- Amigo, pode deixar que eu pago! - Leni coloca meu dinheiro de volta na minha bolsa e responde:
- Olha só, eu sou bicha mas ainda sou o homem dessa relação! - Comecei a rir e desisti de tentar pagar o motorista.
Descemos do carro e um sorriso transborda em meu rosto no momento em que avisto os arcos da Lapa. Como sou apaixonada por esse tal de Rio de Janeiro! Quando olho pra trás dou de cara com as meninas... Luíza, Karen, Josi e de lambuja Patric um amigo do Leni. Espremi todas elas em meu abraço de urso, dei os famosos dois beijinhos de bicha no Patric e sentamos todos na mesa.
Uma linda garçonete nos pergunta o que queremos. Leni e Patric vão de caipirinha, Josi e Karen de vinho, mas eu e a Luíza pedimos foi uma torre de chopp. Pra adiantar a vida pedi logo uma porção de churrasco misto e umas batatas fritas. Fizemos o primeiro brinde para comemorar aquela noite e aquele reencontro. Leni como não pode ver uma vergonha que já quer me fazer passar, grita para toda Lapa ouvir:
- Um brinde a solteirice da Marilú!!! - As mesas em volta procuraram a dona da solteirice com rapidez, mas eu fiz a egípcia e fingi que não era comigo.
As meninas morreram de rir e sentamos todas. Como eu ainda não havia proclamado a minha boa nova para as meninas, eu aproveitei o gancho para contar tudo a elas:- Meninas, apesar do Leni ter me feito passar essa vergonha no débito, de fato eu estou solteira mesmo. - Luíza se vira pra mim depois de virar sua caneca de chopp de uma só vez e diz:
- Amiga!!! Como assim? Vocês estavam tão bem. Conta pra gente isso direito! - Virei também minha caneca de chopp e tive o desprazer de relembrar aquele momento que gostaria de apagar da minha vida, mas de fato, as minhas amigas mereciam saber daquela história por mim.
O Patric que mesmo acabando de me conhecer se virou pra mim escandalizado e perguntou:
- Mas vocês tinham um relacionamento ruim? Ele nunca havia dado nenhum sinal de ser assim? - Isso foi uma pergunta que me mexeu comigo.
Gente como eu nunca poderia ter reparado no machismo e na arrogância do Fábio? Enchi minha caneca de chopp, dei três goles nela enquanto todos na mesma aguardavam minha resposta...
- Patric, meu relacionamento pra mim sempre foi uma coisa boa, mas nunca o centro da minha vida, sou extremamente apaixonada pelo meu trabalho e pelas minhas amizades. Nenhum homem vai se tornar um dia o centro da minha vida, então muito provavelmente eu posso ter deixado passar alguma coisa, e como eu tinha a segurança de estar com ele a muito tempo, acabei por me deixar acomodar e não reparei em nada. - Leni nota que o clima começa a ficar tenso e resolve contornar a situação:
- Mas o que importa é que estamos aqui e vamos bebemorar a nova vida de solteira da Marilú! - Todos levantam seus copos com um ar de alívio e nisso os músicos começam a tocar. Desvio meu olhar em direção a eles e fico escandalizada com a beleza do vocalista. Um negro forte, com um sorriso lindo e uma voz que pelo amor de Deus! Patric que não era lá muito fã de samba dispara:
- Lalaiá a parte, que vocalista é esse gente!? - Era impossível negar a beleza daquele homem, mas pela primeira vez em anos, eu não me sentia segura pra tentar qualquer coisa que fosse. Eu costumo ser tão descolada e desprendida, mas nesse momento tem algo me segurando e talvez possa ser a estranheza de se colocar a disposição do flerte depois de tanto tempo tendo alguém colado em mim.
O samba corre solto, as meninas estavam se acabando... Luíza lutava contra seu vestido drapeado que não parava de subir conforme ela sambava, mas ao jogar seus longos cabelos lisos e recém tingidos de preto pro lado conseguia desviar atenção. Karen com seu black poderoso associado com sua mini saia, não deixava muito espaço para Leni e Patric que se atrapalhavam entre si enquanto tentavam dançar coladinhos. A minha linda companheira de raiz loira Josi, tava do meu lado mas não tirava os olhos do celular. Parece que estava esperando uma menina chegar. Me encontrava rodeada de amigos, bebida, música boa, mas sentia falta de ter alguém ali comigo. Não era falta do Fábio, era falta da segurança de estar acompanhada. Nunca pensei que isso fosse me incomodar, mas de fato, pra mim aquela noite já tinha dado o que tinha que dar.
