o dragão sob a pirâmide

112 17 0
                                    

As primeiras semanas foram cheias de honrarias e audiências. Ela ouviu a todos os pedintes, recebeu agradecimentos por tudo o que havia feito ali com um sorriso no rosto, ganhou presentes das pessoas mais abastadas e resolveu os problemas que a população trouxe a ela. Nos intervalos que podia escapar de seu banco caminhava pelo mercado que agora mais uma vez estava cheio de vida e as multidões se amontoavam para vê-la passar, também voou pelos céus com Drogon e muitos foram para as janelas e sacadas para observar o dragão e sua rainha que havia voltado.

Tudo parecia estar caminhando bem, porém ela ainda sentia um vazio dentro de si.

Daenerys não sabia o que aconteceria com sua vida a partir daquele momento. Voltara a ser rainha daquele povo e daquela Baía, governando de Meereen, mas com poder em Astapor e Yunkai. Os homens de Daario e o próprio mercenário eram tudo o que sobrara de seu exército e ela não sabia qual tinha sido o rumo de seus imaculados e dos dothraki. Naharis apenas havia dito que sabia que eles tinham voltado para Essos e não se sabia mais de nenhum deles. Ela se perguntava como Verme Cinzento estava, depois da morte de Missandei e ainda de sua própria morte.

A rainha de cabelos prateados suspirou e ajeitou sua postura no banco de ebano quando a próxima pessoa foi anunciada.

Dany olhou para a senhora com curiosidade. Vinha envergada pela própria coluna que fora moldada pelos anos até se formar um ângulo estranho, os cabelos brancos eram tão ralos que se via o crânio por debaixo dos mesmo e por fim o que mais lhe chamou sua atenção, sob um olho, marcas de uma cicatriz que lembrava o formato de lágrimas. E ela soube que aquela mulher era de Volantis.

— A senhora viajou um longo caminho até aqui, se realmente veio de onde imagino. — Daenerys começou se movimentando um pouco para frente, intrigada com a visitante. — Qual seu nome?

— Pode apenas me chamar de Viúva do Cais.

Ela e Daario, que estava a centímetros dela, se entreolharam, mas Dany deixou que ela continuasse.

— Nós te esperamos por um bom tempo, sabia? Eu esperei, mesmo quando você atravessou rumo ao Oeste, sem ao menos passar por Volantis. — Ela respondeu aparentando estar cansada, por isso Dany pediu que trouxessem uma cadeira para ela, onde a senhora se sentou agradecida antes de continuar. — Pedi ao cavaleiro e ao anão que lhe trouxessem a mensagem, mas parece que aqueles dois não fizeram um bom trabalho.

Tyrion, ela falava do Lannister e de... Jorah.

— Conheceu Tyrion Lannister e Jorah Mormont?

— Há muito tempo atrás, da última vez que você se sentou nesse banco e antes de partir com um exército para o lugar errado. — Ela parou um pouco para molhar os lábios ressecados. — Disse a ele que dissesse a ti que estávamos esperando e que você viesse logo.

— Esperando a mim? Por qual motivo?

— Para fazer o que o lema de sua família diz, trazer fogo e sangue a Volantis e libertar os escravos como fez aqui.

Dany não escondeu a surpresa e olhou para Daario em busca de qualquer coisa, mas o mercenário apenas deu de ombros. Então a Viúva do Cais voltou a falar.

— Sabe menina, eu nasci aqui mesmo, em Yunkai. Fui treinada desde pequena a como agradar um homem na cama e fui vendida como peixe na feira pelo meu antigo mestre. — Algo que parecia emoção transpassou a face de pedra da mulher. — Em toda a minha vida eu pensei que meus irmãos e irmãs, escravos e escravas presos a correntes nunca conheceriam a liberdade. Mas então... eu ouvi os sussurros de além-mar. Os rumores de uma rainha prateada e seus dragões, uma garota que havia matado os mestres e crucificado eles por terem feitos a mesma coisa a criancinhas e então eu soube, soube que por fim nossa salvadora havia chegado.

Daenerys Targaryen não soube ao certo o que responder após ouvir aquilo.

— Você quer que eu liberte os escravos de Volantis?

Incredulidade saiu envolvida a sua voz, porém apenas certeza respondeu a sua pergunta quando a mulher de idade molhou os lábios em resposta.

