pequenina, de asas negras e cabeça vermelha, a fitava como se olhasse de soslaio.
Enxerido, virava a cabecinha para irritá-la ainda mais. Karen percebeu na hora que se tratava de um uirapuru.
O pássaro do amor, como era conhecido, não se incomodava com sua presença e, por uma ironia do destino, escolheu logo a sua janela para cantarolar naquela manhã.
A princesa, porém, não pareceu divertir-se com aquela peça pregada pela natureza, e esforçou-se para enxotá-lo dali o mais rápido que pôde.
Com a ajuda de Ingrid, que chegou ao seu quarto no horário marcado, ela se arrumou para o passeio no jardim.
A dama a fez um penteado trançado e uma maquiagem leve, ideal para a manhã. Satisfeita com o reflexo de seu vestido branco de renda, que admirava no espelho, Karen colocou uma tiara de brilhantes. Estava perfeita.
Naquela manhã, ela participou do café em família e, mesmo percebendo os olhares furtivos de que Sales insistia em lançar em sua direção, desejou que a refeição não acabasse tão rápido, de modo que o momento em que ficaria a sós com Roque demorasse um pouco mais para chegar. Mas chegou.
E chegou mais depressa do que gostaria.
O príncipe caçula se aproximou com um sorriso largo no rosto e estendeu a mão para pegar a sua. Deu-lhe um beijo demorado, como aparentemente gostava de fazer e ofereceu o braço para que ela o tomasse.
De soslaio, a princesa notou que o olhar de Sales acompanhava os dois até deixarem o recinto e, por algum motivo, isso fez com que ela levasse a mão que estava solta até o braço de Roque, interpretando alegria por compartilharem aquele momento.
Com o canto dos olhos percebeu, pelo movimento de sua mandíbula, que o Delfim¹ trancava os dentes e uma sensação de prazer se ascendeu em seu íntimo sem que ela tenha se dado conta.
Os dois caminharam para o exterior do palácio e chegaram a um jardim. Ela examinou as rosas e hortênsias que embelezam o lugar e acabou lembrando-se das tulipas de sua casa. Por um momento, passou-lhe pela cabeça que o lugar não era tão grandioso quanto seu próprio quintal. Mas Roque não agia como alguém que já chegara a seu destino.
− Posso saber para onde está me levando? − perguntou, tentando não soar tão desconfiada quanto na verdade estava. − Pensei que faríamos um passeio pelo jardim.
− É exatamente o que faremos, minha querida − disse, com uma intimidade que fez Karen sentir uma espécie de embrulho nas vísceras.
Ela não sabia que os dois já estavam nesse ponto do cortejo, onde se apelidavam carinhosamente.
− Contudo, não neste jardim.
Tranquilamente, ele prosseguiu até a muralha que delimitava uma das laterais do castelo. Os dois precisaram andar por um bocado de tempo, até alcançá-la, de modo que o calor já começava a incomodar a princesa. Ainda assim, a moça preferiu calar-se sobre o recente mal-estar, visto que o príncipe parecia tão determinado a concluir o que fazia.
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O Filho do Imperador
Teen FictionAs antigas Américas, que já não existem, agora são um continente formado por diversos reinos e o Império de Lima que, situado ao sul da Linha do Equador, tornara-se a maior potência mundial daqueles tempos. De sorriso fácil e personalid...