PARTE 1 TÉCNICAS FUNDAMENTAIS PARA TRATAR COM AS PESSOAS

4.2K 71 20
                                    

CAPITULO I
‘SE Q UER TIRAR MEL, NÃO ESPANTE A COLMEIA”.
No dia 7 de maio de 1931 a cidade de Nova York testemunhou a mais sensacional
caçada humana de que a velha metrópole já teve notícia. Depois de semanas de
procura, Crowley, alcunhado “Two Gun”, o assassino que não fumava nem
bebia, fora localizado e cercado no apartamento de sua namorada em West End
Avenue.
Cento e cinquenta policiais e detetives dirigiram o cerco ao seu esconderijo no
último andar do prédio. Depois de abrirem buracos no teto, procuraram alcançar
Crowley, “o rei dos matadores”, com gás lacrimogêneo. Armaram então suas
metralhadoras nos edifícios vizinhos, e por mais de uma hora uma das zonas
residenciais mais finas de Nova York esteve em rebuliço com os tiros de pistolas
e o ra-tá-tá das metralhadoras. Crowley, agachado atrás de uma cadeira
estofada, atirava incessantemente contra a polícia. Dez mil pessoas emocionadas
assistiam à batalha. Nada parecido havia sido visto antes nas ruas de Nova York.
Quando Crowley foi capturado, o comissário de polícia Mulrooney declarou que
o celerado “Two Gun” era um dos elementos mais perigosos na história do crime
em Nova York.
“Ele matará”, disse o comissário, “no cair de uma pena”.
Mas como Crowley, o “Two Gun”, se considerava a si mesmo? Nós o sabemos,
porque enquanto a polícia estava atirando contra o seu apartamento ele escreveu
uma carta endereçada ‘a quem possa interessar”. E, ao escrevê-la, o sangue que
corria de um dos seus ferimentos deixou um rastro carmesim no papel. Nesta
missiva Crowley disse: “Debaixo do meu casaco há um coração fatigado, mas
bondoso, um coração incapaz de fazer mal a qualquer pessoa”.
Pouco tempo antes, estava Crowley namorando a garota numa estrada no campo
em Long Island. Subitamente um policial dirigiu-se para o carro estacionado e
pediu:
“Deixe-me ver sua licença”.
Sem dizer uma só palavra, Crowley sacou sua arma e derrubou o policial com
um tiro. Quando a moribunda autoridade caiu, Crowley saltou do carro, tirou o
revólver do policial e deu outro tiro no corpo, que se achava prostrado. E era este
assassino quem dizia: “Debaixo do meu casaco há um coração fatigado, mas
bondoso, um coração incapaz de fazer mal a qualquer pessoa”.
Crowley foi condenado à cadeira elétrica. Ao chegar à câmara da morte, na
prisão de Sing-Sing, teria ele exclamado:
“Isto e o que consegui por matar pessoas”? Em absoluto. Ele disse: “É o que
consegui por defender-me”.
O ponto interessante do caso é o seguinte: “Two Gun” não se culpava por coisa
alguma. Será esta atitude pouco comum entre os criminosos?
Se pensa assim, leia o seguinte:
“Passei os melhores anos da minha vida proporcionando os mais verdadeiros
prazeres ao povo, ajudando-o a divertir-se, e tudo o que consegui com este meu
gesto foi insultos e a existência de um homem caçado”.
Foi Al Capone quem falou assim. Sim, o até então Inimigo Público Número Um
da América do Norte, o mais sinistro chefe de gangsters que já apareceu em
Chicago. Capone não se condena.
Julga-se um benfeitor público, um benfeitor público mal apreciado e mal
compreendido.
E o mesmo fez Dutch Schultz antes de baquear atingido pelas balas dos gangsters
em Newark. Dutch Schultz, um dos mais notáveis larápios de Nova York,
declarou numa entrevista aos jornais que ele era um benfeitor público. E
acreditava nisto.
Mantive uma interessante correspondência sobre o assunto com Lewis Lawes, o
diretor da infamante prisão de Sing-Sing durante anos.
Afirmou-me ele que “poucos criminosos em Sing- Sing se consideram más
pessoas. São tão humanos como você e eu. Por isso justificam e explicam. Eles
podem dizer-lhe por que foram rápidos no apertar o dedo no gatilho. A maioria
deles tenta, por uma forma de raciocínio, falsa ou lógica, justificar seus atos
antissociais para si mesmos e, consequentemente, sustentam com arrogância que
não deviam estar presos”.
Se Al Capone, Crowley, o “Two Gun”, Dutch Schultz e os homens e mulheres
desesperados que se acham atrás das grades da prisão não se recriminam por
coisa alguma, que diremos acerca das pessoas com as quais vocês e eu
diariamente estamos em contato?
O falecido John Wanamaker confessou certa feita:
“Eu aprendi a trinta anos que é uma loucura a crítica. já não são pequenos os
meus esforços para vencer minhas próprias limitações sem me amofinar com o
fato de que Deus não realizou igualmente a distribuição dos dons de inteligência”.
Wanamaker aprendeu esta lição muito cedo; mas, quanto a mim, errei por este
velho mundo durante um terço de século até que ele mesmo começou a ensinar-
me que, noventa e nove vezes em cem, nenhum homem já se criticou por coisa
alguma, importando quanto possa ele estar errada.