Chamei Leni pra um canto e falei que estava indo embora. Ele me olhou com um ar de reprovação e imediatamente gritou:
- Você está doida dona Maria Luíza? Você não vai se deixar levar por essa sensação de cachorrinho abandonado. Eu vou precisar te lembrar do mulherão que você é? - Sem nem me deixar responder, ele me puxa pra frente dos músicos e me põe pra sambar.
Por incrível que pareça, aquela pressão que Leni exerceu sobre mim me fez um bem danado. Me vi livre naquela roda de samba, deixando meu corpo se levar com o ritmo do cavaquinho e do tam-tam. Minhas pernas estavam perfeitamente coordenadas com minha vontade se ser feliz e sendo assim, aquela noite ganhou um brilho novo que eu precisava apreciar novamente. Olho pra Leni e meu sorriso de "muito obrigada" casava perfeitamente com seu ar irônico de "de nada". Me viro de frente pros músicos e lá estava ele... o sorriso moldado por aqueles lábios grossos do vocalista. Noto que ele reparou no meu jeitinho de sambar, mas depois de uma sequência de chopps, ficamos sem saber ao certo o que cada olhar pretende dizer. As meninas e os meninos se juntam a mim na frente deles e a diversão era mais forte do que qualquer sensação que eu pudesse vir sentir naquela hora. Observo o vocalista novamente achando que ele estava olhando pra mim de novo, mas no mesmo momento olho pra trás e vejo Leni sinalizando pra ele. Aí meu senhor... meu sensor de bicha estava desativado. Uma pena pra mim, mas sorte do Leni. No intervalo do show, o vocalista dá uns amassos no Leni no banheiro e faz com que ele volte como uma gazela saltitante.
Depois de mais de 4 horas bebendo, o restante de lucidez que me resta me informa que é hora de ir pra casa. Leni se despede da gente eufórico, pois vai passar a noite fora com o negão do microfone, enquanto eu e as meninas decidimos cada uma pedir seu carro de aplicativo. Até que no momento em que eu pego meu celular, Josi se vira pra mim e fala:
- Amiga, posso dormir na sua casa? Lembra aquela amiga minha que estava vindo? Ela está nesse momento agarrando meu irmão no sofá do meu apê. - Eu dou um sorriso a ela e digo:
-Claro que pode amiga. Vamos lá!
Entramos no carro e não demorou muito para chegarmos em casa, o trânsito na madrugada graças a Deus é praticamente nenhum. Chegando em casa ela vai pro banho enquanto separo alguma camisola minha antiga que possa caber nela. Deixo em cima da cama, vou pra cozinha beber um pouco de água e pensar que infelizmente amanhã não conseguirei escrever o primeiro capítulo do meu diário. Josi libera o banheiro e eu vou correndo me enfiar no chuveiro. Saio de lá de corpo e alma lavados. Enrolada na toalha vou para o meu quarto onde Josi estava assistindo TV na minha cama. Assim que ela bate os olhos em mim sua respiração muda e eu fico tentando usar aqueles poucos neurônios que não ficaram bêbados para decifrar o motivo daquela reação dela. Ela levanta da cama em minha direção e me diz:
- Desculpa o que vou dizer amiga, mas seu rosto sem maquiagem, casado com seu perfume, esse cabelão molhado e essa toalha trazendo esse ar de mistério, me trouxeram uma imagem um pouco diferente da que eu tinha de você... - Naquele momento, me lembro que a Josi é bissexual e que também nunca tivemos a intimidade de dormirmos uma na casa da outra pelo fato dela morar com o irmão e eu sempre estar com o Fábio nas nossas saídas.
O fato de eu nunca ter ficado com uma mulher, não me despertou nenhuma maldade ao sair do banheiro apenas de toalha, mas quanto mais ela se aproximava de mim, mais meu corpo reagia estranhamente aquela situação com um desejo que nunca senti... Josi era uma loira linda, dona de um par de olhos azuis e de um corpo violão que arrancava suspiros de quase todos que passassem por ela. Foi impossível resistir quando ela me pegou pelo pescoço e começou a me beijar...
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O Diário do prazer - Degustação (Disponível na Amazon)
RomansaMaria Luíza, mais conhecida como Marilú é uma mulher de 30 anos que depois de um término de um relacionamento longo, decide dar um "boom" em sua vida sexual se abrindo para novas experiências. Por esse motivo, ela resolve escrever em um diário todas...