— Sim, o povo daquela cidade precisa conhecer a liberdade. — As palavras delas eram duras, mas cheias de chamas. — E há também algumas pessoas que você precisa rever, eu os trouxe comigo e eles estão te esperando no porto.

Grandes barcos tomavam conta do porto de Meereen e as pessoas se juntavam curiosas em saber quem seriam os visitantes, da mesma forma que ela. Os seus mercenários abriram espaço pela multidão e Daenerys passou caminhando entre conversas e pessoas que queriam falar com ela. A prateada continuou mexendo os pés, até que saiu em uma pequena roda que dava na rampa ligada a um dos navios e ali ela viu quem tinham acompanhado a Viúva.

Verme Cinzento foi o primeiro a cair em um joelho, sendo seguido por todos os imaculados.

— Daenerys Targaryen, Nascida da Tormenta, a Quebradora de Correntes, vive! — Seu antigo general urrou a plenos pulmões enchendo ao redor com sua voz grave e potente.

Em resposta os soldados começaram a bater suas lanças contra o chão, fazendo o som reverberar entre todos eles. Enchendo as ruas do porto, o convés de todos os navios e os ouvidos de todos os presentes. Ela se emocionou, finalmente sentindo algo no vazio que habitava seu interior. E a rainha se aproximou, colocando uma mão no ombro do imaculado.

— Levante-se. — Ele obedeceu e Daenerys sorriu, verdadeiramente feliz por um ver um rosto familiar, a face de um amigo.

— Me perdoe, minha rainha...

— Pelo que?

— Por ter deixado que você ficasse desprotegida e fosse assassinada por aquele... aquele... — As palavras não saíram de sua boca e Verme Cinzento parou de tentar. — Por ter deixado ele fazer o que fez e ainda ter continuado com vida. Por não ter acreditado a princípio, quando aquela mulher me disse que você estava viva, que tinha fugido da morte.

Então Jon Snow ainda estava vivo. Aquilo mexeu com ela de certa forma, mas balançou a cabeça deixando que aqueles pensamentos ruins se dissipassem como poeira ao vento, focando no que realmente importava naquele momento.

— Como você foi parar em Volantis?

— Estávamos indo para Naath, para proteger o povo de Missandei como eu prometi a ela. — Ele disse com pesar em seu rosto de pedra e Dany também sentiu um aperto dentro de si. — Quando paramos em Volantis para pegar provisões aquela mulher nos abordou e contou sobre o que tinha ouvido dos marinheiros vindos do outro lado do mar, de uma rainha ressuscitada que voltara a governar a Baía dos Dragões. Eu decidi ver com meus próprios olhos e é a pura verdade. Minha rainha vive.

— E o que irá fazer agora? Seguirá para Naath?

Daenerys questionou esperando ansiosa pela resposta. Gostaria que Verme Cinzento decidisse ficar ali, para ter mais um amigo ao seu lado. Porém, nunca o impediria de ir para a ilha natal de sua grande amiga se assim ele desejasse. Assim como não achava que ficar perto dela fosse o mais sábio no momento, não quando ela mesma estava repleta de dúvidas sobre seus próprios objetivos e papel naquele mundo.

— A senhora de Volantis já deve ter comentando sobre os planos dela e o desejo do povo daquela cidade.

— Sim. — Dany concordou com um aceno rápido. — Ela quer libertar os escravos de Volantis, quer que eu o faça.

— Pois bem, se a minha rainha assim quiser, eu e meus homens iremos lutar mais uma vez ao seu lado. Para libertar nossos irmãos e irmãs escravos da mesma forma que tu nos libertou quando chegou a Astapor. Os Imaculados te seguirão, Daenerys Nascida da Tormenta.

Então ela teve de segurar a respiração, sentindo algo se revirar dentro de si. Como uma chama se acendendo mais uma vez, uma brasa de vida e sentimentos, uma que ela ainda não sabia se devia jogar água por cima ou assoprar para aumentar as labaredas de calor.

— Vamos até a pirâmide, temos muito o que conversar e planejar. — Ela falou por fim e Drogon rugiu voando pelos céus, como se respondendo ao fogo que queimava dentro dela mais uma vez.

ProfeciesOnde histórias criam vida. Descubra agora