A critica é fútil porque coloca um homem na defensiva, e, usualmente, faz com
que ele se esforce para justificar-se. A crítica é perigosa porque fere o precioso orgulho do indivíduo, alcança o seu senso de importância e gera o ressentimento.
B. F. Skinner, o mundialmente famoso psicólogo, através de seus experimentos
demonstrou que um animal que é recompensado por bom comportamento
aprenderá com maior rapidez e reterá o conteúdo aprendido com muito maior
habilidade que um animal que é castigado por mau comportamento. Estudos
recentes mostram que o mesmo se aplica ao homem. Através da crítica não
operamos mudanças duradouras é amiúde ocorre o ressentimento.
Hans Selye, outro notável psicólogo, afirmou:
“Com a mesma intensidade da sede que nós temos de aprovação, tememos a
condenação”.
George B. Johnston, de Enid, Oklahoma, trabalha como coordenador da
segurança de uma empresa de engenharia. Entre as suas responsabilidades, está
a fiscalização que busca garantir que todos os empregados, ao trabalharem no
campo, usem seus capacetes. Segundo ele, ao deparar com os trabalhadores sem
capacete impunha-lhes sua autoridade ao falar sobre o regulamento e exigia-lhes
que o cumprissem rigorosamente. Como resultado, obtinha obediência imediata,
mas tão logo se afastava os operários retiravam seus capacetes.
Decidiu por isso experimentar uma abordagem diferente.
Na primeira oportunidade em que viu alguns dos trabalhadores infringindo os
regulamentos, perguntou-lhes se o capacete era desconfortável ou se ele não se
ajustava às suas cabeças. Em seguida lembrou-lhes, empregando um tom de voz
agradável, que os capacetes tinham a função de prevenir acidentes e sugeriu que
eles os usassem, para seu próprio bem, durante o período de trabalho. O resultado
foi um aumento da observância do regulamento, sem que surgissem
ressentimentos ou perturbações emocionais.
Milhares de páginas da história estão cheias de exemplos da futilidade da crítica,
exemplos que, poderão ser encontrados facilmente. Tome, para ilustração, a
famosa polêmica entre Theodore Roosevelt e o Presidente Taft, polêmica que
dividiu o Partido Republicano, colocou Woodrow Wilson na Casa Branca, traçou
notáveis e luminosas linhas através da Grande Guerra e alterou o curso da
história. Façamos uma revisão dos fatos, rapidamente: Quando Theodore
Roosevelt deixou a Casa Branca, em 1908, fez Taft seu sucessor, e seguiu para a
África à caça de leões.
Ao regressar, Roosevelt explodiu. Denunciou Taft pelo seu conservantismo,
.formou o partido Bull Moose e tudo mais para demolir o Grand Old Party (o
Partido Republicano). Na eleição que se seguiu, William Howard Taft e o Partido
Republicano contaram apenas com dois Estados: Vermont e Utah. Foi a mais
estrondosa derrota que o velho e tradicional partido já sofrera. Theodore
Roosevelt acusava Taft; mas teria este recriminado?
Naturalmente que não. Com lágrimas nos olhos, Taft dissera:
“Não vejo como podia ter feito as coisas de outro modo”.
Quem merecia a censura? Roosevelt ou Taft? Francamente, não sei, nem me
interessa saber. Quero apenas mostrar que toda a crítica de Theodore Roosevelt
não convenceu Taft de que ele estava errado. Apenas fez com que procurasse
justificar-se, reiterando com lágrimas nos olhos: “Não vejo como podia ter feito
as coisas de outro modo”.
Veja agora o exemplo do escândalo da “Teapot Dome Oil”. Lembra-se dele?
Manteve os jornais vibrando de indignação durante os primeiros anos 20.
Arruinou a nação! Na memória dos vivos nada parecido com tal escândalo havia
acontecido antes na vida pública americana. Eis os fatos concretos do escândalo:
Albert B. Fall, secretário do Interior, no governo Harding, estava a braços com o
arrendamento das reservas de petróleo em Elk Hill e Teapot Dome, reservas de
petróleo que tinham sido postas de lado para o uso futuro da Marinha. Abriu o
secretário do Estado, Fall, uma concorrência pública?
Não, senhor. Entregou o nababesco e rendoso contrato diretamente ao seu amigo
Edward L. Doheny. E que fez este? Concedeu a Fall o que ele, com satisfação,
chamou de “empréstimo”, a quantia de cem mil dólares. Então, de um modo
altamente inteligente, o secretário Fall ordenou à Marinha dos Estados Unidos
naquele distrito que obrigasse à retirada os competidores que com seus postos
adjacentes estavam solapando o petróleo da Armada em ElkHill.
Os competidores, obrigados a retirar-se de seus terrenos, à força de armas e
baionetas, dirigiram-se imediatamente à corte e divulgaram o escândalo dos cem
mil dólares da concessão das reservas de petróleo da Teapot Dome.
A podridão descoberta foi tamanha que arruinou a administração Harding,
encheu de náuseas toda a nação, ameaçou de dissolução o Partido Republicano e
colocou Albert B. Fall atrás das grades da prisão.
Fall foi condenado, condenado como poucos homens na vida pública já o foram.
Ter-se-ia ele arrependido? Nunca!
Anos mais tarde, Herbert Hoover num discurso público declarou que a morte do
presidente Harding tinha sido motivada pelo traumatismo moral que lhe causara
a traição de um amigo.
