prólogo

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Daenerys sempre havia gostado do calor, afinal um dragão era puro fogo. Porém, pela primeira vez em toda sua vida ela sentia um frio extremo cobrir-lhe seu corpo, desde a ponta do seus dedos do pé até o topo de sua cabeça. Um frio pior do que quando andava de cidade em cidade grudada ao calcanhar de Viserys fugindo dos cães do Usurpador, mais amedrontador que a primeira vez Drogo a possuiu sob um céu noturno e estrelado, um frio mais vazio que seu caminho doloroso pelo Deserto Vermelho.

Aquele gélido, calmo e cruel frio que consumia seu corpo.

Três traições conhecerá... uma vez por sangue, uma vez por ouro e uma vez por amor...

Ela devia ter se lembrando das profecias, devia ter se lembrando das palavras que a perseguiram em Meereen, entretanto deixou Westeros a ludibriar e se esqueceu. Se esqueceu da última traição, pois o amor foi doce e ela já havia perdido tanto. Os olhos cinzentos de Jon Snow apareceram diante de dela, ela tentou tocá-los, mas ele se desfizeram em uma névoa.

Lembre-se de quem você é, Daenerys. Os dragões sabem. Você sabe?

Ela havia sido um dragão, havia queimado uma cidade inteira em um mar de loucura e fúria. Havia trago Fogo e Sangue para Westeros e havia pagado o preço, não era isso o que devia ter feito? Dessa vez um par de olhos verdes surgiram em sua frente.

— Era realmente você? A rainha mais jovem e mais bela? — A voz de Cersei ecoou naquele lugar de trevas, todavia Dany não conseguiu responder a tempo antes do par de íris esmeraldas desaparecem diante de si.

Olhou ao redor e notou outros olhos a observando do meio da escuridão, dessa vez viu olhos amigos, daqueles que ela queria ter salvo e protegido, daqueles que ela chorou quando perdeu. Missandei, Jorah, Barristan, Jhogo, Aggo, Rakharo, Irri, Jhiqui e Doreah.

— Minha Rainha! — Suas vozes disseram em uníssono, mesmo que não houvessem lábios. E então desapareceram também e ela se sentiu mais sozinha do que nunca.

Mãe de Dragões...

Ela escutou os rugidos distantes e agonizantes de Viserion e Rhaegal, ela havia perdido ambos, seus filhos, os únicos que ela teria. Por fim ouviu Drogon, mais forte e mais estridente, seu rugido vinha como um choro suplicante, ele chora por sua mãe.

— Eu estou pronta para partir, eu não aguento mais. — Abraçou a si mesma tentando se aquecer e fazer o frio ir embora, não aguentava mais sofrer, não aguentava mais reinar e não queria mais ser a última Targaryen no mundo, pois uma Targaryen sozinha no mundo é uma coisa terrível.

Um outro par de olhos apareceu para ela, olhos castanhos e com ele o tilintar de sinos. Ela sorriu quando o viu e deixou que as lágrimas banhassem sua face.

— Lua da minha vida, eu te esperei. Está pronta para cavalgar comigo?

Ela estendeu a mão enquanto acenava positivamente, pronta para deixar tudo para trás e descansar. Preparada para abandonar as trevas e seguir ao lado do seu sol e estrelas nas planícies eternas ao lado daqueles que haviam partido.

— Você realmente já está pronta, Filha da Tormenta? — Dany se virou para olhar uma máscara muito conhecida, uma que ela não via há muito tempo.

— Quaithe? É mesmo você?

Ela não respondeu de imediato, continuou-a encarando solenemente antes de emitir mais palavras por debaixo de sua máscara.

— Você foi para o norte, e chegou ao sul. Alcançou o oeste, e agora está no leste. Para ir adiante, você foi para trás. Você precisou passar sob a sombra e agora, o que falta?

Daenerys aguardou um segundo hesitante antes de mover os lábios em um sussurro.

— Tocar a luz.

A profetisa acenou como em concordância.

— A escolha é sua, Mãe de Dragões, sempre foi.

Sabia que as íris amendoadas de Drogo continuavam fitando as suas costas, que apenas precisava dar as costas a Quaithe e seguir com ele para esquecer tudo e não ter de lutar mais uma vez. Pensou em olhar para ele por um último momento, mas se olhasse para trás estaria perdida. Seguiu em direção a máscara e não virou-se, as lágrimas continuavam descendo e ela não o olhou, uma chance de seguir em frente e deixar o mundo dos homens, mas ela manteve-se firme. E então, estendendo os dedos trêmulos, tocou a luz.

Abriu os olhos violeta em uma sala escura, iluminada por velas de vidro. Homens e mulheres vestidos de vermelho a circundavam enquanto entoavam um cântico antigo e há muito esquecido. Ao longe ela escutou um rugido de um dragão, avisando ao mundo que sua mãe havia voltado. Um dos homens seguiu até ela e os cânticos reverberam mais fortes em seu ouvido.

— O que você veio fazer aqui Daenerys Targaryen, Nascida da Tormenta?

Três fogueiras tem que acender... uma pela vida, uma pela morte e uma pelo amor..

— Eu ainda tenho uma fogueira para acender. 

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