50_ Amor próprio.

29.9K 3.2K 2.5K
                                    

Eu fiquei calada pelo resto da noite. Tinham tantas coisas fervilhando na minha cabeça que eu não consegui formular nenhuma para dizer.

Walace chamou a polícia e logo os mesmos chegaram. Dylan e Darla que sabiam falar inglês explicaram toda a situação para os policiais que rapidamente pegaram Tyler que já havia acordado.

Brianna se ofereceu para testemunhar e surpreendeu a todos quando disse que Hugo não havia encostado um dedo em Tyler. O que obviamente era mentira.

O rosto de Tyler estava sangrando justamente porque Hugo havia batido nele, mas só parou porque Tyler havia desmaiado.

Eu não entendi na hora o porque de Brianna ter mentido. Ela disse que quem havia batido nele havia sido eu por legítima defesa.

Todos ficamos chocados na hora, mas Dylan disse que ela havia feito isso para Hugo não ser levado também. Afinal, ele havia espancado Tyler. E querendo ou não, as coisas lá eram bem mais rígidas do que são no Brasil.

Toda aquela confusão acabou cortando o clima de festa para gente, só pra gente mesmo, porque para o resto do pessoal a festa continuou a todo vapor.

Depois da polícia ter levado Tyler, Brianna ligou para a mãe dele e disse que iria para a delegacia espera-la. A mesma me olhou com um olhar profundamente amargurado e segurou meu ombro.

- Eu sinto muito. - Foi a única coisa que ela disse antes de sair da festa.

Nós também não ficamos muito tempo lá depois daquilo, logo chamamos um táxi e fomos para casa.

Hugo percebeu que eu estava silenciosa mas não quis me dizer nada. Acho que ele sabia que eu só precisava ficar sozinha com meus pensamentos.

Assim que chegamos eu não quis entrar em casa. Todos se dirigiram a ela mas eu permaneci parada na areia olhando para o mar.

Eu estava tão triste. Me sentia num fundo de um poço imenso. A cada segundo que se passava eu só conseguia me lembrar de Tyler me beijado, de Tyler passando a mão em mim, de seus olhares de segundas intenções, eu me sentia terrivelmente perturbada pelo rosto dele.

Andei devagar em direção ao mar sentindo o vento gelado bater nas minhas bochechas e abracei meu próprio corpo.

Sentir o vento e as ondas baterem nos meus pés de alguma forma era reconfortante. Parecia um ponto bom no meio de todo aquele desastre que havia se formado no meu psicológico.

Eu só me perguntava: Por que? Por que comigo? O que eu fiz pra merecer isso?

Eu em algum momento insunuei para o Tyler que eu estava interessada?

Em algum momento dei mole ou bola pra ele?

A culpa era da minha roupa?

Não. Não era nada disso. Eu estava de calça e blusa. Eu nunca dei um sorriso sequer a ele. Eu nunca deixei de deixar claro que não tinha o menor interesse.

A culpa não era minha. Não era do meu comportamento e nem era da minha roupa. Infelizmente coisas assim acontecem e a cada vez que se repetem eu me sinto mais suja e com nojo de mim mesma.

Olhando para aquele céu que estava começando a se clarear aos poucos, eu cheguei a conclusão de que a culpa não era minha. Eu não devia me castigar por uma atitude de um homem escroto.

Eu não merecia sofrer porque o garoto imaturo não aceitava um simples não. Eu não vou ficar me torturando com isso. Eu mereço ser feliz e não vou me remoer por algo de ruim que aconteceu comigo.

Naquele momento eu tirei o meu tênis e o joguei na areia. Comecei a andar em direção a água que no momento estava perfeitamente morna e pela primeira vez calma, e fui até a parte aonde eu ainda dava pé.

Mergulhei molhando o meu cabelo e passei as mãos no rosto.

Olhei para trás vendo que Hugo estava sentado na frente do portão apenas me olhando. Eu agradeci imensamente por ele ter me deixado ter aquele momento comigo mesma e fiquei grata por ter alguém que me compreendia do meu lado.

Voltei a olhar para o céu e o mar e me senti calma.

Acabei aceitando e entendendo que a vida não é só um mar de rosas, mas que também existem Tylers por aí. Eu poderia me afundar no meu mundinho de ódio de novo, mas a melhor forma de provar para mim e para o mundo que eu sou forte, é passando por cima disso e tirando disso uma lição. Nós mulheres podemos parecer fracas por fora, mas somos infinitamente fortes por dentro.

Meu corpo é um bem valioso que eu tenho, e eu não vou ter repudia ou nojo dele porque um idiota tentou se aproveitar. Eu valho muito para me afundar por um babaca.

Eu tenho um valor. Todas as mulheres tem e se eu demonstrar fraqueza, infelizmente serei pisoteada. Mas não vou permitir que isso aconteça.

Uma lagrima escorreu pelo meu rosto, mas essa não era de tristeza, era de alegria. Eu era forte e eu mesma me surpreendi ao descobrir isso.

Não valia a pena guardar um sentimento ruim que me fazia mal pelo Tyler. Um dia ele vai ter o que merece ( talvez seja pelas minhas mãos ) mas eu queria ficar em paz comigo mesma.

Eu havia aprendido a me amar.

●●●
Continua...

O Garoto do Condomínio | Pelo mundo com você Onde histórias criam vida. Descubra agora