Quando a Sra. Fall ouviu isso, saltou da cadeira, chorou, brandiu os punhos e
exclamou: “O quê? Harding foi traído por Fall? Não! Meu marido jamais traiu
alguém. Esta casa cheia de ouro não faria meu marido cometer um erro. Ele,
sim, é que foi traído, levado ao calvário e crucificado”.
Eis aí a natureza humana em ação, o culpado culpando todos, menos a si mesmo.
Somos todos assim. Por isso quando você e eu tivermos de criticar alguém
amanhã, devemos lembrar-nos de Al Capone, “Two Gun” e Albert Fali.
Compreendamos que as criticas são como os pombos. Sempre voltam aos
pombais. Tenhamos em mente que a pessoa a quem vamos criticar e condenar,
provavelmente se justificará e, por seu turno, nos condenará; ou como disse o
nobre Taft:
“Não vejo como podia ter feito as coisas de outro modo”.
Na manhã de um sábado, 15 de abril de 1865, agonizava Abraham Lincoln num
quarto de modesta casa de cômodos que ficava em frente ao Teatro Ford, onde
John Wilkes Booth o alvejara.
O enorme corpo de Lincoln estava estendido diagonalmente em uma
desconjuntada cama, muito pequena para ele.
Uma reprodução barata do famoso quadro de Rosa Bonheur, The Horse Fair,
estava à cabeceira da cama e a pálida chama amarela do bico de gás iluminava
veladamente o ambiente.
Quando Lincoln agonizava, disse o Sr. Stanton, ministro da Guerra: ‘aqui está o
mais perfeito governante que o mundo já viu .
Qual o segredo de Lincoln no seu êxito no trato com os homens? Estudei a vida de
Abraham Lincoln durante dez anos, dediquei três anos inteiros escrevendo e
reescrevendo um livro intitulado: Lincoln, esse desconhecido.
Creio ser este o mais detalhado e exaustivo estudo sobre a personalidade de
Lincoln sua vida no lar que um ser humano podia realizar. Fiz um estudo especial
do método de Lincoln lidar com os homens.
Gostava ele da crítica? Oh, sim. Quando ainda jovem, no Pigeon CreekValley, de
Indiana, não somente criticou mas escreveu cartas e poemas ridicularizando e
jogando essas cartas nas estradas, em pontos onde tinha a certeza de que seriam
encontradas.
Uma delas provocou ressentimentos que duraram toda a vida. Mesmo depois de
estar advogando em Springfield, Illinois, Lincoln atacava seus adversários
abertamente em cartas que publicava nos jornais. Fez isso por muitas vezes.
No outono de 1842, ridicularizou um belicoso politico irlandês chamado James
Shields. Lincoln satirizou-o numa carta anônima publicada no Springf ield
Journal. A cidade riu às gargalhadas. Shields, sensível e orgulhoso, foi presa fácil
da indignação.
Descobriu o autor da carta, montou no seu cavalo, procurou Lincoln e desafiou-o
para um duelo. Lincoln não queria lutar. Era contra os duelos, mas não pôde
recusar, pois se tratava de sua honra. Coube a Lincoln escolher a arma.
Confiando na extensão de seus braços, escolheu as compridas espadas de
cavalaria; tomou lições no manejo da mesma com um graduado de West Point.
No dia designado, ele e Shields se encontraram num trecho de areia do rio
Mississipi, dispostos a lutar até a morte; no último minuto, porém, os padrinhos
resolveram suspender o duelo.
Este foi o mais triste incidente pessoal da vida de Lincoln. Foi, porém, para ele,
uma valiosa lição na arte de tratar as pessoas.
Nunca mais escreveu uma carta insultuosa. Nunca mais ridicularizou ninguém.
E, desde então, jamais criticou qualquer pessoa por coisa alguma.
De tempos em tempos, durante a Guerra Civil, Lincoln colocou sucessivamente, à testa do exército do Potomac, vários generais, e todos eles, McClellan, Pope,
Burnside, Hooker, Meade, erraram tragicamente, levando Lincoln a andar de um
lado para outro em desespero. Metade da nação condenava rancorosamente os
incompetentes generais, mas Lincoln, “com malignidade para nenhum e com
caridade para todos”, manteve-se em paz. Uma das máximas que sempre
repetia era:
“Não julgueis, se não quiserdes ser julgados”.
E, quando a Sra. Lincoln e outros falavam asperamente dos sulistas, Lincoln
replicava: “Não os critiquem; são eles exatamente o que nós seríamos sob
idênticas condições”.
Contudo, se algum homem teve oportunidade para criticar, certamente este
homem foi Lincoln. Tomemos apenas um exemplo:
A batalha de Gettysburg foi travada durante os três primeiros dias de julho de
1863. Durante a noite de 4 de julho, Lee começou a retirar-se para o sul,
enquanto tempestades de chuva inundavam todo o país. Quando Lee, com o seu
exército vencido, chegou ao Potomac, deparou com um rio transbordante,
impossível de ser transposto, e o exército vitorioso da União à retaguarda. Lee
caíra numa armadilha. Não podia escapar. Lincoln viu isso. Era uma
oportunidade única, concedida pelos céus, a oportunidade para capturar o
exército de Lee e pôr, imediatamente, um ponto final na guerra. Assim,
empolgado pela realização da grande esperança, Lincoln ordenou a Meade
atacasse Lee sem demora, sem mesmo ouvir um conselho de guerra para tomar
tal decisão.
Lincoln mandou suas ordens pelo telégrafo e um mensageiro especial foi enviado
a Meade, pedindo uma ação imediata.
