O que sobrou de nós.

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O que sobrou de nós?

Nada. Não sobrou nada.

Nada além de palavras bonitas jogadas ao vento, nada além de beijos nunca dados, nada além de um futuro nós nunca alcançado.

O que deixamos para trás, afinal? Doces mentiras, amargas verdades, carinhos perdidos, frases não ditas.

Quando eu penso em nós, eu só consigo vagar na linha tênue do que fomos e do que jamais seremos. Na linha do que fomos é tudo mais claro: nunca fomos constantes, sempre distantes mas fazíamos um esforço para colidir o máximo possível, jogamos eu te amo ao vento e tornamos a frase maldita com tempo porque ela não ecoava mais. Porque no começo tudo voltava no mesmo som e o tempo foi passando e a caverna foi perdendo consigo a capacidade de ecoar, então eu te amo virou um grito de desespero em um vazio ensurdecedor. Colidimos, com força, batemos como dois trens em alta velocidades. Dor, imensurável da partida porque não podíamos mais ficar ali. Nossa morada junta se desfez porque não era forte o suficiente, o vento veio e derrubou deixando apenas restos de catástrofe e poeira.

Paramos de falar sobre as ruínas, fingindo que ainda tínhamos algum teto sobre nossas cabeças para nos proteger, não tínhamos. Inconstantes. Para nós mesmos numa dança suave entre permanecer e ir embora. não tão suave. Angústia, eu sonhava com nós, realidade que você escolheu ir.

Insônia, você não estava mais aqui. Nunca esteve. E o que seríamos se tivéssemos tomado decisões diferentes? Você seria minha no final do dia? Você se deixaria ser?
Você se deitaria ao meu lado quando se sentisse sozinha ou você se deitaria ao meu lado porque me amava? Você cantaria comigo todas as melodias que eu tenho em meu coração? Você caminharia comigo em meus piores pesadelos?

Você ficaria se fosse diferente?
Você ficaria se fosse igual?
Você ficaria se eu pedisse?

Instantes, você some. Você vai, não te peço para ficar. e se eu pedisse? Eu fiquei parada te vendo partir enquanto isso você me partia junto a ti.

e o que sobra de nós depois disso? Angústia? Dor? Temor? Diga, ainda resta um pingo de amor? Me peça pra ficar, me diga o que sobrou.

Boas lembranças que habitam um banco de praça, pouco iluminado. Uma blusa branca, mãos entrelaçadas, beijo nunca dando, enferma paixão.

23/09/19 mwood

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