E que fez o general Meade? Justamente o oposto. Convocou um conselho de
guerra, em flagrante violação às ordens de Lincoln. Hesitou Retardou. Telegrafou
toda espécie de desculpas. Recusou atender à ordem de atacar Lee. Finalmente,
as águas baixaram e Lee escapou pelo Potom, com suas forças. Lincoln ficou
furioso. “Que significa isso?”, gritou para seu filho Robert. “Grande Deus! Que
significa isso? Tivemos os inimigos em nossas mãos, apenas precisávamos
apertar o cerco para que se rendessem; além disso, nada do que eu disse ou fiz
pôde fazer o exército movimentar-se. Em tais condições qualquer general teria
derrotado Lee. Se eu tivesse ido lá, eu mesmo o surraria.”
Tomado do maior desapontamento, Lincoln sentou-se e escreveu a Meade.
Convém notar que, neste período de sua vida, Lincoln já era extremamente
prudente e muito comedido na sua linguagem. Desse modo, a carta que se segue,
escrita por Lincoln, em 1863, era uma evidência de sua mais severa censura.
“Meu caro general”:
“Não posso acreditar que o senhor haja compreendido a extensão do infortúnio
no tocante a fuga de Lee. Ele esteve nas suas mãos e se tivesse apertado o cerco,com os seus últimos sucessos, o de agora representaria o fim da guerra. Mas,
depois do que sucedeu, a guerra prolongar-se-á indefinidamente. Se o senhor não
pôde atacar Lee, segunda-feira passada, com certeza de vitória, como poderá
fazê-lo no sul do rio, quando poderá contar com muito menor força, apenas dois
terços da tropa que estava em suas mãos? Nada justifica tal esperança e eu não
acredito que o senhor possa agir com eficiência. Sua oportunidade áurea já
passou, e eu me confesso verdadeiramente sentido com isso”.
Que supõe o leitor haver feito Meade ao ler tal carta?
Meade nunca viu esta missiva. Lincoln nunca a enviou ao seu destinatário. Ela foi
encontrada entre os papéis de Lincoln, depois de sua morte.
Minha opinião e que é, apenas uma opinião, depois de escrever a carta, Lincoln
olhou para fora das janelas e disse para si mesmo: “Espere um minuto. Talvez eu
não deva ser tão temerário. É muito fácil para mim, comandante, sentado aqui
na Casa Branca, dar ordens a Meade para atacar; mas se eu estivesse lá em
Gettysburg, e tivesse visto tanto sangue como Meade viu durante a última
semana, e os meus ouvidos estivessem ainda cheios de gritos e gemidos dos
feridos e dos moribundos, talvez eu não sentisse tanta ânsia para atacar. Se eu
tivesse o temperamento tímido de Meade, talvez fizesse justamente o que ele fez.
De qualquer modo, a água já está embaixo da ponte. Se eu mando esta carta, ela
aliviará meus sentimentos, mas fará também com que Meade procure justificar-
se. Fará Meade condenar-me. A carta provocará ressentimentos incompatíveis
com a sua qualidade de comandante e poderá forçá-lo a renunciar ao seu posto
no exército”.
Assim, como eu já disse, Lincoln atirou a carta para o lado, porque aprendera,
numa dura experiência, que as críticas violentas e as repreensões redundam
sempre em futilidade. Theodore Roosevelt disse que quando, como presidente, se
defrontava com certos problemas complexos, costumava virar-se para trás e
olhar para um grande retrato de Lincoln que fica atrás da cadeira presidencial na
Casa Branca e perguntar a si mesmo:
“Que faria Lincoln se estivesse em meu lugar?”
Como resolveria ele este problema?” A próxima vez que estivermos tentados a
“passar um sabão” em alguém, façamos o seguinte: tiremos uma nota de cinco
dólares do bolso e perguntemos, olhando a efígie de Lincoln impressa na cédula:
“Como Lincoln resolveria este problema? Que faria ele em meu lugar?”
Mark Twain às vezes perdia a calma e escrevia cartas cujo conteúdo chegava a
deixar o papel enrubescido. Para dar um exemplo, certa vez ele escreveu a um
homem que o provocara:
“Está me solicitando os seus próprios funerais. Eu os providenciarei assim que
você voltar a abrir a boca contra mim”.
Em outra ocasião escreveu a um editor a respeito das tentativas de um revisor de
“melhorar minha ortografia e pontuação”. Ele determinou o seguinte:“Doravante encerre essa questão seguindo à risca meus manuscritos e certifique-
se de que o revisor conservará as sugestões dele na papa do cérebro deteriorado
que só a ele pertence”.
Mark Twain sentia-se aliviado depois de, tais provocações por carta. As cartas
permitiam-lhe desabafar-se e, ademais, não causavam dano real algum, uma
vez que a esposa de Mark, secretamente, as retirava dentre a correspondência
postal. Assim, jamais chegaram a ser enviadas.
Você conhece alguém a quem deseja modificar, aconselhar e melhorar?
Excelente! Isso é muito bom. Estou inteiramente a favor. Mas por que não
começar por si mesmo? De um ponto de vista eminentemente egoísta é muito
mais proveitoso do que experimentar melhorar os outros, sim, e um pouco menos
perigoso.
“Não se queixe da neve no telhado da casa do seu vizinho, quando a soleira da
sua porta não está limpa”, disse Confúcio.
Quando eu ainda era um jovem e procurava vivamente impressionar as pessoas,
escrevi uma carta idiota a Richard Harding Davis, um autor que se destacava
então no horizonte literário dos Estados Unidos. Estava preparando um artigo de
revista sobre escritores, e pedi a Davis que me dissesse alguma coisa sobre o seu
método de trabalho. Algumas semanas antes havia recebido uma carta de
alguém com a seguinte nota ao pé da folha: “Ditada, mas não lida”. Isso me
causou profunda impressão. Pareceu-me que o escritor devia ser muito grande,
muito ocupado e muito importante; e como eu desejava ardentemente causar
qualquer impressão a Richard Harding Davis, terminei minha pequena carta com
as palavras:
“Ditada, mas não lida”.
Harding não se deu ao trabalho de responder à minha carta. Devolveu-me
simplesmente com as seguintes palavras escritas de um lado a outro do papel na
parte inferior:
‘sua falta de educação é suplantada pela sua falta de educação”.
Na verdade, eu estava errado, e talvez merecesse sua observação. Mas, ser
humano, ressenti-me com a resposta. Senti tanto que ao ler a notícia da morte de
Richard Harding Davis, dez anos mais tarde, o único pensamento que me veio à
mente, envergonho-me até de confessá-lo, foi a ofensa que ele me fizera com a
sua observação. Se você e eu quisermos evitar amanhã um ressentimento que
poderá prolongar-se por décadas e durar até a morte, sejamos i indulgentes e não
critiquemos pois assunto nenhum justifica a crítica.
Quando tratarmos com pessoas, lembremo-nos sempre de que não estamos
tratando com criaturas de lógica. Estamos tratando com criaturas emotivas,
criaturas suscetíveis às observações norteadas pelo orgulho e pela vaidade.
A crítica mordaz fez com que o sensível Thomas Hardy, um dos mais finos
romancistas que já apareceram na literatura inglesa, abandonasse para sempre os trabalhos de ficção.
A crítica levou Thomas Chatterton, o poeta britânico, ao suicídio.
Benjamin Franklin, um tanto descontrolado na sua juventude, tornou-se tão
diplomata, tão hábil no lidar com as pessoas, que foi nomeado embaixador
americano na França. O segredo do seu sucesso?
“Não falarei mal de nenhum homem”, disse ele, “... e falarei tudo de bom que
souber de cada pessoa.”
Qualquer idiota pode criticar, condenar e queixar-se, e a maioria dos idiotas faz
isso.
Mas é preciso ter caráter e autocontrole para ser complacente e saber perdoar.
“Um grande homem demonstra sua grandeza”, na opinião de Carlyle, “pelo
modo como trata os pequenos.”
Bob Hoover, famoso piloto de teste, bastante solicitado para realizar acrobacias
aéreas, depois de uma dessas demonstrações em San Diego estava voltando a
casa em Los Angeles. A 300 pés de altura, como descreveu a revista
especializada Flight Operations, ambos os motores da aeronave repentinamente
pararam. Através de uma hábil manobra, ele conseguiu aterrissar e, embora
ninguém se tenha ferido, o avião ficou bastante danificado.
Após proceder à aterrissagem de emergência, a primeira providência de Hoover
foi examinar o tanque do avião. Tal como suspeitara, o aparelho da Segunda
Grande Guerra Mundial tinha sido abastecido com combustível de jato, não com
gasolina.
Voltando ao aeroporto, pediu para ver o mecânico que tinha abastecido o avião.
O rapaz se mostrou profundamente abalado com o erro que havia cometido.
Quando Hoover aproximou-se dele, lágrimas escorriam-lhe pelas faces.
Acabara de causar a perda de um avião extremamente dispendioso e por pouco
não causou a perda de três vidas.
Era de se imaginar a fúria de Hoover, as palavras cruéis que esse piloto
meticuloso e orgulhoso de si desfecharia contra o rapaz. Mas Hoover não
repreendeu o mecânico; ao contrário, abraçou-o e disse: “Para lhe provar que
tenho certeza de que jamais voltará a fazer o que fez, quero que você amanhã
abasteça o meu F-51”.
Comumente os pais se vêm tentados a criticar seus filhos.
Talvez o leitor espere que eu diga: “não o façam”. Mas direi simplesmente: ‘antes
de criticá-los, leiam um dos clássicos do jornalismo norte-americano, Father
Forgets (O pai perdoa).” O texto apareceu a primeira vez como editorial no
People’s Home Journal. Vamos reproduzi-lo aqui, com a permissão do autor, tal
como foi condensado pelo Reader’s Digest. “O pai perdoa” é um daqueles
escritos que, criados num momento de autêntico sentimento, toca a sensibilidade
de alguns leitores e continua a repercutir dentro deles, a ponto de se tornar uma
leitura favorita. Desde sua aparição, segundo o autor, W. Livingston Larned, foià testa do exército do Potomac, vários generais, e todos eles, McClellan, Pope,
Burnside, Hooker, Meade, erraram tragicamente, levando Lincoln a andar de um
lado para outro em desespero. Metade da nação condenava rancorosamente os
incompetentes generais, mas Lincoln, “com malignidade para nenhum e com
caridade para todos”, manteve-se em paz. Uma das máximas que sempre
repetia era:
“Não julgueis, se não quiserdes ser julgados”.
E, quando a Sra. Lincoln e outros falavam asperamente dos sulistas, Lincoln
replicava: “Não os critiquem; são eles exatamente o que nós seríamos sob
idênticas condições”.
Contudo, se algum homem teve oportunidade para criticar, certamente este
homem foi Lincoln. Tomemos apenas um exemplo:
A batalha de Gettysburg foi travada durante os três primeiros dias de julho de
1863. Durante a noite de 4 de julho, Lee começou a retirar-se para o sul,
enquanto tempestades de chuva inundavam todo o país. Quando Lee, com o seu
exército vencido, chegou ao Potomac, deparou com um rio transbordante,
impossível de ser transposto, e o exército vitorioso da União à retaguarda. Lee
caíra numa armadilha. Não podia escapar. Lincoln viu isso. Era uma
oportunidade única, concedida pelos céus, a oportunidade para capturar o
exército de Lee e pôr, imediatamente, um ponto final na guerra. Assim,
empolgado pela realização da grande esperança, Lincoln ordenou a Meade
atacasse Lee sem demora, sem mesmo ouvir um conselho de guerra para tomar
tal decisão.
Lincoln mandou suas ordens pelo telégrafo e um mensageiro especial foi enviado
a Meade, pedindo uma ação imediata.
E que fez o general Meade? Justamente o oposto. Convocou um conselho de
guerra, em flagrante violação às ordens de Lincoln. Hesitou Retardou. Telegrafou
toda espécie de desculpas. Recusou atender à ordem de atacar Lee. Finalmente,
as águas baixaram e Lee escapou pelo Potom, com suas forças. Lincoln ficou
furioso. “Que significa isso?”, gritou para seu filho Robert. “Grande Deus! Que
significa isso? Tivemos os inimigos em nossas mãos, apenas precisávamos
apertar o cerco para que se rendessem; além disso, nada do que eu disse ou fiz
pôde fazer o exército movimentar-se. Em tais condições qualquer general teria
derrotado Lee. Se eu tivesse ido lá, eu mesmo o surraria.”
Tomado do maior desapontamento, Lincoln sentou-se e escreveu a Meade.
Convém notar que, neste período de sua vida, Lincoln já era extremamente
prudente e muito comedido na sua linguagem. Desse modo, a carta que se segue,
escrita por Lincoln, em 1863, era uma evidência de sua mais severa censura.
“Meu caro general”:
“Não posso acreditar que o senhor haja compreendido a extensão do infortúnio
no tocante a fuga de Lee. Ele esteve nas suas mãos e se tivesse apertado o cerco, com os seus últimos sucessos, o de agora representaria o fim da guerra. Mas,
depois do que sucedeu, a guerra prolongar-se-á indefinidamente. Se o senhor não
pôde atacar Lee, segunda-feira passada, com certeza de vitória, como poderá
fazê-lo no sul do rio, quando poderá contar com muito menor força, apenas dois
terços da tropa que estava em suas mãos? Nada justifica tal esperança e eu não
acredito que o senhor possa agir com eficiência. Sua oportunidade áurea já
passou, e eu me confesso verdadeiramente sentido com isso”.
Que supõe o leitor haver feito Meade ao ler tal carta?
Meade nunca viu esta missiva. Lincoln nunca a enviou ao seu destinatário. Ela foi
encontrada entre os papéis de Lincoln, depois de sua morte.
Minha opinião e que é, apenas uma opinião, depois de escrever a carta, Lincoln
olhou para fora das janelas e disse para si mesmo: “Espere um minuto. Talvez eu
não deva ser tão temerário. É muito fácil para mim, comandante, sentado aqui
na Casa Branca, dar ordens a Meade para atacar; mas se eu estivesse lá em
Gettysburg, e tivesse visto tanto sangue como Meade viu durante a última
semana, e os meus ouvidos estivessem ainda cheios de gritos e gemidos dos
feridos e dos moribundos, talvez eu não sentisse tanta ânsia para atacar. Se eu
tivesse o temperamento tímido de Meade, talvez fizesse justamente o que ele fez.
De qualquer modo, a água já está embaixo da ponte. Se eu mando esta carta, ela
aliviará meus sentimentos, mas fará também com que Meade procure justificar-
se. Fará Meade condenar-me. A carta provocará ressentimentos incompatíveis
com a sua qualidade de comandante e poderá forçá-lo a renunciar ao seu posto
no exército”.
Assim, como eu já disse, Lincoln atirou a carta para o lado, porque aprendera,
numa dura experiência, que as críticas violentas e as repreensões redundam
sempre em futilidade. Theodore Roosevelt disse que quando, como presidente, se
defrontava com certos problemas complexos, costumava virar-se para trás e
olhar para um grande retrato de Lincoln que fica atrás da cadeira presidencial na
Casa Branca e perguntar a si mesmo:
“Que faria Lincoln se estivesse em meu lugar?”
Como resolveria ele este problema?” A próxima vez que estivermos tentados a
“passar um sabão” em alguém, façamos o seguinte: tiremos uma nota de cinco
dólares do bolso e perguntemos, olhando a efígie de Lincoln impressa na cédula:
“Como Lincoln resolveria este problema? Que faria ele em meu lugar?”
Mark Twain às vezes perdia a calma e escrevia cartas cujo conteúdo chegava a
deixar o papel enrubescido. Para dar um exemplo, certa vez ele escreveu a um
homem que o provocara:
“Está me solicitando os seus próprios funerais. Eu os providenciarei assim que
você voltar a abrir a boca contra mim”.
Em outra ocasião escreveu a um editor a respeito das tentativas de um revisor de
“melhorar minha ortografia e pontuação”. Ele determinou o seguinte:“Doravante encerre essa questão seguindo à risca meus manuscritos e certifique-
se de que o revisor conservará as sugestões dele na papa do cérebro deteriorado
que só a ele pertence”.
Mark Twain sentia-se aliviado depois de, tais provocações por carta. As cartas
permitiam-lhe desabafar-se e, ademais, não causavam dano real algum, uma
vez que a esposa de Mark, secretamente, as retirava dentre a correspondência
postal. Assim, jamais chegaram a ser enviadas.
Você conhece alguém a quem deseja modificar, aconselhar e melhorar?
Excelente! Isso é muito bom. Estou inteiramente a favor. Mas por que não
começar por si mesmo? De um ponto de vista eminentemente egoísta é muito
mais proveitoso do que experimentar melhorar os outros, sim, e um pouco menos
perigoso.
“Não se queixe da neve no telhado da casa do seu vizinho, quando a soleira da
sua porta não está limpa”, disse Confúcio.
Quando eu ainda era um jovem e procurava vivamente impressionar as pessoas,
escrevi uma carta idiota a Richard Harding Davis, um autor que se destacava
então no horizonte literário dos Estados Unidos. Estava preparando um artigo de
revista sobre escritores, e pedi a Davis que me dissesse alguma coisa sobre o seu
método de trabalho. Algumas semanas antes havia recebido uma carta de
alguém com a seguinte nota ao pé da folha: “Ditada, mas não lida”. Isso me
causou profunda impressão. Pareceu-me que o escritor devia ser muito grande,
muito ocupado e muito importante; e como eu desejava ardentemente causar
qualquer impressão a Richard Harding Davis, terminei minha pequena carta com
as palavras:
“Ditada, mas não lida”.
Harding não se deu ao trabalho de responder à minha carta. Devolveu-me
simplesmente com as seguintes palavras escritas de um lado a outro do papel na
parte inferior:
‘sua falta de educação é suplantada pela sua falta de educação”.
Na verdade, eu estava errado, e talvez merecesse sua observação. Mas, ser
humano, ressenti-me com a resposta. Senti tanto que ao ler a notícia da morte de
Richard Harding Davis, dez anos mais tarde, o único pensamento que me veio à
mente, envergonho-me até de confessá-lo, foi a ofensa que ele me fizera com a
sua observação. Se você e eu quisermos evitar amanhã um ressentimento que
poderá prolongar-se por décadas e durar até a morte, sejamos i indulgentes e não
critiquemos pois assunto nenhum justifica a crítica.
Quando tratarmos com pessoas, lembremo-nos sempre de que não estamos
tratando com criaturas de lógica. Estamos tratando com criaturas emotivas,
criaturas suscetíveis às observações norteadas pelo orgulho e pela vaidade.
A crítica mordaz fez com que o sensível Thomas Hardy, um dos mais finos
romancistas que já apareceram na literatura inglesa, abandonasse para sempre os trabalhos de ficção.
A crítica levou Thomas Chatterton, o poeta britânico, ao suicídio.
Benjamin Franklin, um tanto descontrolado na sua juventude, tornou-se tão
diplomata, tão hábil no lidar com as pessoas, que foi nomeado embaixador
americano na França. O segredo do seu sucesso?
“Não falarei mal de nenhum homem”, disse ele, “... e falarei tudo de bom que
souber de cada pessoa.”
Qualquer idiota pode criticar, condenar e queixar-se, e a maioria dos idiotas faz
isso.
Mas é preciso ter caráter e autocontrole para ser complacente e saber perdoar.
“Um grande homem demonstra sua grandeza”, na opinião de Carlyle, “pelo
modo como trata os pequenos.”
Bob Hoover, famoso piloto de teste, bastante solicitado para realizar acrobacias
aéreas, depois de uma dessas demonstrações em San Diego estava voltando a
casa em Los Angeles. A 300 pés de altura, como descreveu a revista
especializada Flight Operations, ambos os motores da aeronave repentinamente
pararam. Através de uma hábil manobra, ele conseguiu aterrissar e, embora
ninguém se tenha ferido, o avião ficou bastante danificado.
Após proceder à aterrissagem de emergência, a primeira providência de Hoover
foi examinar o tanque do avião. Tal como suspeitara, o aparelho da Segunda
Grande Guerra Mundial tinha sido abastecido com combustível de jato, não com
gasolina.
Voltando ao aeroporto, pediu para ver o mecânico que tinha abastecido o avião.
O rapaz se mostrou profundamente abalado com o erro que havia cometido.
Quando Hoover aproximou-se dele, lágrimas escorriam-lhe pelas faces.
Acabara de causar a perda de um avião extremamente dispendioso e por pouco
não causou a perda de três vidas.
Era de se imaginar a fúria de Hoover, as palavras cruéis que esse piloto
meticuloso e orgulhoso de si desfecharia contra o rapaz. Mas Hoover não
repreendeu o mecânico; ao contrário, abraçou-o e disse: “Para lhe provar que
tenho certeza de que jamais voltará a fazer o que fez, quero que você amanhã
abasteça o meu F-51”.
Comumente os pais se vêm tentados a criticar seus filhos.
Talvez o leitor espere que eu diga: “não o façam”. Mas direi simplesmente: ‘antes
de criticá-los, leiam um dos clássicos do jornalismo norte-americano, Father
Forgets (O pai perdoa).” O texto apareceu a primeira vez como editorial no
People’s Home Journal. Vamos reproduzi-lo aqui, com a permissão do autor, tal
como foi condensado pelo Reader’s Digest. “O pai perdoa” é um daqueles
escritos que, criados num momento de autêntico sentimento, toca a sensibilidade
de alguns leitores e continua a repercutir dentro deles, a ponto de se tornar uma
leitura favorita. Desde sua aparição, segundo o autor, W. Livingston Larned, foi reproduzido em centenas de revistas, publicações empresariais e jornais de todo
o país. Foi publicado em vários idiomas quase que na mesma proporção.
Autorizei sua divulgação a milhares de pessoas que desejavam lê-lo em escolas,
igrejas e conferências. Esteve “no ar” em incontáveis oportunidades e
programas. Curiosamente, também foi utilizado por periódicos universitários
além de revistas colegiais. Por vezes, um pequeno artigo, misteriosamente,
parece “ligar” as pessoas. E este, sem dúvida, o conseguiu.
O PAI PERDOA
W. Livingston, Larned
Escute, filho: enquanto falo isso, você está deitado, dormindo, uma mãozinha
enfiada debaixo do seu rosto, os cachinhos louros molhados de suor grudados na
fronte. Entrei sozinho e sorrateiramente no seu quarto.
Há poucos minutos atrás, enquanto eu estava sentado lendo meu jornal na
biblioteca, fui assaltado por uma onda sufocante de remorso. E, sentindo-me
culpado, vim para ficar ao lado de sua cama.
Andei pensando em algumas coisas, filho: tenho sido intransigente com você. Na
hora em que se trocava para ir à escola, ralhei com você por não enxugar direito
o rosto com a toalha. Chamei-lhe a atenção por não ter limpado os sapatos. Gritei
furioso com você por ter atirado alguns de seus pertences no chão.
Durante o café da manhã, também impliquei com algumas coisas. Você
derramou o café fora da xícara. Não mastigou a comida. Pôs o cotovelo sobre a
mesa. Passou manteiga demais no pão. E quando começou a brincar e eu estava
saindo para pegar o trem, você se virou, abanou a mão e disse:
“Chau, papai!” e, franzindo o cenho, em resposta lhe disse:
“Endireite esses ombros!”
De tardezinha, tudo recomeçou. Voltei e quando cheguei perto de casa vi-o
ajoelhado, jogando bolinha de gude. Suas meias estavam rasgadas. Humilhei-o
diante de seus amiguinhos fazendo-o entrar na minha frente. As meias são caras,
se você as comprasse tomaria mais cuidado com elas! Imagine isso, filho, dito
por um pai!
Mais tarde, quando eu lia na biblioteca, lembra-se de como me procurou,
timidamente, uma espécie de mágoa impressa nos seus olhos? Quando afastei
meu olhar do jornal, irritado com interrupção, você parou à porta:
“O que é que você quer?”, perguntei implacável.
Você não disse nada, mas saiu correndo num ímpeto na minha direção, passou
seus braços em torno do meu pescoço e me beijou; seus braços foram se
apertando com uma afeição pura que Deus fazia crescer em seu coração e que
nenhuma indiferença conseguiria extirpar. A seguir retirou-se, subindo correndo
os degraus da escada.
Bom, meu filho, não passou muito tempo e meus dedos se afrouxaram, o jornal
escorregou por entre eles, e um medo terrível e nauseante tomou conta de mim.
Que estava o hábito fazendo de mim? O hábito de ficar achando erros, de fazer
reprimendas, era dessa maneira que eu o vinha recompensando por ser uma
criança. Não que não o amasse; o fato é que eu esperava demais da juventude.
Eu o avaliava pelos padrões da minha própria vida.
E havia tanto de bom, de belo e de verdadeiro no seu caráter. Seu coraçãozinho
era tão grande quanto o sol que subia por detrás das colinas. E isto eu percebi pelo
seu gesto espontâneo de correr e de dar-me um beijo de boa noite. Nada mais
me importa nesta noite, filho. Entrei na penumbra do seu quarto e ajoelhei-me ao
lado de sua cama, envergonhado! É uma expiação inútil; sei que, se você
estivesse acordado, não compreenderia essas coisas. Mas amanhã eu serei um
papai de verdade! Serei seu amigo, sofrerei quando você sofrer, rirei quando
você rir. Morderei minha língua quando palavras impacientes quiserem sair pela
minha boca. Eu irei dizer e repetir, como se fosse um ritual:
“Ele é apenas um menino, um menininho!”
Receio que o tenha visto até aqui como um homem feito.
Mas, olhando-o agora, filho, encolhido e amedrontado no seu ninho, certifico-me
de que é um bebê.
Ainda ontem esteve nos braços de sua mãe, a cabeça deitada no ombro dela.
Exigi muito de você, exigi muito.
Em lugar de condenar os outros, procuremos compreendê-los. Procuremos
descobrir por que fazem o que fazem. Essa atitude é muito mais benéfica e
intrigante do que criticar; e gera simpatia, tolerância e bondade. “Conhecer tudo
é perdoar tudo”.
Como disse o dr. Johnson: “O próprio Deus, senhor, não se propõe julgar o
homem até o final de seus dias”.
Por que o faríamos, você e eu?
PRINCIPIO 1
Não critique, não condene, não se queixe.

Como fazer amigos e influenciar pessoas Onde histórias criam vida. Descubra agora